Economia

ONU: alta de juros custará centenas de bilhões de dólares aos países pobres

O ciclo de aumentos de juros, que há vários meses afeta os Estados Unidos e a Europa, "custará aos países em desenvolvimento mais de US$ 800 bilhões"

Segundo o relatório, o número de países onde recursos destinados a pagar os juros da dívida superam os dedicados aos sistemas de saúde passou de 34 para 62 na última década (AFP/AFP Photo)

Segundo o relatório, o número de países onde recursos destinados a pagar os juros da dívida superam os dedicados aos sistemas de saúde passou de 34 para 62 na última década (AFP/AFP Photo)

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Agência de notícias

Publicado em 12 de abril de 2023 às 14h50.

Última atualização em 12 de abril de 2023 às 15h06.

As altas das taxas de juro no mundo provocam "níveis de superendividamento sem precedentes" nos países em desenvolvimento, expondo-os a importantes riscos financeiros, advertiu uma agência da ONU nesta quarta-feira, 12.

O ciclo de aumentos de juros, que há vários meses afeta os Estados Unidos e a Europa, "custará aos países em desenvolvimento mais de US$ 800 bilhões (em torno de R$ 4,94 trilhões em valores atuais) em perda de renda" nos próximos três anos, estima a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês).

Segundo o relatório, o número de países onde recursos destinados a pagar os juros da dívida superam os dedicados aos sistemas de saúde passou de 34 para 62 na última década.

Como os juros afetam esses países mais pobres?

As altas dos juros "aumentam o peso da dívida em todo o mundo, mas pesam ainda mais sobre os países em desenvolvimento", disse à AFP Jeronim Capaldo, um dos autores do informe, que questiona a eficácia dos aumentos das taxas para combater a inflação.

Se os preços continuam nas nuvens, principalmente da energia e dos alimentos, é porque agora "não têm nada a ver" com as taxas, mas com as modalidades de "intercâmbios comerciais internacionais", explica Capaldo.

"O risco (...) é que estamos seguindo pelo caminho errado", adverte.

A questão do endividamento dos países em desenvolvimento está na agenda das reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) desta semana em Washington, mas as soluções em estudo são meramente "simbólicas", critica o especialista.

Em seu informe, a UNCTAD defende um "foco urgente na reforma" da estrutura da dívida dos países em desenvolvimento.

A entidade recomenda criar "um mecanismo multilateral de renegociação da dívida", com análises que "incluam as necessidades de financiamento climático e de desenvolvimento". Essa reforma evitaria que "a escassez de liquidez internacional" leve muitos países a entrar em "um círculo vicioso financeiro" que pode agravar sua exposição aos riscos, continua o documento.

A UNCTAD também aconselha a criação de um organismo independente de auditoria, atualmente sob responsabilidade do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.

Essas instituições "são credoras importantes e, ao mesmo tempo, realizam as auditorias das contas públicas dos Estados", observa Capaldo, para quem "esse conflito de interesses não ajuda a ninguém e menos ainda aos países endividados".

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