Economia

Na ressaca pós-Copa, inflação recua - mas até quando?

Choque dos alimentos cedeu e aumentos da Copa ficaram para trás, mas eleições e possível tarifaço continuam sendo fatores de incerteza


	Avião pousando: passagens aéreas puxaram IPCA para baixo
 (David McNew/Getty Images)

Avião pousando: passagens aéreas puxaram IPCA para baixo (David McNew/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 8 de agosto de 2014 às 12h16.

São Paulo - Divulgada hoje pelo IBGE, a inflação de julho recuou para 0,01% - a menor taxa dos últimos 4 anos.

Ainda que insuficiente para colocar o acumulado dos últimos 12 meses abaixo do teto da meta de 6,5%, o número veio abaixo da expectativa do mercado financeiro.

O Bradesco esperava a maior alta, de 0,16%, enquanto Santander e Itaú projetavam 0,09% e o HSBC previa 0,08%.

O principal fator de queda foi a devolução de altas que haviam sido puxadas pela Copa do Mundo: passagens aéreas (de +22% em junho para -26% em julho) e diárias de hotéis (de +25% para -7%).

O grupo Alimentação e Bebidas, o de maior peso no IPCA (mais de 20%), também recuou pelo segundo mês consecutivo, depois de fortes altas no início do ano devido à seca.

Os preços de alimentos estão no menor nível dos últimos seis meses, anunciou ontem a FAO, agência da ONU para a questão.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, diz que foi surpreendido pela desaceleração generalizada nos transportes (além das passagens, etanol e outros itens também caíram) e vê um cenário mais benigno no curto prazo:

"A ação da politica monetária teve importância, e ainda vai agir pra valer, mas o que vemos agora é uma devolução dos choques do início do ano. É uma notícia boa que ajuda bastante o Banco Central. Não que os juros vão cair, mas as quedas na margem vão construir uma expectativa um pouco melhor no curto prazo."

Ele diminuiu sua projeção do IPCA no fim do ano de 6,35% para 6,16%. O último boletim Focus projetava IPCA fechando 2014 em 6,39%.

Tony Volpon, do banco Nomura, nota que estes meses do ano já costumam ter uma inflação mais baixa, e que quedas abruptas por efeitos sazonais costumam ser as mais difíceis de estimar. Para ele, a inflação está refletindo a fraqueza da economia, mas isso não significa que esteja totalmente controlada:

"É difícil olhar para esse número e argumentar que a tendência é de declínio, como diz o Banco Central. Também não dá para contar com o dólar colado nos R$ 2,20, que também estava ajudando."

Ele nota que a contenção dos preços de energia e de combustíveis e as diferenças nas estimativas de aumento continuam pairando sobre a formação de preços do país:

"A expectativa de inflação muito alta não respondeu da mesma forma ao ciclo de altas dos juros porque o mercado está antecipando um reajuste dos preços administrados. Toda essa incerteza em torno do tarifaço sustenta as expectativas em um patamar mais alto, o que tem impacto na própria inflação."

A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda Guido Mantega negam que um tarifaço esteja planejado para o ano que vem, mas as eleições continuam sendo o principal fator imponderável do momento:

"Política fiscal, crédito, salário mínimo: todos esses fatores impactam a inflação e dependem de quem vai ganhar e como essa pessoa vai agir quando estiver lá. Há muita incerteza.", diz Tony.

Acompanhe tudo sobre:EstatísticasIndicadores econômicosInflaçãoIPCAPreços

Mais de Economia

Governo sobe previsão de déficit de 2024 para R$ 28,8 bi, com gastos de INSS e BPC acima do previsto

Lula afirma ter interesse em conversar com China sobre projeto Novas Rotas da Seda

Lula diz que ainda vai decidir nome de sucessor de Campos Neto para o BC

Banco Central aprimora regras de segurança do Pix; veja o que muda

Mais na Exame