O país comunista campeão em milionários e desigualdade
País onde o número de milionários mais sobe no mundo também é um dos líderes no ranking de aumento da desigualdade
EFE
Publicado em 28 de março de 2017 às 08h57.
Ho Chi Minh (Vietnã) - O Vietnã , um dos últimos estados comunistas, é o país onde o número de multimilionários cresce em maior velocidade no mundo, segundo um estudo da empresa de consultoria imobiliária britânica Knight Frank, enquanto a desigualdade entre ricos e pobres aumenta.
O relatório indica que 200 vietnamitas ostentam o status de ultrarricos (com um patrimônio superior a US$ 30 milhões), quatro vezes mais que em 2006, quando 50 pessoas pertenciam a este seleto clube.
A Knight Frank estima que o impressionante aumento de ultrarricos na Ásia será reforçado por "taxas de crescimento astronômicas em países como o Vietnã, onde está previsto que este setor da população suba 170% na próxima década, até os 540, o aumento mais rápido do mundo".
A empresa prevê que até 2026 também deve aumentar no país asiático a quantidade de fortunas de mais de US$ 10 milhões (dos 610 atuais para 1.650) e de US$ 1 milhão (de 14.300 a 38.600).
Andrew Amoils, um dos pesquisadores do estudo, prevê que o número de milionários no Vietnã aumente impulsionado por "um crescimento forte nos setores de saúde, das manufaturas e dos serviços financeiros".
Mas este surgimento de grandes fortunas foi acompanhado por uma crescente desigualdade, há anos advertida por analistas e instituições como o Banco Mundial (BM), o Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
Um relatório do BM classifica de "preocupante" a desigualdade crescente no Vietnã.
"É um reflexo - acrescenta - das diferenças substanciais em condições econômicas por geografia e grupo étnico. Também mostram a lacuna entre os muito ricos e a maioria dos vietnamitas, e a notável desigualdade de oportunidades".
O Vietnã, que ao fim da guerra entre o Norte e o Sul em 1975 tinha uma taxa de pobreza de 70%, conseguiu reduzi-la a 58% em 1992 e a 32% em 2000 até chegar aos 13% atuais, mas nos últimos anos os ricos vêm se beneficiando mais deste crescimento.
Se as diferenças são mais marcantes entre as zonas rurais e as cidades, é nestas últimas onde a desigualdade é mais acentuada, segundo explicava em artigo de 2014 o analista Gabriel Demombynes.
"Os vietnamitas rurais têm menos possibilidades de ver a desigualdade como um problema, já que imaginam uma diferença muito pequena entre ricos e pobres. Por outro lado, os residentes urbanos veem diferenças muito maiores e se preocupam muito mais. Três a cada quatro moradores de cidades acham que é um problema", afirmava.
Na mesma linha, um relatório publicado em janeiro pela ONG Oxfam advertia que a desigualdade econômica é reforçada pela diferença de oportunidades de acordo com a classe social.
"A crescente desigualdade está ameaçando décadas de progresso", advertia.
O estudo sustenta que as 210 pessoas mais ricas do Vietnã ganham o suficiente para tirar da pobreza 3,2 milhões de vietnamitas.
"As receitas líquidas por família aumentaram nos últimos anos, mas o ritmo foi mais rápido entre os mais ricos. Os analistas elogiaram o sucesso do Vietnã na redução da pobreza, mas o país não deveria dormir sobre seus louros", alertou em artigo na imprensa local a diretora da Oxfam no Vietnã, Babeth Ngoc Han.
O próprio secretário-geral do Partido Comunista, Nguyen Phu Trong, reconheceu em várias ocasiões que as diferenças sociais cresceram enquanto muitos membros do partido levam um estilo de vida luxuoso.
Para remediar a situação, a Oxfam considera necessário acabar com a corrupção institucional, melhorar o acesso dos pobres a serviços públicos e reformar o sistema fiscal em prol dos mais desfavorecidos.