Isaac Sidney: segundo o presidente da Febraban, governo e os parlamentares têm trabalhado para construir as medidas necessárias para frear a expansão da dívida (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 15 de dezembro de 2024 às 06h00.
Última atualização em 15 de dezembro de 2024 às 08h03.
O pacote fiscal anunciado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva está na direção correta de tentar conter o ritmo de crescimento das despesas públicas. Entretanto, as medidas propostas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda são insuficientes para “chegar ao destino” de interromper a trajetória de alta da dívida pública. As afirmações são do presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, em entrevista exclusiva à EXAME.
“O pacote fiscal está na direção correta, mas não basta estar na direção certa, é fundamental chegar ao destino e o destino do quadro fiscal é um só: a interrupção da trajetória de alta da dívida”, diz.
Isaac Sidney usa como analogia uma viagem de carro, que precisa de combustível para chegar ao destino. Para ele, esse combustível é um “plano consistente” de redução do ritmo de crescimento das despesas. O governo e os parlamentares, responsáveis por guiar esse veículo, têm trabalhado para construir as medidas necessárias para frear a expansão da dívida.
"Ninguém está de braços cruzados, nem o governo nem o Congresso", resume.
Pesquisa divulgada pela Genial/Quaest em 4 de dezembro mostrou que avaliação negativa do governo Lula entre agentes do mercado financeiro disparou e chegou a 90%.
O salto foi de 26 pontos percentuais em relação ao levantamento de março de 2024, quando 64% viam a gestão de forma negativa. Segundo Isaac Sidney, o setor bancário não se sente representado nesse levantamento.
“O setor bancário não se sente representado numa pesquisa que revela que 90% do mercado reprova a política econômica do governo. Enxergo o setor bancário numa postura colaborativa e com uma atuação de crítica construtiva”, diz.
Enquanto o mercado de crédito registra uma expansão de 10,5% até novembro de 2024, as expectativas para o próximo ano são positivas. O presidente da Febraban estima uma nova alta, de 9,5% para 2025.
“Vale acrescentar que o cenário base das nossas projeções para 2025 é de uma expansão ainda forte de 9,5%, mas alguns riscos de baixa entraram no radar dos bancos: eventual deterioração do ambiente macro, com alta ainda maior da Selic e impactos na inadimplência”, diz.
E o impacto dos jogos de azar na inadimplência é acompanhado com atenção e preocupação pelo setor bancário, afirma Isaac Sidney. O temor é que os jogos de azar possam aumentar o endividamento das famílias e, consequentemente, afetar o pagamento em dia dos compromissos.
“A inadimplência está para os bancos assim como a inflação para o BC. Enquanto a inflação é um predador da economia, a inadimplência é um predador do endividamento e do comprometimento de renda das famílias. Por isso, nossa grande preocupação com as bets, que podem aumentar o endividamento e a inadimplência”, diz.