Jornalistas e estudantes protestam em Xalapa após assassinato de Regina Martínez: a organização citou o assassinato de 14 jornalistas em um período de seis meses na América Latina (Sergio Hernandez/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2013 às 10h30.
Denver - Em seu primeiro discurso na condição de presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Elizabeth Ballantine atacou nesta terça-feira, 22, o que classificou de "ditaduras democráticas" na América Latina, entre as quais mencionou Argentina, Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador.
"É uma óbvia contradição quando temos governos eleitos pelo povo em eleições livres que começam a destruir a democracia uma vez que chegam ao poder", declarou a americana, que terá um mandato de um ano frente à SIP, organização que reúne 1.400 veículos de comunicação do continente.
Ballantine substitui o equatoriano Jaime Mantilla, que encerrou seu mandato durante a 69ª Assembleia Geral da entidade, realizada em Denver, nos Estados Unidos.
Documento aprovado ao fim do evento apontou as revelações de espionagem nos EUA, o assassinato de 14 jornalistas em um período de seis meses, as restrições crescentes à atuação da imprensa em vários países latino-americanos e a impossibilidade de acesso a informações públicas como as principais ameaças à liberdade de expressão nas Américas.
Ballantine ressaltou que o ataque à imprensa nas "ditaduras democráticas" é feito em nome da verdade, da justiça e da precisão. "Mas são eles (os governos) que definem o que é verdadeiro, justo e preciso", disse. "Eles ignoram a separação de Poderes, a Justiça, a independência e, claro, a liberdade de imprensa", afirmou.
Durante o evento, o presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da entidade, Claudio Paolillo, destacou que todos os casos de assassinatos de jornalistas em 2013 no continente permanecem impunes.
Governo Obama
A grande novidade do encontro foi a inclusão dos Estados Unidos no rol de países nos quais a atividade jornalística está sob ameaça. O governo de Barack Obama iniciou mais processos contra funcionários públicos que vazam informações confidenciais do que todas as administrações que o antecederam.
Os jornalistas sustentam que a ofensiva amedrontou fontes de informação e levou à quebra do sigilo de comunicação em redações. O caso mais gritante foi o da Associated Press, alvo de investigação sobre a fonte de reportagem de um fracassado ataque terrorista no Iemên contra um avião com destino aos Estados Unidos.
"A SIP compartilhou preocupação de organizações estadunidenses sobre o rumo na liberdade de imprensa no país, sacudido por revelações de espionagem contra jornalistas e indivíduos", declarou documento aprovado no fim do encontro.
Leis de acesso
Na América Latina, a entidade defendeu a aprovação de leis de acesso à informação em todos os países da região e criticou a "cultura do segredo" que impera em vários países. "Os presidentes e funcionários públicos da Argentina, Bolívia, Equador, Nicarágua, Panamá e Venezuela se negam a conceder entrevistas ou entrevistas coletivas."
A americana Ballantine disse ainda esperar que os Estados Unidos não esteja no caminho de uma versão própria da "ditadura democrática", na qual o governo é o único a definir o que é "segurança nacional".
Os integrantes da entidade criticaram ainda o fato de o Congresso americano continuar mostrando resistência à aprovação de uma lei de proteção à fonte e que evite a prisão de jornalistas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.