Vista noturna de Oslo, na Noruega: país debate o que fazer com maior fundo soberano do mundo (Tomm W. Christiansen/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 9 de setembro de 2013 às 20h30.
São Paulo - A Noruega vota hoje para escolher seu novo governo, e as pesquisas indicam que a coalizão "verde-vermelha" liderada pelos trabalhistas, do atual primeiro-ministro Jens Stoltenberg, deve perder para a coalizão "burguesa" dos partidos de direita.
No país que ostenta o mais alto índice de desenvolvimento humano do mundo, a opinião pública se divide em questões como imigração, impostos e a melhor forma de lidar com o dinheiro que não para de jorrar no "fundo de pensão global" do governo.
Com cerca de 5 milhões de pessoas, a Noruega é o 14º maior produtor de petróleo do mundo, e decidiu, a partir de 1995, colocar os recursos de receitas, concessões e impostos do setor em um fundo soberano.
O objetivo, no longo prazo, é diversificar a economia e continuar financiando um estado de bem-estar social generoso para uma população cada vez mais velha.
Enquanto o PIB da Noruega foi de 500 bilhões de dólares em 2012, só o fundo já acumula cerca de US$ 750 bilhões (e pode ultrapassar 1 trilhão de dólares até o final da década). Para evitar um superaquecimento local, os investimentos são feitos globalmente em ações e títulos: estima-se que o fundo detenha 1,25% do valor de mercado de todas as companhias do mundo.
Responsável por administrar os recursos, o Norges Bank Investment Management, ligado ao Ministério das Finanças, não tem atingido o alvo de 4% de retorno anual, o mesmo limite estabelecido para quanto o governo pode retirar do fundo para financiar seu orçamento. Na campanha atual, tanto a meta quanto o limite foram alvo de debates intensos.
Disputa
Concorrendo com uma plataforma de corte de impostos e aumento de investimentos, com menor foco em gastos sociais, a líder do Partido Conservador Erna Solberg está em primeiro nas pesquisas e promete rever a estrutura do fundo: "o objetivo é um só: aumentar o retorno dos nossos investimentos sem tomar mais riscos. Somos investidores de longo prazo com o fundo, não perseguimos o lucro de curto prazo."
Uma das propostas é dividir o fundo em dois - recentemente, o porta-voz de Finanças do partido declarou ao Financial Times que a estrutura "funcionou muito bem até agora, mas será que é a certa para o futuro? Talvez poderíamos ter dois fundos que competem entre si. Com apenas um, fica difícil olhar e dizer que é o melhor modelo."
Já o pequeno e radical Partido do Progresso, também parte da coalizão, vai mais longe: propõe suspender o limite de 4% e usar os recursos excedentes para investir em educação e infraestrutura dentro do próprio país. O risco é o de superaquecer uma economia que cresceu 2,5% em 2011 e 3,5% em 2012, mesmo cercada por uma Europa em recessão.
Provável futura primeira-ministra, Elena já decretou que seu partido não será parte de "um governo que conduz uma política econômica irresponsável" e que "o ponto mais importante de negociação é a natureza das despesas, e não em exceder os 4%" .
Enquanto isso, os noruegueses também decidem hoje em um referendo se querem concorrer para sediar as Olimpíadas de Inverno em 2022. De acordo com as pesquisas, a maioria é contra. O principal motivo: o custo estimado de 5 bilhões de dólares é considerado muito alto.