Economia

Como duas teorias opostas ganharam o mesmo prêmio Nobel

Eugene Fama e Robert Shiller, dois dos três ganhadores do prêmio Nobel de economia deste ano, desenvolveram teorias econômicas opostas, mas foram igualmente reconhecidos


	Eugene Fama e Robert Shiller, ganhadores do Nobel de Economia: o primeiro defende que os mercados são eficientes, o outro, que eles não são
 (Scott Olson/Getty Images/REUTERS/Michelle McLoughlin)

Eugene Fama e Robert Shiller, ganhadores do Nobel de Economia: o primeiro defende que os mercados são eficientes, o outro, que eles não são (Scott Olson/Getty Images/REUTERS/Michelle McLoughlin)

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2013 às 18h19.

São Paulo - O anúncio de que os economistas americanos Eugene Fama, Robert Shiller e Lars Peter Hansen dividiriam o Prêmio Nobel de Economia de 2013 pegou muitos de surpresa na manhã desta segunda-feira. Isso porque os dois primeiros, Fama e Shiller, são conhecidos por terem teorias opostas: enquanto o primeiro mostrou que os mercados são eficientes, o segundo foi na direção contrária.

Os três foram premiados por seus trabalhos pioneiros em identificar as tendências nos mercados financeiros, segundo o comunicado da Real Academia de Ciências da Suécia, organizadora do prêmio.

O prêmio à Robert Shiller parece óbvio levando em conta o momento de crise financeira que o mundo ainda enfrenta.

O economista antecipou a formação da bolha imobiliária americana que desencadeou a crise de 2008, da mesma forma como havia antecipado a bolha do mercado de ações de empresas de internet nos Estados Unidos, no ano 2000. 

No início dos anos 1980, ele descobriu que os preços das ações flutuam muito mais que os dividendos, e que a razão entre preços e dividendos tende a cair quando está alta e a subir quando está baixa, o que se aplica não só a ações, mas também a títulos e outros ativos.

O lado da eficiência

A visão de Shiller, que encontrou certa previsibilidade nos mercados, é diferente da de Eugene Fama. Para este último, os mercados se ajustavam por si próprios obedecendo às análises do momento, de maneira eficiente e, portanto, imprevisível.

A teoria, desenvolvida nos anos 1960, defende que os preços das ações são extremamente difíceis de prever no curto prazo e que novas informações são rapidamente incorporadas nos preços.

A ideia de mercados eficientes, no entanto, vem sendo bastante criticada nos últimos anos, mas é inegável sua contribuição para o entendimento do comportamento dos mercados. 

Uma análise do economista e jornalista Tim Harford, no Financial Times, diz que apesar do “timing” parecer errado, a premiação de Fama é merecida.

“A crença de que os mercados financeiros são eficientes significa que o preço das ações hoje reflete tudo o que sabemos atualmente sobre seu valor. Não há pechinchas óbvias, não há previsões fáceis, nem esquemas de enriquecimento rápido”, afirma Harford em seu texto.


Se Fama estiver certo – e segundo Harford, as evidências ainda sugerem que sim – ninguém pode prever como o mercado vai se comportar amanhã porque os mercados eficientes já refletem tudo que é possível saber. Os preços mudam diariamente por causa das notícias do dia e não por nada que possa ser antecipado: neste tipo de mercado, a performance passada não te diz absolutamente nada sobre o futuro.

Embora, as duas teorias pareçam opostas e, por isso, soe estranho que Shiller e Fama dividam o prêmio, elas são complementares. 

Como diz Harford, enquanto a contribuição de Shiller ao pensamento econômico é mais óbvia, a de Fama é mais sútil. “Se mais investidores tivessem levado a teoria de mercado eficiente a sério, eles teriam encarado com mais desconfiança os ativos do subprime que estavam classificados como sendo muito seguros embora tivessem altos retornos”, diz o analista.

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