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O Itamar do Sul

Governador do Paraná joga gasolina ao fogo no caso dos transgênicos

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h14.

No momento em que o governo, depois de agonizar sobre o assunto durante quase um ano, consegue, enfim, parir um projeto de lei sobre os transgênicos, lá vem ele de novo -- o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB). Um político cujo marketing mistura trombada com barulheira, ele armou uma confusão dos diabos ao proibir a circulação, dentro do estado, de caminhões carregados com soja sem rótulo de procedência. Não satisfeito, determinou a suspensão dos embarques pelo porto de Paranaguá -- inclusive da soja paraguaia para exportação.

A legalidade disso é muito discutível, por se tratar de assuntos da alçada federal. Mas o governador conseguiu, assim, jogar mais gasolina na fogueira de um assunto de caráter técnico e comercial -- as vantagens e desvantagens, para a saúde das pessoas, para o meio ambiente e as contas do país, de se produzir, consumir e exportar organismos geneticamente modificados -- que foi transformado, de forma delirante e equivocada, em questão ideológica.

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Requião seguiu seu padrão de atuação demagógica: proclamar perante o eleitorado sua "independência" e seu anti-"liberalismo". Não por acaso, já foi tido como uma espécie de Itamar Franco do Sul. Ele não chegou aos extremos de delírio do ex-presidente no governo de Minas -- quando, para supostamente barrar as intenções de FHC de privatizar Furnas, ordenou uma cômica "concentração de tropas" às margens de uma represa da estatal, humilhando a Polícia Militar com um bivaque de escoteiros. Mas, no Paraná, Requião já fez e aconteceu. Em seu primeiro governo (1991-1995), viu-se acusado de dar cobertura a invasores de terras, recusou-se a cumprir ordens judiciais e teve solicitada a intervenção federal no estado pela própria Associação dos Magistrados.

Os problemas com a Justiça incluíram a cassação de seu mandato pelo TRE por crime eleitoral cometido durante a campanha de 1990, em que sua propaganda forjou um motorista desempregado como suposto matador de aluguel a serviço do candidato adversário. Substituído durante uma semana pelo vice-governador, acabou voltando ao cargo porque o Tribunal Superior Eleitoral encontrou um erro técnico no processo.

Inimigo feroz de privatizações, Requião decretou com alarde, logo no início deste seu segundo mandato, a intervenção nas rodovias sob concessão, enquanto baderneiros do MST ocupavam e depredavam postos de pedágio. Acabou voltando atrás, mas vem se dedicando a derrubar uma por uma as medidas adotadas por seu antecessor, Jaime Lerner, que tenham a ver com privatizações ou vantagens para empresas, inclusive rasgando contratos.

Na política propriamente dita, Requião também surfa no estardalhaço. Foi secretário de Estado do governador Álvaro Dias, que o elegeu sucessor em 1990 -- para logo se tornar inimigo mortal do mentor, contra quem, em 2002, disputou o governo fazendo uma campanha de acusações em grande parte impublicáveis. Em sua primeira gestão, em brigas internas do PMDB, instituiu um "disque-Quércia" para recolher denúncias de ladroagem contra o ex-governador paulista -- para, durante os anos FHC, unir-se a Quércia contra a cúpula do partido, favorável ao presidente. Apoiou Lula em 2002, mas fala mal de auxiliares do presidente e critica sua política econômica.

Agora, suas medidas sobre a soja criaram um problema diplomático com o Paraguai, lançaram incerteza sobre o setor mais dinâmico da economia e reforçaram, no exterior, a impressão de que a insegurança jurídica reinante no país ameaça os investimentos estrangeiros -- cruciais, como se sabe, para sairmos da pasmaceira. Será que ele ficou satisfeito?

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