Economia

O que será da Opep se preços do petróleo continuarem baixos?

A queda do preço do petróleo em 2014 inverteu o tabuleiro do jogo geopolítico e, em 2015, valerá a pena ver quem poderá se recuperar


	Plataforma de petróleo: a Opep, que controla cerca de 40% do mercado, tem dado sinais de desgaste
 (David Mcnew/AFP)

Plataforma de petróleo: a Opep, que controla cerca de 40% do mercado, tem dado sinais de desgaste (David Mcnew/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2014 às 20h39.

Nova York - A queda do preço do petróleo em 2014 inverteu o tabuleiro do jogo geopolítico. Em 2015, valerá a pena ver quem poderá se recuperar e dominar o jogo – a Opep, Vladimir Putin ou os perfuradores de xisto dos EUA.

O preço de referência internacional do petróleo caiu até 49 por cento em 2014. Aqueles que buscam uma recuperação rápida podem ficar desapontados, já que o crescimento do consumo mundial desacelerou para seu mínimo desde 2009, empresas americanas extraíram seu máximo desde a década de 1980 e começou uma guerra de preços entre os países-membros da Organização de Países Exportadores de Petróleo.

“É um ponto de inflexão para a imagem que as pessoas têm da Opep, o fato de que este chamado cartel realmente não esteja impulsionando os preços”, disse Jeff Colgan, professor do Instituto Watson de Estudos Internacionais da Universidade Brown, que faz pesquisas sobre geopolítica da energia. “O verdadeiro assunto terá a ver com o setor de fracking. Quanto os produtores norte-americanos podem aguentar?”.

Estas são as cinco preocupações a respeito dos mercados de petróleo em 2015:

A Opep se manterá unida?

O grupo que controla cerca de 40 por cento do mercado tem dado sinais de desgaste.

Desde janeiro de 2012, seus membros excederam o teto diário de produção, de 30 milhões de barris, em uma média de 860.000 barris, segundo dados compilados pela Bloomberg. Desde que a Opep decidiu não diminuir a produção na reunião de novembro em Viena, alguns países têm ainda menos incentivos para obedecer. A própria previsão de demanda da Opep é a mais baixa em 12 anos e está mais de um milhão de barris diários abaixo da sua meta atual de produção.

Os preços são mais baixos do que os que todos os países-membros da Opep, exceto o Kuwait e o Catar, necessitam para equilibrar seus orçamentos, segundo dados compilados pela Bloomberg. Mesmo assim, a Arábia Saudita, o maior país-membro do grupo, vem liderando os que se opõem a uma redução da produção e continua contestando a necessidade. O reino tem reservas suficientes para vencer uma guerra de preços, mas a um custo muito alto para ele mesmo e para outros países-membros da Opep, segundo o Citigroup Inc.

“A Opep tem muitas dificuldades para manter o cartel”, disse Jeffrey Rosenberg, estrategista-chefe de investimentos da BlackRock Advisors Inc., em entrevista com a Bloomberg Television no dia 21 de novembro. “Todos têm incentivos para aumentar sua produção a fim de manter a receita”

O boom do xisto será prejudicado?

Traders e analistas interpretaram a decisão da Arábia Saudita de deixar os preços caírem como um desafio aos produtores americanos de xisto, que têm custos mais altos. Pelo menos uma dezena de empresas de petróleo “apertado” cortaram seus planos de gasto, disseram executivos em teleconferências. A Administração de Informações sobre Energia dos EUA (EIA) reduziu sua previsão de produção. A Genscape Inc. espera um impacto mais severo, com uma queda da produção do seu máximo em três décadas.

Empresas de energia lideraram as perdas entre as ações e bonds de empresas americanas. Alguns investidores expressaram preocupação de que os prejuízos pudessem se espalhar. Outros estão se preparando para aproveitar as perturbações e a consolidação.

“Todos nós estamos fascinados para ver qual será a economia real do petróleo apertado quando os preços caírem”, disse Paul Horsnell, diretor de pesquisa sobre commodities da Standard Chartered Plc em Londres.

A demanda mundial se recuperará?

A demanda excessivamente baixa causada pelo crescimento econômico fraco na Europa e na Ásia ajudou a levar o petróleo para um mercado baixista. Preços mais baixos poderiam ajudar a estimular o mercado, segundo o Citigroup e o Goldman Sachs Group Inc.

A Agência Internacional de Energia espera que o consumo de petróleo aumente em 900.000 barris por dia em 2015, frente a uma alta de 700.000 barris por dia em 2014. No entanto, a demanda por gasolina se mantém igual nos EUA, onde os carros estão aumentando a eficiência no uso do combustível e moradores jovens das cidades estão utilizando o transporte público.

“Cada aumento de eficiência é uma redução permanente da demanda que não voltará com uma queda dos preços”, disse Tamar Essner, analista de energia do Nasdaq. “As maiores fontes de notícias sobre a demanda têm sido o crescimento da China e a desaceleração da Europa, e ambas são certas, mas eu não antecipo uma alta suficiente como para alterar a dinâmica de preços”.

Os EUA permitirão mais exportações?

Os preços mais baixos estão alimentando o debate sobre a proibição vigente há quarenta anos para a maioria das exportações de petróleo não refinado dos EUA. Os produtores querem ter acesso a preços mais altos no exterior, ao passo que as refinarias querem manter sua vantagem de custos.

Os envios permitidos já estão crescendo rapidamente e os EUA provavelmente exportariam até 1,5 milhão de barris por dia se a lei fosse modificada, disse o administrador da EIA, Adam Sieminski, a um subcomitê da Câmara dos Deputados dos EUA no dia 11 de dezembro. A questão poderia adquirir proeminência no novo Congresso, que será liderado pelos republicanos, especialmente porque a senadora pelo Alasca, Lisa Murkowski, a oponente mais franca à proibição, assumirá a chefia do comitê de recursos naturais da câmara alta.

A instabilidade política perturbará a oferta?

Em junho, com a propagação da violência na Ucrânia e os combatentes do Estado Islâmico ameaçando Bagdá, os analistas se perguntavam quanto o preço de referência internacional subiria acima de US$ 114 por barril. Digamos simplesmente que essas pessoas mudaram de opinião. Agora a questão é quanta tensão um barril de petróleo a US$ 60 causará em países já instáveis.

A Venezuela, que está lutando contra a inflação e a fuga de capitais, enfrenta uma alta vertiginosa nos custos de tomar empréstimos porque os investidores estão considerando o risco de calote. A produção da Líbia quase quadruplicou entre abril e outubro por causa da diminuição dos combates, mas caiu 32 por cento em novembro. A produção do Iraque está próxima do seu máximo em 13 anos porque o país fechou um acordo com a região curda semiautônoma para vender mais petróleo enquanto eles lutam contra os insurgentes do Estado Islâmico.

Se o Irã concordar em frear seu programa nuclear em troca de um alívio das sanções do Ocidente, o país do Golfo Pérsico disse que pretende quase dobrar a produção para 4,8 milhões de barris por dia, disse um funcionário do Ministério do Petróleo no dia 9 de dezembro. Na Rússia, a força combinada das sanções americanas e europeias por causa da anexação da Crimeia e o desmoronamento do valor do seu maior produto de exportação desencadearam uma recessão, uma crise cambial e a disparada da inflação.

“O risco geopolítico é definitivamente um dos aspectos negativos dos preços baixos do petróleo”, disse Brian Youngberg, analista de energia da Edward D. Jones Co. em St. Louis.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaEnergiaEuropaGás de xistoIndústriaIndústria do petróleoIndústrias em geralPetróleoRússia

Mais de Economia

Com mais renda, brasileiro planeja gastar 34% a mais nas férias nesse verão

Participação do e-commerce tende a se expandir no longo prazo

Dívida pública federal cresce 1,85% em novembro e chega a R$ 7,2 trilhões

China lidera mercado logístico global pelo nono ano consecutivo