Adnan Demachki: "as reservas do Estado do Pará apresentam um volume superior às de Minas Gerais" (Egberto Nogueira/imafortogaleria)
Reuters
Publicado em 16 de dezembro de 2016 às 10h44.
Rio de Janeiro - Enquanto já vislumbra tomar de Minas Gerais, em alguns anos, o posto secular de principal Estado minerador do país, o Pará se depara com desafios para absorver os efeitos do maior projeto de minério de ferro da história da brasileira Vale, que entra em operação neste mês, em Canãa dos Carajás.
Batizado de Complexo S11D Eliezer Batista, o enorme empreendimento obteve a licença de operação do órgão ambiental federal (Ibama) na semana passada e terá capacidade de produção anual de 90 milhões de toneladas/ano, ou 26 por cento de toda a produção de minério de ferro da Vale no ano passado.
Em entrevista à Reuters, por e-mail, o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia do Pará, Adnan Demachki, destacou a importância do empreendimento, que será inaugurado no final de semana, e a necessidade de o Estado se empenhar para potencializar benefícios e reduzir as possíveis "externalidades negativas".
"Grandes projetos atraem grande contingente de pessoas que, em geral, não são absorvidas pela economia local, aumentando a cultura de riscos sociais e culturais e a pressão por demandas de serviços públicos em nosso território", afirmou Demachki.
A saída, segundo Demachki, será aprofundar medidas que busquem evitar problemas em territórios afetados por grandes empreendimentos, como a parceria que o Estado já tem com a ONU-Habitat, para lidar com impactos como de hidrelétricas, ferrovias, rodovias, portos e minas, principalmente nas regiões de Tapajós e Xingu, na região amazônica.
Além disso, o governo quer buscar verticalizar a produção minerária no Estado, por meio de medidas que possam atrair construção de siderúrgicas e de polos industriais, como forma de internalizar as riquezas extraídas do solo.
Atualmente, quase toda a produção da Vale no Brasil é exportada para outros países, em grande parte para a China.
"A verticalização do setor mineral é fundamental para agregação de valor das commodities e geração de melhores empregos e rendas", afirmou, explicando que essa verticalização é um dos principais pilares do Programa Pará 2030, o planejamento para a economia nos próximos 15 anos.
No ano passado, o Pará respondeu por 30 por cento da produção brasileira de minério de ferro, de 430,836 milhões de toneladas, perdendo apenas para Minas Gerais, que foi responsável por 68 por cento, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Mineração (Sinferbase).
Para 2016, Demachki prevê que o Estado aumente a produção em 15 por cento, ante 2015, para 150 milhões de toneladas.
"Com a entrada e plena capacidade de operação do S11D, que se dará até 2020, teremos aproximadamente uma adição de 90 milhões de toneladas. Vale ressaltar que as reservas do Estado do Pará apresentam um volume superior às de Minas Gerais", disse Demachki, para quem o Pará ultrapassará a produção de Minas.
Os vislumbres do Estado sobre liderar a produção no país podem não estar distantes, uma vez que a Vale tem priorizado suas atividades no Norte do Brasil, onde há plantas mais rentáveis, diante dos baixos preços da commodity no mercado. Enquanto isso, minas de Minas Gerais de minério com menor teor de ferro foram fechadas ou tiveram produção reduzida.
Outro ponto favorável é que o beneficiamento do projeto S11D será feito a seco, evitando a necessidade de captação de água no local e a construção de uma barragem de rejeitos, estrutura que tem sido evitada pela Vale, diante do maior desastre ambiental da história do Brasil, em 2015, com sua joint venture Samarco.
A barragem da mineradora, que também pertence à BHP Billiton, rompeu-se em Mariana (MG), deixando 19 mortos e poluindo o rio Doce, que deságua no mar capixaba.
A tecnologia de separação, adotada a partir da construção de uma peneira específica para o projeto, foi possível graças à alta qualidade do minério do S11D.
A Vale ainda não revelou em detalhes sobre como será o ritmo de aumento da produção do minério do S11D, tendo informado apenas que a capacidade máxima será atingida em quatro anos e irá priorizar a otimização de margens. A primeira venda comercial ocorrerá em janeiro de 2017.
Quando atingir capacidade máxima, o Pará estima que o S11D aumente em 60 milhões de reais a arrecadação por meio da Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários, que neste ano deverá somar 475 milhões de reais.
Além disso, o Pará também terá aumento da arrecadação com a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM).
O minério que será extraído no S11D, após ser beneficiado, será transportado por ferrovia até o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira (TMPM), em São Luís (MA), para que possa ser exportado.
O complexo, segundo a Vale, contou com investimentos totais de 14,3 bilhões de dólares, sendo 6,4 bilhões aplicados na implantação da mina e usina de beneficiamento.
Outros 7,9 bilhões de dólares são referentes à construção de um ramal ferroviário de 101 quilômetros, à expansão da Estrada de Ferro Carajás (EFC) e à ampliação do TMPM.
Segundo Demachki, o novo empreendimento deve gerar 2,6 mil empregos diretos e mais 7 mil indiretos, incluindo as demandas que serão geradas pelo empreendimento em Canaã dos Carajás.