(Ueslei Marcelino/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 28 de maio de 2018 às 12h21.
Última atualização em 28 de maio de 2018 às 12h41.
Na campanha à presidência de 1992, Bill Clinton colocou na parede de seu quartel-general a seguinte frase: "The economy, my dear!" (a frase verdadeira era um pouco menos educada, mas a mensagem central era esta).
Buscava-se com isso lembrar a todos os que ali trabalhavam que eles só ganhariam a corrida se suas propostas, ao final, convergissem para uma economia mais robusta. Parece besteira, mas não é: em geral, as "boas ideias" que aparecem nos bastidores do governo não são, de fato, boas ideias.
Basta procurar direito e descobrirá um subsídio aqui, um desequilíbrio concorrencial ali, uma vantagem a um determinado setor acolá. O problema é que para cada subsídio concedido a um setor há outro que precisará pagá-lo.
Não foi por acaso que, não só Clinton ganhou a campanha, como passou seu primeiro mandato reduzindo gradualmente os déficits e conseguiu fechar seu segundo mandato com as contas públicas no azul, com redução expressiva do endividamento público. Desde o pós-guerra apenas o General Eisenhower havia conseguido esta proeza (e, depois de Clinton, ninguém mais conseguiu). Pois bem.
Lembrei da frase na parede assim que ouvi o conjunto de soluções desenhadas para “resolver” a atual crise, de greve dos caminhoneiros. Elenco abaixo as três principais:
Parece ótimo! Mas não é. Questão de matemática: hoje o governo gasta mais do que arrecada. O problema não é a arrecadação, é o gasto. Reduzir imposto só vai agravar o problema, e a verdadeira solução passa por reformas estruturantes, como a da previdência.
Lembrando que cortar receita antes de cortar despesa só leva a duas coisas: aumento do endividamento público, com consequente aumento das taxas de juros, ou impressão de papel moeda, com consequente aumento da inflação.
Também parece ótimo! Mas também não é. Quanto um preço é forçado para baixo do seu preço natural de equilíbrio, há mais gente querendo comprar do que gente querendo vender. Isso leva ao desabastecimento do produto.
O temor do mercado é que a estatal dominante seja obrigada a aceitar este preço abaixo do que seria o de equilíbrio. O governo, para compensar, sinaliza com um subsídio a ser pago diretamente à empresa, para compensar a diferença. Mas isso aumentaria ainda mais o rombo fiscal.
É tudo o que os caminhoneiros querem! Mas é terrível para todos, inclusive para eles. Quando forçamos um preço para cima do que seria seu preço de equilíbrio, há mais gente querendo vender do que gente querendo comprar. Isso leva a uma superoferta que, normalmente, faria os preços caírem novamente.
Mas, sendo os preços mantido artificialmente altos, só há dois caminhos: ou caminhoneiros sem trabalho acabam aceitando “ilegalmente” um preço menor, ou o governo arca com a diferença (subsidiando o frete). E isso (pasmem!) também aumentaria o rombo fiscal.
Assim, a solução para imposto alto não é imposto baixo; é gasto menor. Apenas depois de equacionada a questão fiscal vêm a redução de impostos. Mas isso demora, e é complexo.
Da mesma maneira, a solução real para o preço do diesel não é dar subsídios e nem controlar margens: é promover a concorrência, saudável e justa, no setor. Mas isso também demora.
Finalmente, a solução para o alto custo do frete não é dar subsídios: é melhorar o sistema logístico nacional estimulando ferrovias e hidrovias. Em resumo: concorrência, mercado, eficiência. Não é uma solução para semana que vem, mas deve ser perseguida como objetivo final.
É importante lembrar que uma das principais razões que levaram a este momento que estamos vivendo nesta semana foi outra ação imediatista e impensada do governo, há alguns anos: o crédito barato e subsidiado à compra de caminhões novos.
O FINAME, que emprestava dinheiro abaixo da inflação, mascarou a (falta de) atratividade do negócio, fez com que houvesse mais caminhões (oferta) do que demanda (necessidade pelo serviço) e, por consequência, fez o preço do frete cair.
Justiça seja feita: há muita gente no governo hoje que entende o problema e quer fazer a coisa certa. Porém, infelizmente, estas pessoas encontram muita resistência de outras pessoas que aparecem com as tais “boas ideias” de resultado imediato.
Por isso, sempre vale lembrar do simpático cartaz de Clinton e da mensagem por trás: se as ações tomadas pelo governo, no final, não forem benéficas à economia como um todo, esqueça! It's the economy, my dear... the economy.
Diogo Mac Cord é mestre em administração pública pela Universidade de Harvard e sócio-diretor de governo e regulação da KPMG consultores.