DInheiro: segundo economista-chefe do Santander, um dos problemas do Brasil é que sua economia tem feito ajustes de salários reais acima da produtividade desde 2004 (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2013 às 17h56.
São Paulo - A economia brasileira deverá crescer 2,3% neste ano e encerrar 2014 mostrando uma expansão de 1,7%, segundo projeções que o economista-chefe do Banco Santander, Maurício Molan, levou nesta terça-feira, 1, para o 5º Business Round Up - Perspectivas para 2014, evento econômico que a Câmara Americana de Comércio (Amcham) realiza em São Paulo.
A previsão de Molan para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) neste e no próximo ano está embutida num cenário em que o Santander vê o Banco Central (BC) aumentando a taxa básica de juros (Selic), seja pelo pouco espaço para sustentar pressão inflacionária interna, seja pelo novo patamar de cotação de moedas internacionais.
"O BC terá que aumentar juros porque não temos mais gordura para queimar do lado da inflação", disse o chefe do Departamento Econômico do Santander. Além disso, diz Molan, está em curso um realinhamento dos preços dos ativos no mercado internacional na esteira da recuperação americana e global.
"Essa recuperação econômica global vem acompanhada de mudança de preço das moedas. Mas para nós, o melhor dos mundos seria a China continuar crescendo bastante e os Estados Unidos dando estímulos à sua economia", disse Molan. Estes papéis, de acordo com ele, estão sendo trocados, o que leva a um realinhamento das moedas no mundo. Essa nova conjuntura, segundo o economista, exige um ajuste macroeconômico no curto prazo. "Este ajuste terá que ser feito em 2013 e 2014", disse, apontando como focos de ajustes o câmbio e o juro.
Neste cenário, o economista não vê o Brasil perto de uma crise. "A política fiscal está ruim, mas longe de um colapso", disse. Ainda de acordo com o economista do Santander, há espaço para atrair investimentos estrangeiros. Com os ajustes necessários, avalia Molan, a economia brasileira poderá crescer de 3% a 4% nos próximos anos.
Salários
Segundo ele, um dos problemas do Brasil é que a sua economia tem feito ajustes de salários reais acima da produtividade desde 2004. Isso, segundo ele, encarece o produto brasileiro.
"Nossa estimativa é de que desde 2003 nosso custo de trabalho cresceu 63%, em dólar. Nos EUA foi algo entre 10% e 20%", afirmou. "Com isso o Brasil perdeu competitividade, o que também ocorreu nos países europeus", afirmou Molan. Para tentar recuperar a competitividade, o governo lançou mão da elevação dos salários e desvalorização do real.
"O ideal é que a competitividade fosse restaurada por motivos outros que não fossem aumento de salários", explicou o economista. A perda de competitividade do País nos últimos anos, segundo ele, prejudicou a indústria. Ao mesmo tempo em que a renda das famílias cresceu, a das empresas ficou menor. Molan lembra ainda que de 2003 a 2008, o PIB per capta cresceu 4,5% e a renda das famílias também se expandiu a uma taxa de 4,5%. "Em 2008 o PIB per capta desacelerou para 2,7% e a renda das famílias manteve-se nos mesmos 4,5%". "Para manter a renda das famílias, o governo resolveu dar estímulo ao consumo, o que resultou em mais importações. Por isso a frustração com o aumento do consumo", observou Molan. Por isso que o BC se viu obrigado a aumentar juros.