Economia

Bancos centrais já não conseguem "transformar água em vinho"

Um dos motivos para o medo nos mercados financeiros é a sensação de que arsenal contra nova crise foi esgotado, dizem relatórios de bancos

Obra de Jesus transformando água em vinho na mina de sal de Wieliczka, na Polônia (Lawestberg/Wikimedia Commons)

Obra de Jesus transformando água em vinho na mina de sal de Wieliczka, na Polônia (Lawestberg/Wikimedia Commons)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 18 de março de 2016 às 12h47.

São Paulo - "Os investidores cada vez mais olham os encontros de políticas públicas como catalisadores de venda de ativos, não de compra. Os bancos centrais não podem mais transformar 'água em vinho'"

A frase de um relatório recente do Bank of America Merril Lynch ilustra uma das raízes do medo que tomou os mercados financeiros.

Diante da crise de 2008, os países ricos derrubaram os juros e fizeram programas de expansão monetária numa escala inédita.

Uma depressão global foi evitada, mas a inflação nunca voltou para a meta e o crescimento continuou decepcionando.

A ideia era que os programas de estímulo fossem desmontados com o tempo, mas esse processo ficou pela metade e as dívidas continuaram subindo.

E agora, qual é o arsenal que sobrou para responder a uma nova queda da demanda?

"Os riscos para o cenário econômico estão exacerbados pelas preocupações de que respostas apropriadas de políticas contracíclicas não existem ou não seriam efetivas em vários países, incluindo os Estados Unidos, a zona do euro, Japão, Reino Unido e China", diz um relatório recente do Citi.

Nos Estados Unidos, a normalização da política monetária prometida pelo Federal Reserve de Janet Yellen teve até agora uma única alta de juros e parece interrompida até segunda ordem.

A China busca um equilíbrio impossível entre crescimento, estabilidade e reformismo. Continuar estimulando a expansão no atual nível e modelo apenas acentuaria os desequilíbrios de capacidade, alavancagem e envididamento que preocupam o mercado.

O Japão e outros países europeus tem respondido ao problema da estagnação levando os juros para território negativo, um "truque" polêmico e que até pouco tempo estava fora de questão - além de gerar preocupações sobre a sustentabilidade dos bancos.

"Por trás de parte da turbulência dos últimos meses está a percepção crescente nos mercados financeiros de que os bancos centrais podem estar esgotando suas opções de políticas efetivas", diz um texto recente do Bank of International Settlements, o "banco central dos bancos centrais". 

A resposta pode estar em outros instrumentos. Há cerca de um mês, a reunião do G-20 com ministros de finanças e presidentes dos bancos centrais falou muito em estímulos fiscais para reativar a economia global.

No entanto, a hipótese foi rechaçada frontalmente pela Alemanha, justamente um dos poucos países com espaço orçamentário para promovê-la. A receita do ministro Wolfgang Schäuble está baseada em "reformas estruturais".

Acompanhe tudo sobre:AlemanhaEstados Unidos (EUA)EuropaJurosPaíses ricosPolítica fiscalPolítica monetária

Mais de Economia

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo

Brasil será menos impactado por políticas do Trump, diz Campos Neto

OPINIÃO: Fim da linha