Onde a inflação pesou (e aliviou) por mês, grupo e região
Números divulgados hoje mostram que inflação mais alta do ano foi em Fortaleza e que índice despencou na Habitação e Transportes.
João Pedro Caleiro
Publicado em 11 de janeiro de 2017 às 13h29.
Última atualização em 12 de janeiro de 2017 às 14h13.
São Paulo - Os números da inflação divulgados hoje pelo IBGE vieram abaixo do previsto pelo mercado: 0,30% em dezembro (contra os 0,36% esperados) e 6,29% no balanço de 2016 (contra 6,35% previstos).
O IPCA inclusive conseguiu fechar o ano dentro do teto da meta, que é de 4,5% com tolerância de dois pontos percentuais para baixo (2,5%) ou para cima (6,5%).
Um dos motivos para isso é ruim: a queda de renda e alta do desemprego fazem o brasileiro consumir menos, e com isso comerciantes e prestadores de serviços têm menos espaço para aumentar preços.
A força da moeda também foi um fator. O real foi uma das moedas mundiais que mais se valorizaram em 2016, o que deixa produtos e insumos estrangeiros mais baratos.
O mais importante é que a confirmação de que a inflação está recuando abre espaço para que o Copom seja mais agressivo no corte de juros, decisão que será anunciada no fim da tarde de hoje.
Veja como a inflação se comportou mês a mês:
IPCA | |
---|---|
Janeiro | 1,27% |
Fevereiro | 0,90% |
Março | 0,43% |
Abril | 0,61% |
Maio | 0,78% |
Junho | 0,35% |
Julho | 0,52% |
Agosto | 0,44% |
Setembro | 0,08% |
Outubro | 0,26% |
Novembro | 0,18% |
Dezembro | 0,30% |
As duas maiores altas foram em janeiro e fevereiro. O IPCA de setembro foi a menor desde julho de 2014, além de ter sido o mais baixo para o mês desde 1998.
Veja como foi a inflação em 2015 e 2016 em cada um dos 9 grupos pesquisados:
Grupo | Inflação em 2015 | Inflação em 2016 |
---|---|---|
Alimentação e Bebidas | 12,03% | 8,62% |
Habitação | 18,31% | 2,85% |
Artigos de Residência | 5,36% | 3,41% |
Vestuário | 4,46% | 3,55% |
Transportes | 10,16% | 4,22% |
Saúde e Cuidados Pessoais | 9,23% | 11,04% |
Despesas Pessoais | 9,50% | 8% |
Educação | 9,25% | 8,86% |
Comunicação | 2,11% | 1,27% |
Os grupos também não têm peso equivalente no índice: o mais importante, de longe, é Alimentação e Bebidas.
Ele sofreu influência de fatores internacionais e da seca, o que restringe a oferta, e a mudança não foi tão significativa de um ano para o outro, apesar da trajetória ser encorajadora.
"Quando as perspectivas para a safra de 2017 ficaram mais promissoras, isso ajudou a deixar os preços mais comportados, o que vimos no final do ano passado", dizEulina Nunes, pesquisadora do IBGE.
Chama a atenção a queda abrupta de um ano para o outro em dois outros grupos: Habitação e Transportes.
Isso é explicado pela decisão do governo de corrigir de uma vez só, no início de 2015, a defasagem dos preços administrados contidos por um longo período.
Os itens desse tipo subiram 18,08% em 2015 (contra 10,67% no balanço final do IPCA) e apenas 5,5% em 2016 (contra 6,29% na inflação como um todo).
Nas contas de energia elétrica, 2015 viu a introdução de bandeiras tarifárias para compensar o custo das termelétricas, e a bandeira vermelha (a mais alta) ficou em vigor o ano todo.
Já 2016 terminou com bandeira verde, a mais baixa. As contas de energia subiram 51% em 2015 e caíram 10% no ano seguinte, o que explica o comportamento do grupo Habitação.
Algo parecido aconteceu com a gasolina, parte dos Transportes, que subiu 20% em 2015 e passou 2016 quase sem aumentos.
Veja como foi a inflação em 2015 e 2016 em cada uma das 13 regiões pesquisadas:
Região | Inflação em 2015 | Inflação em 2016 |
---|---|---|
Fortaleza | 11,43% | 8,34% |
Recife | 10,15% | 7,10% |
Salvador | 9,86% | 6,72% |
Campo Grande | 9,96% | 7,52% |
Porto Alegre | 11,22% | 6,95% |
Belém | 9,93% | 6,77% |
Belo Horizonte | 9,22% | 6,60% |
São Paulo | 11,11% | 6,13% |
Rio de Janeiro | 10,52% | 6,33% |
Vitória | 9,45% | 5,11% |
Goiânia | 11,10% | 5,25% |
Brasília | 9,67% | 5,62% |
Curitiba | 12,58% | 4,43% |
Líder em 2015 com 12,58%, Curitiba teve a inflação mais baixa de 2016 com 4,43% - dentro até do centro da meta.
No curto prazo, essas diferenças muitas vezes estão relacionadas a fatores locais de preços administrados - o nível de reajuste de energia autorizado para as concessionárias locais, por exemplo, ou a definição da tarifa de transporte urbano.
"Mas ao longo do tempo, esses índices regionais tendem a convergir", diz Eulina.
Vale lembrar também que o índice final não é uma média das regiões porque o peso de cada uma é diferente: São Paulo tem 30% de peso e o Rio de Janeiro tem 12%, enquanto Campo Grande tem 1,51%.