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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h31.
São Paulo, 8 de janeiro (Portal EXAME) Mesmo que a meta de inflação estipulada para 2003 em conjunto com o Fundo Monetário Internacional não seja alcançada nem se o dólar chegar a 3,20 reais será possível chegar ao teto de 6,5%, alguns analistas do mercado avaliam que fazer alterações agora comprometeria a credibilidade do Banco Central. O custo de se mudá-la neste momento é maior que o de não cumpri-la novamente , dizem os economistas do BBV Banco.
De acordo com o BBV, as projeções de inflação para 2003, tanto das instituições financeiras como do BC mostram que será quase impossível o cumprimento da meta de inflação este ano. O centro da meta é de 4%, mais 2,5% de tolerância. O BC, que toma como hipóteses o câmbio constante a R$ 3,55 por dólar e a Selic a 25%, projeta 9,5%, e as expectativas de mercado estão em 11%. Mesmo utilizando uma hipótese mais otimista para a taxa de câmbio, como R$ 3,20 por dólar, a inflação projetada pelo BC é de 7,3%, ainda acima do teto. Será o terceiro ano consecutivo que a inflação irá superar o limite superior da meta, o que pode até colocar em dúvida a credibilidade do sistema de metas e reduz sua capacidade de coordenar expectativas, isto é, seu papel de âncora de preços.
O próprio ministro da Fazenda, Antonio Palocci, admitiu ser impossível alcançar a meta de inflação fixada para 2003 e sinalizou que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva deve esticar os prazos para atingir esse objetivo. Segundo ele, a prioridade econômica do novo governo será estabilizar o câmbio para permitir a queda gradual dos juros. "Acreditamos que melhor do que aumentar a meta é aumentar o prazo em que você se propõe a cumpri-la", afirmou o ministro durante entrevista no programa Roda Viva, da Rede Cultura, no final da noite de segunda-feira (6/1). "Acho que é possível alcançar a meta talvez não nesse ano, mas no próximo." O ministro afirmou que é "impossível alcançar as metas antes fixadas no curto prazo" porque o país sofreu um choque de oferta recentemente, o que levou as cotações do dólar estourarem. Ele explicou que o estabelecimento de compromissos inflacionários de curto prazo com o mercado poderia ser feito com o uso de metas ajustadas do Banco Central, "que iria de forma transparente dialogar com o mercado".
Pela falta de credibilidade no cumprimento da meta, alguns analistas defendem uma nova mudança. Na opinião do BBV, a opção traria conseqüências ainda piores. O principal argumento da análise do banco é que o desgaste sofrido pelo regime de metas desde 2001 (2003 será o terceiro ano consecutivo que o governo não conseguirá cumprir a meta) abalou a confiança do mercado quanto à capacidade ou disposição do BC de garantir o cumprimento da meta. Uma nova meta não significaria confiança automática de que ela seria cumprida. Ao contrário. Poderia até ser encarada como um atalho do governo para baixar a taxa de juros mais rapidamente.
Para justificar sua posição, o BBV mostra como as expectativas de inflação reagiram à elevação da meta de inflação para 2002 e 2003 feita em junho do ano passado. A meta de 2002 era de 5,5% e a expectativa de 5,72%. Para 2003, a meta passou de 5,25% para 6,5%, e automaticamente a expectativa de inflação pulou de 4% para 4,40%.
A proposta do BBV para lidar com esta questão está afinada com as últimas declarações do ministro da fazenda Antônio Palocci, que afirmou que irá manter a meta, mas estender o prazo de cumprimento. O relatório do banco fala em estabelecer uma trajetória razoável para a convergência da inflação para a meta até 2004 e a partir daí tomar as decisões de política monetária, visando alinhar a trajetória projetada da inflação à trajetória desejada. Em outras palavras, deve-se perseguir uma nova temporalidade para as metas de 2003 e de 2004, de tal sorte que a trajetória da meta original seja reencontrada brevemente.
O BBV ressalta ainda que, apesar dos avanços da política econômica, a área monetária ainda precisa amadurecer. O regime de metas de inflação é muito novo e a nova
autoridade monetária ainda está construindo sua reputação. Por isso é exigido maior esforço de disciplina monetária e os choques ocorridos desde 2001 tornaram essa tarefa ainda mais difícil, uma vez que abalaram a confiança no regime monetário. Seria prudente evitar ruídos adicionais que comprometam ainda mais a formação das expectativas inflacionárias e a confiança no BC.
Para o CSFB, o governo também manterá as metas de inflação de 4% (com mais ou menos 2,5 pontos percentuais) para 2003 e 3,75% (com mais ou menos 2,5) para 2004. Na visão do banco, o custo de não cumprir a meta em 2003 seria menor do que alterar a meta pela segunda vez _no ano passado, a meta de 2003 foi alterada de 3,25% para 4%, com o intervalo de tolerância se elevando de 2,0% para 2,5%. Na avaliação do CSFB, a inflação e o dólar indicam que o Banco Central, na próxima reunião do Copom (21 e 22 de janeiro). O banco avalia ainda que o Ministério da Fazenda está decidido a elevar a meta de superávit primário deste ano de 3,75% do PIB para pouco acima de 4% do PIB. O CSFB estima que o setor público consolidado deve produzir um superávit de aproximadamente 4,5% do PIB em 2003. Em 2002, o setor público deve ter registrado um superávit primário pouco acima de 4% do PIB.