Preço da gasolina deve subir em pouco mais de 4 por cento (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 30 de janeiro de 2013 às 15h20.
São Paulo - O reajuste da gasolina abre espaço para um aumento do preço do etanol ao consumidor final que poderá atingir um percentual equivalente ao do combustível fóssil, mas é insuficiente para cobrir a situação de aperto vivida pela indústria da cana, apontam especialistas.
Na bomba, o reajuste da gasolina deverá ficar em pouco mais de 4 por cento, apontou o governo nesta quarta-feira. Como o etanol é concorrente do combustível fóssil no Brasil, ele teria espaço para subir, embora alguns fatores possam limitar essa alta.
"Tecnicamente, a usina teria um espaço para subir o preço na bomba de etanol em torno de 4 por cento... Na prática vai depender muito das condições de oferta e demanda do etanol por parte da usina", disse Julio Maria Borges, diretor da Job Economia.
Ele ressaltou que a situação de oferta de etanol é considerada confortável, com estoques suficientes para cobrir a demanda de pouco mais de dois meses e meio, o intervalo de tempo que ainda dura a entressafra.
Já ao final de março, perto do início oficial da nova safra (2013/14) em abril, o volume estocado deverá estar em nível correspondente a 20 dias de consumo.
"Existe etanol suficiente para abastecer o mercado até abril... Então vai depender muito da competição que acontecer na usina", afirmou ele, referindo-se a uma eventual concorrência entre empresas para a venda do produto.
Ele ressaltou que o aumento estimado vai depender ainda da necessidade das usinas de liberarem seus estoques e também das distribuidoras, que vão considerar a demanda na sua decisão de preços.
IMPACTO LIMITADO
Na avaliação de Miriam Bacchi, pesquisadora do Cepea/Esalq (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), mesmo com o aumento o setor ainda seguirá pressionado.
A indústria sucroalcooleira do Brasil tem enfrentado dificuldades para garantir margens de lucro, em meio ao aumento de custos de produção e à estagnação dos preços de açúcar e etanol.
Segundo a analista do Cepea, a pressão segue primeiro porque o percentual da alta da gasolina não deve ser completamente repassado na bomba. Em segundo lugar porque o setor sucroalcooleiro ainda trabalha com custos fixos que fazem com que a velocidade de transmissão de despesas seja mais lenta.
Além disso, ela pondera que talvez a medida tenha influência limitada no aumento da demanda por etanol.
"Porque com este diferencial de preços de gasolina e etanol, não sei se vai ser suficiente para fazer os consumidores migrarem para o etanol", disse.
O preço da gasolina funciona como um teto para o etanol, uma vez que o biocombustível só é competitivo na bomba se estiver num patamar de até 70 por cento em relação ao combustível fóssil.
Mesmo assim, ela observou que os postos não conseguem armazenar grandes volumes e precisarão em breve repor seus estoques, o que já acontecerá após o aumento dos preços.
"Como a partir de hoje, as compras (dos postos) já serão feitas em níveis de preços mais elevados, da forma como o mercado vem funcionando, a gente pode ter um impacto em uma ou duas semanas", apontou.
INDÚSTRIA QUER MEDIDAS MAIS AMPLAS
Sem falar sobre preços, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) considerou a medida positiva, mas ressalvou que é apenas uma das ações necessárias para compensar as perdas do setor.
A associação citou ainda a necessidade de aumento na mistura de etanol na gasolina e a desoneração do etanol através do PIS/COFINS na distribuição.
"Medidas pontuais, como a de hoje, ou as outras que vêm sendo cogitadas, serão positivas no curto prazo, mas não substituem ou eliminam a importância de medidas mais amplas", disse em nota.
Atualmente, a mistura do etanol anidro à gasolina está em 20 por cento, mas o setor espera a elevação do percentual para 25 por cento no início de junho.