Economia

Nobel de Economia, Stiglitz ataca Trump por ver comércio com Lei da Selva

O professor americano Joseph Stiglitz afirma que os críticos da globalização estão errados ao dizer que os acordos comerciais foram injustos com os EUA

"Trump quer voltar à Lei da Selva: quando há um conflito entre dois países, eles são resolvidos no soco e vence o mais forte", criticou Stiglitz (Drew Angerer/Getty Images)

"Trump quer voltar à Lei da Selva: quando há um conflito entre dois países, eles são resolvidos no soco e vence o mais forte", criticou Stiglitz (Drew Angerer/Getty Images)

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EFE

Publicado em 22 de abril de 2019 às 15h14.

Última atualização em 22 de abril de 2019 às 16h47.

Nova York — O professor americano Joseph Stiglitz, vencedor do Nobel de Economia em 2001, refletiu em coluna publicada nesta segunda-feira pela emissora "CBNC" se os acordos comerciais foram de fato injustos com os Estados Unidos e criticou o presidente do país, Donald Trump, por aplicar a "Lei da Selva" ao lidar com conflitos no setor.

Na coluna, Stiglitz fez reflexões que estarão em seu novo, intitulada "People, Power and Profits: Progressive Capitalism for an Age of Discontent", no qual discute os problemas da globalização.

O professor afirmou que os críticos da globalização estão errados quando dizem que os acordos comerciais foram injustos com os EUA e com a Europa, um argumento repetido por Trump para conquistar votos entre eleitores de classe média que perderam renda nos últimos anos.

O problema, segundo o economista, não é a injustiça, mas sim que os interesses das grandes empresas foram priorizados nesses acordos à custa dos trabalhadores dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, gerando estagnação na renda.

"Nós, como país, não fizemos o que deveríamos para ajudar os trabalhadores contra os que prejudicava a globalização. Poderíamos ter garantido que globalização beneficiasse a todos, mas a avareza corporativa era simplesmente grande demais", reconheceu o economista, que dá aulas na Universidade de Columbia, em Nova York.

Stiglitz ainda afirmou que passou os últimos 20 anos criticando a forma como a globalização foi administrada pelos países, mas de um ângulo completamente diferente de outros analistas.

Ex-economista-chefe do Banco Mundial, o professor disse que se deu conta de que as regras do jogo global eram pensadas para favorecer os mais fortes no período em que ocupou o cargo.

No entanto, Stiglitz fez questão de se distanciar das ideias de globalização defendidas por Trump. O economista defende a importância do estado de direito e de um sistema baseado na legalidade para a governança do comércio internacional contra a Lei da Selva proposta pelo presidente americano.

"Trump quer voltar à Lei da Selva: quando há um conflito entre dois países, eles são resolvidos no soco e vence o mais forte", criticou o economista americano.

Para Stiglitz, o caminho adotado por Trump visa um regime de comércio internacional que sirva aos interesses americanos, mas não compreende duas premissas essenciais.

A primeira é que os demais países não participariam de um mecanismo desfavorável a eles. E a segunda é que China e Europa podem se unir contra os EUA.

"Trump se equivoca ao culpar a globalização, seja por regras comerciais injustas ou por imigrantes não desejados. Mas os defensores da globalização também estão errados ao afirmar que ela não influenciou o drama da globalização e ao só culpar a tecnologia", explicou o vencedor do Nobel de Economia.

Stiglitz também responsabilizou os cidadãos, de forma geral, por terem avaliado mal as consequências da globalização e do progresso tecnológico.

"Precisamos de regras internacionais melhores e mais justas. Mas o que os EUA mais precisam é uma melhor gestão das mudanças que estão sendo trazidas pela globalização e pela tecnologia", concluiu Stiglitz.

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