Economia

Por que o Bolsa Família merece aplausos?

Adiantando a resposta: sim, programas como esse são bons, têm benefícios altos e custos baixos


	Bolsa Família: dar dinheiro aos pobres é bem melhor que dar remédio ou comida
 (ROBERTO SETTON /EXAME)

Bolsa Família: dar dinheiro aos pobres é bem melhor que dar remédio ou comida (ROBERTO SETTON /EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de outubro de 2015 às 14h34.

São Paulo - Bolsa Família, Bolsa Escola, Progresa, Oportunidad… O nome e o país de origem podem mudar, mas a essência desses programas é a mesma: transferir renda para os mais pobres em troca de algumas condicionalidades.

Entre elas, cuidar da saúde dos filhos e matricular a criançada na escola.

Quais os benefícios (prós) e os custos (contras) de programas como esses? Eles são bons?

Adiantando a resposta: sim, são bons programas. Têm benefícios altos e custos baixos.

Começaremos pelos benefícios.

O Bolsa Família é focado nos mais pobres, o que é importantíssimo. Assim, não se desperdiça dinheiro público com benefícios aos não pobres – como os descontos dados recentemente (e já convertidos em reajustes para cima) na conta de energia, por exemplo.

Além disso, o Bolsa Família cai direto na conta do beneficiário. Isso reduz o espaço para roubos.

Dar dinheiro aos pobres é bem melhor que dar remédio ou comida. Por quê?

Primeiro, quando a transferência é de bens físicos, crescem os riscos de corrupção: os representantes públicos passam a interagir com fornecedores privados.

Segundo, quem sabe o que fazer melhor com o dinheiro? O próprio beneficiário. Ele pode comprar roupas, comida ou remédios, de acordo com suas necessidades mais urgentes.

Atenção: desprezar esses fatores equivale a chamar o pobre de burro.

Claro, a condicionalidade é importantíssima. Constitui uma porta de saída (embora imperfeita) para o filho pobre não herdar a mesma condição social de seus pais quando chegar a vez dele ter seus filhos.

Com o Bolsa Família, meninos e meninas passam a ter um nível de capital humano mais elevado que o de seus pais.

Compare o “investimento Bolsa Família” com o “investimento Aumento das Aposentadorias”, por exemplo. No segundo caso, o incentivo à matrícula de crianças na escola é igual a zero. E a “taxa de retorno” é menor, afinal, um idoso não tem mais uma vida inteira pela frente.

O que não significa, obviamente, que devamos deixar de pensar nos velhinhos e velhinhas do Brasil. Nada disso. Mas, claro, devemos nos preocupar relativamente mais com as crianças.

E, finalmente, o Bolsa Família, além de tudo isso, traz impactos positivos para a renda de pessoas pobres que nem sequer participam do programa: os pobres sem filhos.

Um exemplo simples ajuda a ilustrar esse efeito indireto. Imagine dois tipos de empregadas domésticas com baixíssima renda: com e sem filhos.

Digamos que algumas funcionárias com filhos recebam o Bolsa Família e deixem o mercado de trabalho. Isso é ruim? Tem certeza?

Por um lado, sem trabalhar elas poderiam cuidar dos filhos mais de perto. E, por outro, a oferta total de faxineiras cai. E, com isso, o salário das faxineiras sem filhos e sem acesso ao Bolsa Família sobe!

Entenderam o grau de eficiência? O Bolsa Família ajuda a redistribuir renda direta e indiretamente.

Mas vamos aos custos?

Eles são irrisórios. O custo desses programas é pequeno. No Brasil, o Bolsa Família chega a custar aos cofres públicos menos de 1% do PIB. O programa paga baixos valores, na casa dos 200 reais por família assistida, de maneira bem focada.

O outro custo é fruto de alterações nos incentivos às pessoas. Inicialmente, parece fazer todo sentido: se quem faz um seguro de carro pode abandonar o estacionamento para deixar seu carro na rua (onde o risco de roubo é maior), não ficariam os beneficiários do Bolsa Família menos preocupados em trabalhar duro?

Esse efeito pode até existir, mas se devemos encarar esses casos como um problema é algo menos óbvio.

Seguramente, seria problemático se a grana do Bolsa Família passasse dos mil reais. Mas é difícil dar peso a essa possível consequência quando os montantes são bem reduzidos.

De novo: o pobre não é burro. Uma pessoa só deixa de trabalhar por causa de 150 reais a mais se as condições de trabalho (salário, horas trabalhadas, distância de casa, etc) forem péssimas. E, portanto, o Bolsa Família parece mais solução que problema.

E há ainda este típico argumento contrário ao programa:

– Ah, esse Bolsa Família aí faz o pobre ter mais filhos para receber um dinheirinho a mais…

Vejamos…

Cada filho até 15 anos gera uma receita adicional de 35 reais por mês. Pensar que essa quantia é capaz de motivar alguém a sair tendo filhos é ofender demais a inteligência do pobre: 35 reais a mais por mês não chega nem perto do custo de se criar mais um filho, mesmo no caso de pais negligentes.

Repetindo, pela última vez: o pobre não é burro.

Batamos palmas ao Bolsa Família: é bom e barato.

Acompanhe tudo sobre:Bolsa famíliaConsumoDinheiroeconomia-brasileiraPIBPIB do BrasilPobreza

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor