Economia

Plano Real, 30 anos: Elena Landau e como a inflação pode derrubar um governo

A economista, que foi diretora do BNDES no governo FHC, afirmou que o maior legado do Real é a ideia de que a leniência no combate à inflação pode custar o mandato de um presidente da República

Elena Landau, em entrevista exclusiva para a EXAME: legado do Plano Real é a noção de que o descontrole dos preços tem custo político alto (Leandro Fonseca/Exame)

Elena Landau, em entrevista exclusiva para a EXAME: legado do Plano Real é a noção de que o descontrole dos preços tem custo político alto (Leandro Fonseca/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 26 de junho de 2024 às 12h26.

Última atualização em 26 de junho de 2024 às 15h11.

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O grande resultado prático do Plano Real, que comemora 30 anos em 1º de julho, é a conquista da estabilidade de preços. E o presidente que flertar com a leniência no combate à inflação pode perder o mandato. As reflexões são da economista Elena Landau, cria do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e ex-diretora de privatizações do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo Fernando Henrique Cardoso.

“Ficou claro para todo mundo, hoje em dia, que a inflação derruba um governo. Isso é o grande resultado do Plano Real", afirmou Landau, em entrevista exclusiva à EXAME. "O combate à inflação e a estabilidade de preços são coisas que a sociedade não vai mais abrir mão. Isso explica tudo em relação aos 30 anos de sucesso do Plano Real."

Apesar dos avanços no processo de controle de preços e no desenvolvimento econômico do país, o Brasil ainda possui grandes desafios, avalia. Entre eles, a economista apontou a necessidade de aumentar o nível de produtividade e se livrar da armadilha da renda média e baixa.

Produtividade e mudanças climáticas, os desafios de hoje do país

Segundo ela, essas agendas têm dificuldade de avançar no Brasil diante da dominância fiscal no debate das políticas públicas. A dominância fiscal ocorre quando o Banco Central perde a capacidade de usar a política monetária para controlar a inflação, pois a alta dos juros eleva a dívida, desvaloriza o câmbio e deteriora as expectativas inflacionárias.

Enquanto os governantes e parlamentares ainda discutem, prioritariamente, como ajustar as contas públicas, não há espaço para políticas públicas com foco em outas reformas microeconômicas.

“O Brasil está mais preocupado em sair da armadilha de renda baixa e da renda média. Estamos mais preocupados hoje, e a estabilidade que o Real trouxe permitiu isso, de pensar como o país vai crescer, como o Brasil vai empregar essa quantidade de gente. Por que a produtividade no Brasil não cresce? Porque não se olha para essas discussões. Talvez, porque a gente fique o tempo todo discutindo política fiscal”, disse.

Além do debate macroeconômico, Landau afirmou que, no aniversário de 30 anos de Plano Real, é necessário que o Brasil e o mundo debatam e organizem políticas públicas eficientes para reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Para isso, ela defende um grande programa de transição energética para reduzir a emissões de poluentes.

Plano Real, 30 anos — série documental

Landau foi entrevistada para a série documental "Plano Real, 30 anos", um projeto audiovisual da EXAME que ouviu alguns dos principais economistas, executivos e banqueiros do Brasil.

Entre os entrevistados estão:

  • Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e fundador e chairman da Gávea Investimentos
  • Carlos Vieira, presidente da Caixa
  • Carolina Barros, diretora de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do Banco Central
  • Edmar Bacha, economista e sócio-fundador e diretor da Casa das Garças
  • Elena Landau, ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ex-presidente do Conselho de Administração da Eletrobras
  • Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo
  • Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria
  • Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e conselheiro do Banco Master
  • Jorge Gerdau, empresário e presidente do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC)
  • Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Conselho de Administração do Bradesco
  • Marcelo Noronha, CEO do Bradesco
  • Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda
  • Pedro Parente, ex-ministro da Casa Civil e sócio da eB Capital
  • Persio Arida, ex-presidente do Banco Central e do BNDES
  • Orly Machado, fundador e presidente da C&M Software
  • Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central
  • Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME)
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