Terminal de grãos: infraestrutura e produtividade atrapalham a competitividade brasileira (Germano Lüders / EXAME)
João Pedro Caleiro
Publicado em 30 de maio de 2016 às 15h00.
São Paulo – O Brasil caiu uma posição e ficou no 57º lugar entre 61 países na última edição do ranking de competitividade da escola de negócios suíça IMD, divulgado hoje.
É nossa pior posição desde que o ranking começou a ser publicado em 1989. A perda acumulada é de 19 posições desde 2010, quando o Brasil teve seu melhor resultado: 38º.
O Brasil está na frente apenas de 4 países: Croácia, Ucrânia, Mongólia e Venezuela. Neste ano fomos ultrapassados pela Argentina, que subiu 4 posições e ficou em 55º. Em 36º, o Chile é a única economia latino-americana que não está entre os 20 últimos.
“Esse ano pode ter tido a influência de vários fatores, mas o cenário é de declínio constante”, diz José Caballero, pesquisador-sênior do Centro de Competitividade Mundial do IMD.
O estudo considera 340 critérios em 4 pilares: performance econômica, eficiência do governo, eficiência dos negócios e infraestrutura.
Um terço da pontuação vem de uma pesquisa de percepção de executivos, realizada no Brasil pela Fundação Dom Cabral entre janeiro e abril com mais de 200 respondentes.
A má posição do país reflete ao mesmo tempo pioras objetivas pontuais, a perda de espaço relativo na corrida com outros países e também um período interno longo de incerteza e falta de confiança.
“O ano passado foi a primeira vez que o Brasil recuou de nota em relação a si mesmo, e os outros países não estão parados nos esperando”, diz Carlos Arruda, professor da FDC e coordenador do estudo no Brasil.
Na contramão de uma Ásia com declínio relativo de competitividade, Hong Kong lidera o ranking desbancando os Estados Unidos, que caiu para terceiro. Em segundo está a Suíça.
O top 10 é Hong Kong, Suíça, Estados Unidos, Singapura, Suécia, Dinamarca, Irlanda, Holanda, Noruega e Canadá.
Performance Econômica
O Brasil ficou na 55ª posição em "Performance Econômica", uma queda de 25 posições em relação ao seu melhor momento (30º lugar em 2011).
Isso foi um reflexo do cenário dramático da economia brasileira no ano passado, com queda do PIB de 3,8%, inflação de dois dígitos e desemprego em disparada (item que foi de 14º para 43º no ranking geral).
A formação bruta de capital fixo caiu 15 posições e ficou em 59º enquanto a despesa de consumo das famílias despencou 52 degraus.
Por seu tamanho, o Brasil se beneficia em critérios de números absolutos, tais como investimento estrangeiro direto e escala do mercado de trabalho.
Eficiência do Governo
O Brasil ficou em último no pilar “Eficiência do Governo”, com a penúltima posição em critérios como custo de capital, transparência, burocracia, barreiras tarifárias, déficit do governo, regulações de trabalho, finanças públicas e spread de juros.
O cenário de crise ética e institucional pelos olhos do empresariado pode ser vislumbrado claramente: também somos penúltimo lugar mundial em percepção de "transparência" e "propina e corrupção".
Também houve piora sensível no item “risco de instabilidade política” (a pesquisa foi feita durante o desenrolar do impeachment) ao mesmo tempo em que melhorou a percepção de "Justiça".
De acordo com Arruda, isso é fruto de "Operação Lava Jato direto e da percepção nas empresas de que o Judiciário está operando de forma mais independente e eficiente”.
Eficiência dos Negócios
O Brasil chegou a 27ª posição no pilar de Eficiência de Negócios em 2012, mas foi caindo até chegar ao 51º lugar em 2015, onde continuou em 2016.
Isso é reflexo de notas baixas em itens que medem produtividade, práticas corporativas e habilidades da força de trabalho.
“Para competir em uma economia baseada em conhecimento, você precisa ter esse tipo de fundamento, e o que mais me preocupa no Brasil é a capacidade de inovar. As empresas precisam ser flexíveis e ter estratégias que possam mudar dependendo do momento, além de trabalhadores com habilidades particulares”, diz Caballero.
O crescimento real da produtividade brasileira caiu 12 posições em um ano, de 48º para 60º. A produtividade das companhias e dos trabalhadores continuou na mesma posição: 60ª e 58ª, respectivamente.
Infraestrutura
Na parte de infraestrutura, o Brasil ganhou 7 posições. Parte disso vem da melhora de alguns indicadores, como a infraestrutura aeroportuária e de acesso à água após a seca de 2014.
Também levamos vantagem na nossa porcentagem de energia que vem de fontes renováveis, mass mudanças metodológicas ttiveram impacto importante.
O investimento em telecomunicações, por exemplo, era calculado pela porcentagem do PIB e passou a ser medido pelo gasto de capital agregado, o que favorece países com grande volume.
O Brasil está bem posicionado no nível total de gasto público em educação (9º lugar) e de gasto em saúde (12º lugar), mas patina na nota do sistema educacional (59º) e na infraestrutura de saúde (60º).
De acordo com os pesquisadores, isso revela que o país não aplica os recursos que tem de forma correta e eficiente.
"Isso me diz que o investimento está sendo feito de forma errada. O Brasil precisa de políticas claras e consistentes e de consenso social sobre para onde quer caminhar", diz Caballero.