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Novo Congresso dificulta governo do presidente eleito

Seja quem for o vencedor do segundo turno no próximo dia 27, uma coisa é certa: ele precisará formar uma bancada de coalizão no Congresso para governar com tranqüilidade. E isso não será fácil. Nas eleições, o bloco de oposição, liderado pelo PT, cresceu na Câmara e no Senado, mas não o suficiente para dar […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h35.

Seja quem for o vencedor do segundo turno no próximo dia 27, uma coisa é certa: ele precisará formar uma bancada de coalizão no Congresso para governar com tranqüilidade. E isso não será fácil.

Nas eleições, o bloco de oposição, liderado pelo PT, cresceu na Câmara e no Senado, mas não o suficiente para dar a Lula a maioria de que ele precisaria no Congresso. O PT ganhou seis novas cadeiras no Senado e ficou com a terceira maior bancada da Casa, de 14 senadores. Fica atrás apenas de PMDB e PFL que têm 19 cada um. Na Câmara, os petistas devem passar de 58 deputados para até 80, número muito próximo das bancadas de PMDB e PFL. O governista PSDB sai derrotado no Legislativo: perdeu três cadeiras no Senado, de 14 para 11, e deve cair de 90 para algo como 60 deputados na Câmara, de acordo com estimativas de especialistas.

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"O PT sai fortalecido das eleições legislativas, mas não irá conseguir governar e colocar em prática suas propostas se não fizer alianças com o bloco de centro (PSDB-PMDB)", afirma o cientista político Fernando Limongi, professor da USP. "A oposição cresceu, mas o Congresso manteve a hegemonia dos partidos de centro e de direita." Está desenhado para o PT, portanto, um desafio que parece ser maior do que vencer a eleição.

A primeira vitória de Lula pode até sair das urnas no dia 27 de outubro. Mas, conhecendo a nova (ou velha) cara do Congresso, ele precisará convencer todas as facções de seu partido, da cor-de-rosa a mais xiita, de que precisa do PSDB e do PMDB para governar. Em um cenário não tão absurdo, teria de recorrer até ao PFL de Antônio Carlos Magalhães. "A bancada de esquerda sai da eleição com cerca de 140 cadeiras. Mas 140 ou 250 é a mesma coisa. Lula continuaria sem maioria", diz Limongi.

Para garantir a metade mais um dos votos no Congresso, o PT teria de costurar alianças com o bloco de centro-direita, o que, na prática, incluiria a troca natural de favores da política: eu apóio você aqui e ganho um ministério ali. O que o PT sempre criticou como fisiologismo político terá de ser visto, se chegar ao poder, como saídas para governar. "Essas trocas fazem parte do jogo político", diz Limongi. "Em qualquer país maduro democraticamente o partido do presidente não governa sozinho."

Mas uma aliança entre PT e PSDB não seria fácil, afirma a cientista política Maria DAlva Kinzo, da USP. A disputa do segundo turno, diz ela, deve polarizar o cenário político entre os dois partidos e, seja quem for o vencedor, terá o outro como oposição. "Em um primeiro momento, o PSDB será oposição a Lula. Nesse cenário pós-eleitoral é praticamente descartável uma aliança com o PSDB", diz Kinzo. "É mais provável que o PMDB, apesar de participar da chapa de Serra, passe a apoiar um possível governo petista."

Claro que, apesar de a disputa eleitoral colocar o PSDB contra um possível governo Lula, os tucanos, afirma Limongi, têm uma vocação de centro e dificilmente fariam oposição sistemática a Lula. "Não vejo o PSDB e o PMDB adotando discursos de ataque ao governo por muito tempo", diz ele. "O discurso deles será mais ou menos na linha nós somos patriotas, somos responsáveis, não vamos por fogo no circo. Vai ter uma negociação com o PSDB à médio prazo."

Sobraria para o PT, portanto, uma aliança com o PFL. Mas tanto Limongi quanto Kinzo julgam essa possibilidade remota. "O PFL pode até querer ser governo de novo, mas a questão é se o PT vai querer", afirma Kinzo. Para a professora, Lula até poderia contar com o apoio do partido de Antônio Carlos Magalhães em votações pontuais, mas não há espaço para uma aliança de governo. Na opinião de Limongi, a aproximação com o PFL custaria muito caro à imagem do PT: "Os dois partidos não concordam com as mesmas políticas públicas. A troca de favores e cargos com o PFL seria muito custosa para os petistas". Caso seja eleito, desenha-se para Lula, portanto, um cenário no Congresso muito longe do confortável.

Vitória de Serra

Se a eleição de 27 de outubro, no entanto, reservar a vitória a Serra, o cenário ficaria bem mais claro, mas não mais fácil. O tucano teria as mesmas dificuldades enfrentadas por Fernando Henrique para governar: precisaria de uma aliança com o PFL para ter maioria no Congresso e sofreria oposição do PT.

"O Serra, quer ele queira ou não, terá de reeditar a aliança que Fernando Henrique fez com o PFL em 94 para conseguir governar. Não há outro expediente", diz Limongi. "O PT será oposição. Ele não irá arriscar seu capital eleitoral para fazer acordo com o PSDB."

Para Kinzo, o tucano teria pela frente uma oposição com muito maior peso na balança: "Qualquer que seja o eleito, o PT vai se colocar como um dos principais partidos. Ganha uma posição mais proeminente e tem mais força de negociação". Ou seja: um eventual governo Serra também teria uma vida nada confortável no Legislativo.

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