Crédito em alta, economia nem tanto: para os analistas, a proposta do governo apenas aumenta a oferta de crédito e não é suficiente para estimular a demanda (Marcos Santos / USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 29 de janeiro de 2016 às 11h50.
São Paulo - Os economistas avaliam que as medidas de estímulo ao crédito anunciadas pela equipe econômica não devem ter impacto na retomada da economia.
Para os analistas, a proposta do governo apenas aumenta a oferta de crédito e não é suficiente para estimular a demanda.
Ou seja, mesmo com mais recursos disponíveis, o cenário adverso da economia faz com que as pessoas tenham pouca disposição na tomada de empréstimos.
"Esse pacote é de oferta de crédito. É preciso discutir também o lado da demanda", afirma Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
"Num cenário com famílias endividadas, queda dos lucros das empresas não é óbvio que exista demanda por crédito", diz Ribeiro.
Os números do ano passado já apontaram uma desaceleração do crédito. De acordo com o Banco Central, o volume de empréstimos aumentou 6,6% em 2015, em termos nominais, na comparação com o ano.
O crescimento foi baixo quando se leva em conta o resultados passados. Em 2014, por exemplo, a expansão foi de 11,3%. Em 2010, quando a economia brasileira cresceu 7,6%, o avanço foi de 20,6%.
"Tentar liberar crédito em uma economia com crise generalizada de confiança de nada adiantará", afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
"São medidas que reeditam a nova matriz econômica. São do mesmo tipo que foram feitas no primeiro mandato (da presidente Dilma Rousseff) e que já não funcionaram", afirma Vale.
Embora a expansão do crédito tenha desacelerado e o mercado trate o plano com ceticismo, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, já disse que é preciso "levar o cavalo à água para ver se ele quer bebê-la" em referência a possível fraca demanda pelo crédito.
Mudança
Por ora, na avaliação dos analistas, a retomada da economia brasileira só ocorreria com o anúncio de mudanças mais profundas.
"Da mesma forma que o estado atual é consequência de uma série longa de políticas que foram implementadas ano após ano, o desmonte da situação vai ser resultado da reversão de várias políticas", afirma Ribeiro, do Ibre.
"Isso fatalmente vai ser um processo longo porque o governo que poderia reverter essas políticas foi o que implementou todas essas medidas."
Nos cálculos da equipe do Ibre, a economia brasileira deverá ter em 2016 uma nova recessão. Na avaliação do instituto, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deverá recuar 3%. No ano passado, a queda estimada foi de 3,7%.
"São dois anos seguidos de uma economia em retração em todas as óticas", diz o pesquisador do Ibre.