Economia

Mercado já conta com um corte maior da taxa Selic

Uma desaceleração mais acentuada da inflação e um avanço expressivo do ajuste fiscal no Congresso poderiam ser os detonadores desta melhora de expectativas


	Banco Central: "Aqueles três pontos mencionados como condicionantes do corte pelo Copom estão evoluindo", diz economista
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Banco Central: "Aqueles três pontos mencionados como condicionantes do corte pelo Copom estão evoluindo", diz economista (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 4 de outubro de 2016 às 18h26.

São Paulo - O mercado financeiro já precifica, com sobras, um corte discreto da taxa Selic pelo Banco Central em outubro, de 0,25 ponto percentual, e está a meio caminho de migrar para a aposta em uma redução mais agressiva, de 0,50 pp.

Uma desaceleração mais acentuada da inflação e um avanço expressivo do ajuste fiscal no Congresso poderiam ser os detonadores desta melhora de expectativas.

Analistas consultados pela Bloomberg estimam que o IPCA de setembro, que será divulgado na sexta, recue para 0,20%, contra 0,44% em agosto e 0,52% em julho.

Um índice neste patamar seria compatível com um corte de 0,25 pp da Selic em outubro, diz o economista João Souza Fernandes, da Quantitas.

Embora considere este corte discreto como mais provável, o economista não descarta uma redução maior da taxa de juros em caso de uma “combinação de fatores” positivos.

Os fatores mais importantes que poderiam sensibilizar o BC estão ligados à inflação e à política fiscal. Um IPCA de 0,20% ou menor, mas acompanhado de desaceleração mais expressiva dos preços de serviços e alimentos, combinado a um progresso firme da PEC do teto dos gastos no Congresso, por exemplo, poderiam levar a expectativa do mercado a migrar para um corte de 0,50 pp da Selic.

A PEC que limita os gastos públicos, que pode ser votada na quinta-feira em comissão da Câmara, poderá receber de 380 a 400 votos em plenário na semana que vem, disse hoje o jornal O Globo.

A derrota do PT nas eleições municipais ampliou o otimismo com a aprovação das medidas fiscais. A eventual aprovação da PEC com os números apontados pelo jornal carioca seria recebida no mercado como um “forte sinal” de que o governo Temer tem apoio suficiente para aprovar as reformas, diz Fernandes.

“Aqueles três pontos mencionados como condicionantes do corte pelo Copom estão evoluindo", diz José Antonio Pena, economista-chefe da Portopar DTVM.

Os pontos citados pelo BC como condições para um eventual corte da Selic são a queda da inflação de alimentos e serviços, que vinha pressionando os índices, e a melhora da perspectiva na área fiscal. "A chance de 0,50 pp está crescendo”, diz o economista.

Pena lembra que, em geral, o segmento de alimentos do IPC da Fipe, que mede a inflação apenas em São Paulo, tem “relação boa” com o IPCA.

O IPC-Fipe de setembro divulgado hoje desacelerou muito mais que o esperado e registrou deflação de 0,14%, contra uma estimativa mediana de -0,02% em pesquisa da Bloomberg.

Foi o menor índice desde julho de 2013 e a 1ª deflação para meses de setembro desde 1998.

Pena espera alívio também na inflação de serviços. “Devemos voltar a ver o grupo de serviço com comportamento mais benigno, em um efeito ainda defasado de uma economia muito fraca, com desemprego alto”, diz o economista da Portopar.

Ele considera que o item serviços também deve refletir o fim da contaminação provocada pela Olimpíada em alguns itens, como os gastos com hotéis.

Fernandes, da Quantitas, espera que o IPCA que sai nesta semana mostre uma reversão importante da alta que alguns itens de alimentos, como feijão e leite, vinham mostrando nos meses anteriores. Apenas em julho, segundo o economista, o feijão chegou a subir 40%.

“Os alimentos devem ser o principal fator de baixa da inflação”. Ele adverte, porém, para o risco de o preço da carne voltar a subir, incorporando o aumento recente de custos.

Mesmo que a inflação de setembro venha mais baixa, é praticamente consensual no mercado que a aposta em um corte maior dos juros não vai se materializar se o Congresso não der um sinal verde para as reformas fiscais.

“As reformas são prioritárias para o BC”, diz Fernandes.

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