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O perigo mora aqui

Índice de risco em São Paulo é igual ao das áreas mais violentas no Oriente Médio, aponta relatório

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h47.

Um executivo estrangeiro que caminhe à noite nas ruas próximas da avenida Paulista, em São Paulo, ou percorra as calçadas de Phnom Penh, no Camboja, ou de Ramallah, território palestino na Cisjordânia, estará sujeito a idênticos perigos. A advertência aparece num relatório da Control Risks, uma consultoria britânica especializada em gerenciar riscos de empresas. Ela apura o índice de risco com base numa pesquisa que envolve cerca de 300 cidades mundo afora. Numa escala de 1 a 7, deu nota 5 a essas três cidades, ao lado de outras como Rio de Janeiro, Salvador, Jerusalém e Tel Aviv (apenas Cabul, no Afeganistão, alvo da ofensiva americana contra o terrorismo, recebeu a nota máxima).

Desde setembro de 2000 morreram mais de mil pessoas nos choques entre palestinos e israelenses. As mortes decorreram de ataques terroristas e ofensivas militares, sempre com efeitos macabros espetaculares, registrados por redes internacionais de TV. Em São Paulo o cenário é mais discreto, mas as baixas vão muito além. A cidade tem uma das maiores taxas de mortalidade por homicídio do mundo. Somente no primeiro semestre de 2001, a Secretaria de Segurança registrou 3 168 homicídios na capital paulista, 5,1% a mais que no mesmo período do ano anterior.

Comparar São Paulo ao explosivo Oriente Médio assusta, reforça a paranóia e justifica os crescentes gastos com segurança. Também suscita uma questão intrigante: como pode haver semelhanças entre locais com conflitos tão diferentes? De acordo com o levantamento, nas cidades com índice de risco 5 o crime é uma ameaça constante. As principais áreas residenciais, comerciais e próximas dos hotéis não são seguras, principalmente à noite. O viajante deve evitar a periferia. Pode ser seqüestrado e confrontar-se com atos de violência política ou mesmo atentados terroristas. "As ameaças e as causas das mortes são diferentes, mas o risco é igual", afirma James Wygand, presidente da Control Risks. "Em matéria de violência, São Paulo engana. Não é como o Rio de Janeiro, que expõe o perigo nos morros. O executivo que vai de Congonhas a um hotel de bandeira internacional pensa que está numa metrópole européia." Wygand diz que o levantamento se dirige a um público específico: os executivos globais. Homens que vivem num circuito de hotéis cinco estrelas, raramente falam o idioma local e desconhecem particularidades das cidades por onde passam. Para os criminosos, são alvos fáceis nos locais mais corriqueiros.

Mal o relatório da Control Risks ficou pronto, no fim de 2001, e a realidade mostrou que os perigos que rondam São Paulo não ameaçam apenas os incautos executivos estrangeiros. Em 3 de dezembro, a vítima foi Eduardo Capobianco, de 49 anos, um empresário de construção engajado justamente na luta contra a violência e a corrupção. Capobianco foi acuado e baleado por dois homens na garagem do prédio onde funciona o escritório de sua construtora, na região central. Na fuga que lhe salvou a vida, levou dois tiros na perna. No caso de Capobianco, a polícia investiga a hipótese de que ele tenha sofrido represália de criminosos incomodados com sua atuação à frente de duas organizações não-governamentais: a Transparência Brasil e o Instituto São Paulo contra a Violência. Desde que o instituto criou o serviço Disque-Denúncia, em outubro de 2000, o número 0800-156315 recebeu mais de 34 mil denúncias, 43% relacionadas ao narcotráfico. As informações prestadas sob garantia de anonimato foram decisivas para a solução de cerca de mil casos.

Mobilização

O Instituto São Paulo contra a Violência é uma resposta dos empresários paulistanos ao aumento descontrolado da insegurança e a relatórios internacionais, como o da Control Risks, desconcertantes para a imagem da cidade perante a opinião pública e os investidores. Foi criado em 1997, por 16 entidades empresariais e universidades, com a proposta de desenvolver políticas e programas de apoio à segurança pública capazes de transformar São Paulo em um lugar seguro para todos. Entre os associados estão as federações estaduais do comércio, da indústria e dos bancos, o Centro de Estudos do Terceiro Setor da Fundação Getulio Vargas e o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo. Representantes do instituto participam da Comissão de Polícia Comunitária do estado. Também acompanham programas e ações sociais, culturais e comunitárias que buscam a raiz social do problema da violência.

Na linha da prevenção, o instituto foi responsável direto pela criação do Fórum Metropolitano da Segurança Pública, que reúne representantes das 39 prefeituras da Grande São Paulo. Os primeiros grupos de trabalho foram organizados em março do ano passado. A proposta é articular a integração e trocar experiências bem-sucedidas. Os resultados começam a aparecer. O fórum mediou um acordo entre as prefeituras e a Secretaria de Segurança para garantir acesso ao Infocrin, um sistema informatizado das ocorrências policiais com terminais instalados nas delegacias. Ainda no primeiro semestre deste ano os municípios terão acesso aos registros de ocorrências, hoje um privilégio do estado, e poderão fazer diagnósticos mais ágeis. "São Paulo é uma cidade muito grande e complexa, por isso as soluções tendem a levar mais tempo", diz Paulo Mesquita, secretário executivo do Instituto São Paulo contra a Violência. "Para complicar, não há uma pessoa designada para atuar especificamente nessa área."

Uma das batalhas da entidade é acabar com os "bicos" de policiais nas empresas de segurança privada. "É preciso uma definição urgente: regulamentar ou extinguir, com a garantia de melhores salários. Como está, é ruim para todo mundo", afirma Mesquita. Além de comprometer a idoneidade da polícia, esse trabalho paralelo tem motivado uma enxurrada de ações trabalhistas de policiais feridos durante o exercício de uma atividade ilegal.

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