Economia

Onda de revisões já apontam para recuo de até 9% no PIB do Brasil em 2020

Na ponta pessimista das previsões, Monica de Bolle, do Peterson Institute, considera ajuda do governo insuficiente

Cristo redentor, Rio de janeiro, 12 de abril de 2020 (Buda Mendes/Getty Images)

Cristo redentor, Rio de janeiro, 12 de abril de 2020 (Buda Mendes/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 13 de abril de 2020 às 13h08.

Última atualização em 13 de abril de 2020 às 14h08.

A imprevisibilidade gerado pela pandemia de coronavírus está fazendo com que instituições públicas e privadas revisem quase que semanalmente suas previsões sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020.

A economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, nos Estados Unidos, já trabalha com um intervalo de 6% a 9% de queda, superior ao recuo de 5% esperado por ela há três semanas.

"A piora está atribuída à demora do governo em lançar mão das medidas para conter a recessão", diz Bolle.

Ela também ressalta que a projeção para o PIB nos EUA é de quase 5%, "de modo que não é razoável achar que no Brasil será igual. Será, evidentemente, pior", diz. Monica foi uma das primeiras economistas a falar em risco de recessão no Brasil neste ano.

https://twitter.com/bollemdb/status/1249501282894852101

Faz mais de dois meses que os economistas ouvidos pelo Banco Central para o Boletim Focus também pioram suas estimativas. Os números chegaram nesta segunda-feira, 13, a um recuo de 1,96%, refletindo sobretudo a deterioração esperada na produção industrial .

Outra revisão foi anunciada pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF) nesta quinta-feira, 9. A instituição espera uma queda de 4,1% para o PIB deste ano e destaca que a economia brasileira não havia se recuperado totalmente da recessão de 2015.

O ministro da Economia Paulo Guedes teria dito em videoconferência com senadores na sexta-feira que a queda pode ser de 4% no PIB do ano, caso a paralisação gerada pelo coronavírus se estenda para além de julho.

Na avaliação do IIF, as economias emergentes serão as mais afetadas pela recessão, com PIB da América Latina registrando queda de 5% no ano.

A previsão do IIF sobre o PIB brasileiro em 2020 está em linha com a divulgada no último dia 7 pelo BNP Paribas. Na ocasião, o banco disse que “embora o bloqueio seja necessário para conter o surto, pode trazer graves consequências para o economia".

Em relatório, a instituição destaca duas medidas anunciadas pelo governo como as mais importantes tanto do ponto de vista orçamentário quanto de necessidade.

Uma delas, que garante o pagamento mensal de R$ 600 a trabalhadores informais e autônomos por três meses “é a chave para o sucesso do bloqueio”, diz o banco.

Outro programa vital é o apoio financeiro para empresas que decidem manter funcionários, mas sob um regime mais flexível. De acordo com esse programa, o governo se comprometeu em pagar até 70% do valor do seguro desemprego ao qual o funcionário teria direito se fosse demitido.

InstituiçõesPrevisões PIB/2020
Banco Central0
Governo0,02%
Citi-1.70%
UBS-2%
Santander-2.20%
JP Morgan-3.20%
Goldman Sachs-3.40%
Morgan Stanley-3.70%
BNP Paribas-4%
IFI-4.10%
Banco Mundial-5%
Peterson Institutede -6% a -9%

Outras revisões

Na semana passada, o Santander também divulgou uma revisão para -2,2% da sua previsão para o PIB de 2020.

“Dada a esperada perda de demanda e de capacidade produtiva da economia, não teremos recuperação em V (na qual a retomada é tão rápida quanto a queda), mas em U, ou seja, gradual ao longo dos próximos anos", disse Ana Paula Vescovi, economista do Santander em teleconferência com jornalistas, nesta segunda-feira, 6.

A instituição ressalta que, nesse cenário base, o Brasil chega no fim de 2021 praticamente no nível do pré-crise (do coronavírus)”.

O UBS cortou há duas semanas sua previsão para o PIB de 2020, de 0,5% para queda de 2%. O banco destaca fatores, como o Brasil estar com crescimento fraco mesmo antes da pandemia, quedas acentuadas nos dados da atividade no início de março e agravamento das condições financeiras.

Esse cenário pressupõe que as restrições de mobilidade e as medidas de distanciamento social adotadas para controlar o surto começem a terminar em maio. Se isso for possível o banco acredita numa retomada na segunda metade do ano.

Um dia antes do UBS, o Bank of America (Bofa) anunciou que vê uma contração de 3,5% no PIB de 2020.

O banco destaca que, entre os países da América Latina, o Brasil é um dos mais sensíveis ao preço das commodities (em queda há meses, acompanhando a retração forte na demanda global) e ao mercado chinês, maior parceiro comercial brasileiro. Essa previsão também incorpora o forte impacto no consumo e no investimento, em função da paralisação parcial das atividades no país.

O Bofa cita ainda que a falta de uma resposta política eficaz para controlar a propagação do vírus nos mercados desenvolvidos e em alguns mercados emergentes levou a instituição a reduzir sua previsão para o crescimento do PIB global em 2020 de 0,3% para uma queda de 2,7%.

“Essa deve ser uma recessão consideravelmente pior do que a de 2008/09. Tanto os formuladores de políticas quanto o público em muitas economias não aprenderam a lição da China: a política mais eficaz é um bloqueio rápido e rigoroso”, diz o Bofa em relatório.

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