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Obama assegura candidatura Democrata

Pré-candidato da oposição não deve representar grandes mudanças ao comércio com o Brasil, dizem especialistas

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h02.

Após uma disputa de meses com a senadora americana Hillary Clinton, o também senador Barack Obama conseguiu nas últimas horas reunir o apoio de que precisava para tornar-se o candidato do Partido Democrata à Presidência da República dos Estados Unidos. Com o apoio declarado da maioria dos superdelegados, os membros do partido que definem quem encabeçará a chapa, Obama tem o apoio necessário dentro de seu partido para tornar-se o primeiro negro a concorrer ao cargo à frente de um dos dois grandes grupos políticos. Apesar da dianteira de Obama, sua adversária ainda não admitiu a derrota.

Caso vença a disputa contra o republicano John McCain, o candidato do presidente George W. Bush, Obama também entrará para a história como o primeiro filho de um imigrante (seu pai era queniano) a dirigir o país. O pioneirismo que marca a biografia do candidato, porém, dificilmente aparecerá na política de comércio dos americanos com outros países, na opinião de analistas ouvidos pelo Portal EXAME.

Eles apontam que apesar do discurso incisivo em favor do multilateralismo e da reconquista de confiança internacional na liderança americana, Obama não terá forças para se tornar o primeiro presidente em muitos anos a interferir em questões essenciais para uma parte significativa das empresas brasileiras, como a derrubada de barreiras tarifárias aos produtos agrícolas e o fim dos subsídios a produtores de commodities.

"Se eu fosse um homem de negócios no Brasil, eu não esperaria grandes mudanças. É possível que haja um esforço maior para a cooperação internacional, e o discurso dele vai claramente nesse sentido, mas eu ficaria mais atento ao que ele faz do que ao que ele fala", diz o professor Robert Lawrence, titular da cadeira de Práticas de Política Externa da Escola de Governo John F. Kennedy, ligada à Universidade Harvard.

Lawrence afirma que o futuro presidente dos Estados Unidos, independentemente de quem seja, enfrentará o desafio de equilibrar as pressões de dois focos distintos. De um lado, há a demanda crescente da comunidade internacional por mais abertura econômica, fortalecida pela própria visão de política externa do partido Democrata, segundo a qual os Estados Unidos precisam redefinir seu papel no mundo com base em mais diálogo e autoridade moral. No outro sentido, a crise financeira que desacelera o país alimenta a demanda de uma parcela cada vez maior da população por protecionismo e restrições à saída de capital. O professor lembra que numa pesquisa recente conduzida por uma revista, 60% dos americanos disseram considerar o livre comércio como prejudicial aos Estados Unidos - e a novidade é que dessa vez a insatisfação cresce entre os eleitores mais ricos e escolarizados, tradicionalmente favoráveis à derrubada de barreiras.

"É difícil saber qual das tendências vai predominar, mas mesmo que Obama negocie mudanças, elas precisarão ser aprovadas pelo Congresso, onde a resistência é muito maior. Os brasileiros deveriam se preocupar mais com os parlamentares, comprometidos com os eleitores, do que com o presidente, que precisa pensar mais nas conseqüências externas do que se decide no país", opina Lawrence.

O cenário propício ao que o analista de Harvard chama de "forma americana de populismo" também é o mais provável na opinião do professor de Política e Ética da Universidade de Campinas, Roberto Romano. Ele acredita que o lobby por protecionismo terá um campo fértil no governo do democrata, uma vez que a própria linha política do candidato não parece tão definida quanto a dos demais.

"Obama terá a oportunidade de transformar a política interna dos Estados Unidos, mas se ele vai fazer ou não ninguém sabe", ele diz.

Etanol em segundo plano

Além da necessidade de conquistar a simpatia de eleitores e empresários, o próximo presidente americano chegará ao cargo num cenário bastante desfavorável a mudanças que num primeiro momento tragam prejuízos à balança comercial do país, segundo os especialistas. Os Estados Unidos de hoje começam a sofrer tanto com a recessão quanto com a inflação e registram grandes déficits em conta corrente, que os obrigam a tomar empréstimos de países superavitários, como a China e os exportadores de petróleo do Oriente Médio. Também pesa a escalada de preço do óleo cru para acima de 130 dólares por barril, que amplia o desequilíbrio entre gastos e ganhos no comércio.

Em meio à crise, mesmo questões como aquecimento global e busca de fontes alternativas de energia, que poderiam favorecer uma iniciativa de abertura ao etanol brasileiro, tendem a ficar em segundo plano, quando entra o jogo o temor dos americanos de perderem seus empregos.

"Não se trata da relação dos Estados Unidos com o Brasil, mas o contrário. O Brasil é que quer que o etanol esteja na pauta das exportações, e não o contrário", aponta o ex-embaixador do Brasil em Washington e atual presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, Rubens Barbosa.

O professor de Harvard Robert Lawrence reforça a improbabilidade de o etanol entrar na pauta americana de importações. "Se a preocupação principal dos americanos de fato fosse com o aquecimento global ou a escassez de alimentos, já estariam importando etanol do Brasil, mas continuam com o etanol de milho", diz.

A definição do presidente americano deve ocorrer apenas em novembro e o candidato assumirá o cargo em janeiro de 2009.

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