Economia

O que o comportamento do mercado diz sobre o risco Trump

Reação durante primeiro debate mostra que vitória de Trump teria um forte efeito desestabilizador, diz estudo

Donald Trump e Hillary Clinton durante o primeiro debate eleitoral (Jonathan Ernst/Reuters)

Donald Trump e Hillary Clinton durante o primeiro debate eleitoral (Jonathan Ernst/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 26 de outubro de 2016 às 15h37.

Última atualização em 26 de outubro de 2016 às 19h00.

São Paulo - A economia pode sofrer um baque importante se Donald Trump ganhar a eleição presidencial americana.

É o que sugere uma análise do comportamento do mercado financeiro feita por Justin Wolfers, da Universidade de Michigan, e Eric Zitzewitz, do Dartmouth College.

No dia a dia é complicado isolar fatores e causalidade entre o mundo da economia e da política. Um número ruim de mercado de trabalho, por exemplo, afeta as chances dos candidatos ao mesmo tempo em que expressa algo concreto sobre o cenário.

A solução do estudo foi escolher um momento bem específico: a noite de 26 de setembro, quando Hillary e Trump se enfrentaram no primeiro debate presidencial, o mais importante evento da campanha até então.

Uma noite típica de segunda-feira é calma nos mercados financeiros - e de fato, eles mal se movimentaram antes e depois do debate. No entanto, seu comportamento durante o evento diz muito.

A avaliação geral foi de que Hillary se deu melhor: no Betfair, maior mercado de apostas online do mundo, sua chance de vitória subiu de 63% para 69%.

E esse favoritismo fez o preço do petróleo subir, a expectativa de volatilidade do mercado cair e as moedas de importantes parceiros comerciais americanos como México, Coreia do Sul e Canadá se valorizarem em relação ao dólar.

Afinal, esses são países que têm acordos de livre comércio com os EUA que vem sido tripudiados por Trump na campanha, isso sem falar na promessa de construir um muro na fronteira com o México (e forçando o vizinho a pagar).

Efeitos aparecidos foram verificados no fim de semana de 08 e 09 de outubro, quando republicanos importantes se afastaram de Trump após a divulgação de um vídeo onde o candidato se gaba de apalpar mulheres sem seu consentimento.

“Esses movimentos sugerem que os mercados financeiros esperam que tanto a economia doméstica quanto a internacional fiquem mais saudáveis com uma presidente Clinton do que com um presidente Trump”, diz o estudo.

É uma quebra do padrão histórico, já que trabalhos similares sobre as eleições americanas desde 1880 mostravam uma reação mais positiva dos mercados aos candidatos republicanos.

O cálculo final da dupla é que uma vitória de Trump faria o preço do petróleo cair em 4 dólares, causaria uma desvalorização de 25% do peso mexicano e levaria a uma queda de 10% a 15% nos mercados de ações do Reino Unido e da Ásia.

Um Trump presidente também reduziria o valor das 500 maiores companhias listadas na bolsa americana e aumentaria significativamente a volatilidade dos mercados de ação futuros, diz o estudo.

O alerta já havia sido dado em um relatório recente do Citi que estima aumento grande na incerteza com o republicano presidente.

Isso tiraria de 0,7 a 0,8 ponto percentual na estimativa de crescimento global para 2017, atualmente em 2,7%.

É o suficiente para levar a taxa global para abaixo dos 2%, linha que o banco usa para definir o que é uma recessão. O impacto seria principalmente via mercados financeiros e comércio, como sugerem Wolfers e Zitzewitz.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEleições americanasHillary Clinton

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor