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43% dos latino-americanos mudaram de classe na última década

Estudo do Banco Mundial aponta mobilidade de classes sociais na região – mas há importante dependência do ponto de partida

Sala de aula: os chefes de família da classe média têm muito mais anos de escolaridade do que os dos segmentos pobres ou vulneráveis, mas menos do que os ricos (Marcos Santos/USP Imagens)
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Da Redação

Publicado em 14 de novembro de 2012 às 09h15.

São Paulo – Pelo menos 43% de todos os latino-americanos mudaram de classe social entre meados dos anos 1990 e o final da década de 2000, segundo o Banco Mundial . A maior parte dessas pessoas subiu, e apenas 2% da população passou para uma classe social mais baixa, segundo o relatório Mobilidade Econômica e a Ascensão da Classe Média Latino-Americana, elaborado pelo Banco Mundial.

Isso não significa que a sociedade latino-americana se caracteriza por uma alta mobilidade social em todos os sentidos da palavra, segundo o relatório. Os níveis de educação e renda dos pais ainda influenciam muito o destino dos filhos.

Na maioria dos países da América Latina , as famílias tiveram maior probabilidade de vivenciar uma mobilidade ascendente (sair da pobreza e ir para a classe média, por exemplo) quando o chefe da família possuía maior grau de escolaridade no ano inicial. As chances de ingressar na classe média, em particular, eram maiores para as pessoas com nível superior, segundo o estudo.

É a chamada “dependência da origem”, que se refere ao grau em que as condições familiares e socioeconômicas nas quais uma pessoa nasceu determinam a sua futura classe socioeconômica e de renda. “Em termos intergeracionais [entre gerações diferentes], a América Latina não é uma sociedade móvel e os sinais de que a região está apresentando um pouco mais de mobilidade são provisórios e, até agora, muito limitados ao grau de escolaridade”, afirma o relatório.

A maioria das pessoas que subiu de classe passou da pobreza para a vulnerabilidade (termo do Banco Mundial para classe média baixa, por apresentar em risco de cair na pobreza), ou da vulnerabilidade para a classe média; poucas saltaram diretamente da pobreza para a classe média durante os 15 anos observados. Trajetórias da pobreza a riqueza, então, são raras, segundo o relatório.

Vulneráveis

A América Latina viveu décadas de estagnação quanto à mobilidade social, segundo o relatório. Recentemente, a classe média viveu uma expansão de 50%, passando de 103 milhões de pessoas em 2003 para 152 milhões em 2009 – 30% da população do continente. No mesmo período, o percentual de pobres caiu de 44% para 30,5%, fazendo com que as parcelas representativas da classe média e dos pobres na população latino-americana sejam quase iguais - até cerca de 10 anos atrás o percentual de pobres estava em torno de 2,5 vezes o da classe média.


O dado de 2009, com a maior parte da população da América Latina e do Caribe (37,5%) na classe média baixa, é uma situação inédita na região, segundo o estudo, e resulta de um processo de transformação iniciado em torno de 2003. Antes de 2005 a pobreza ainda era a condição que prevalecia. E a classe média está mais perto da classe média baixa. Os dados de 2010 mostram 35,8% em vulneráveis e 40,7% para quem tem renda diária superior a 10 dólares (classe média e ricos)

“Ser um continente onde os vulneráveis constituem o maior segmento da população é muito menos atraente do que do que se apresentar como uma região de classe média mas, evidentemente, isto é ainda muito melhor do que ser um continente predominantemente pobre”, diz o Banco Mundial em relatório. Os ricos – classificação para quem tem renda superior a 50 dólares por dia – representavam 2% da população da região em 2009.

Em todos os países latino-americanos e caribenhos, houve uma clara associação entre o crescimento mais rápido do PIB e a maior mobilidade de renda, segundo o relatório. O aumento da renda na região e a diminuição da desigualdade contribuíram para a redução da pobreza e a expansão da classe média, mas o crescimento econômico (aumento da renda média per capita) desempenhou um papel muito maior. O crescimento econômico foi responsável por 66% da redução da pobreza e por 74% do crescimento da classe média nos anos 2000. O Banco Mundial cita que, na Argentina e no Brasil a queda na desigualdade de renda contribuiu “de forma substancial” para a expansão da classe média.

Quem é a classe média

A classe média latino-americana tem algumas características comuns, mas poucas semelhanças em seus valores subjetivos e crenças. Quando se trata de características socioeconômicas e demográficas, uma pessoa de classe média no Peru tem mais em comum com um indivíduo de classe média no México do que com um cidadão mais pobre no Peru, segundo o relatório. Já quanto aos valores e aspirações, a mesma pessoa de classe média no Peru teria mais em comum com um cidadão pobre no Peru do que com um indivíduo de classe média no México.

Em comum na região há a escolaridade, o emprego e a urbanização. Os chefes de família da classe média têm muito mais anos de escolaridade do que os dos segmentos pobres ou vulneráveis, mas menos anos de aprendizado do que os ricos. As famílias de classe média são mais urbanizadas e o trabalhador de classe média está normalmente empregado no setor formal – em serviços como saúde, educação e os serviços públicos. Os empregos industriais são mais frequentes entre a classe média (e os vulneráveis) do que entre os pobres ou os ricos. Já o emprego no setor público foi mais frequente entre os ricos do que entre a classe média.

Entre 1992 e 2009, o tamanho médio de uma família de classe média na América Latina caiu de 3,3 para 2,9 pessoas. De modo geral, as famílias de classe média têm menos filhos e as mulheres participam com mais frequência da força de trabalho.

RendaClassificação% população da região em 2009
0 a 4 dólares por pessoa por diaPobre30,5
4 a 10 dólares por diaVulneráveis (segmento da população que está em risco de cair na pobreza, com uma probabilidade estimada em 10%)37,5
10 dólares por dia a 50 dólares por diaClasse média30
Mais de 50 dólares por diaRicos2%

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São Paulo – Pelo menos 43% de todos os latino-americanos mudaram de classe social entre meados dos anos 1990 e o final da década de 2000, segundo o Banco Mundial . A maior parte dessas pessoas subiu, e apenas 2% da população passou para uma classe social mais baixa, segundo o relatório Mobilidade Econômica e a Ascensão da Classe Média Latino-Americana, elaborado pelo Banco Mundial.

Isso não significa que a sociedade latino-americana se caracteriza por uma alta mobilidade social em todos os sentidos da palavra, segundo o relatório. Os níveis de educação e renda dos pais ainda influenciam muito o destino dos filhos.

Na maioria dos países da América Latina , as famílias tiveram maior probabilidade de vivenciar uma mobilidade ascendente (sair da pobreza e ir para a classe média, por exemplo) quando o chefe da família possuía maior grau de escolaridade no ano inicial. As chances de ingressar na classe média, em particular, eram maiores para as pessoas com nível superior, segundo o estudo.

É a chamada “dependência da origem”, que se refere ao grau em que as condições familiares e socioeconômicas nas quais uma pessoa nasceu determinam a sua futura classe socioeconômica e de renda. “Em termos intergeracionais [entre gerações diferentes], a América Latina não é uma sociedade móvel e os sinais de que a região está apresentando um pouco mais de mobilidade são provisórios e, até agora, muito limitados ao grau de escolaridade”, afirma o relatório.

A maioria das pessoas que subiu de classe passou da pobreza para a vulnerabilidade (termo do Banco Mundial para classe média baixa, por apresentar em risco de cair na pobreza), ou da vulnerabilidade para a classe média; poucas saltaram diretamente da pobreza para a classe média durante os 15 anos observados. Trajetórias da pobreza a riqueza, então, são raras, segundo o relatório.

Vulneráveis

A América Latina viveu décadas de estagnação quanto à mobilidade social, segundo o relatório. Recentemente, a classe média viveu uma expansão de 50%, passando de 103 milhões de pessoas em 2003 para 152 milhões em 2009 – 30% da população do continente. No mesmo período, o percentual de pobres caiu de 44% para 30,5%, fazendo com que as parcelas representativas da classe média e dos pobres na população latino-americana sejam quase iguais - até cerca de 10 anos atrás o percentual de pobres estava em torno de 2,5 vezes o da classe média.


O dado de 2009, com a maior parte da população da América Latina e do Caribe (37,5%) na classe média baixa, é uma situação inédita na região, segundo o estudo, e resulta de um processo de transformação iniciado em torno de 2003. Antes de 2005 a pobreza ainda era a condição que prevalecia. E a classe média está mais perto da classe média baixa. Os dados de 2010 mostram 35,8% em vulneráveis e 40,7% para quem tem renda diária superior a 10 dólares (classe média e ricos)

“Ser um continente onde os vulneráveis constituem o maior segmento da população é muito menos atraente do que do que se apresentar como uma região de classe média mas, evidentemente, isto é ainda muito melhor do que ser um continente predominantemente pobre”, diz o Banco Mundial em relatório. Os ricos – classificação para quem tem renda superior a 50 dólares por dia – representavam 2% da população da região em 2009.

Em todos os países latino-americanos e caribenhos, houve uma clara associação entre o crescimento mais rápido do PIB e a maior mobilidade de renda, segundo o relatório. O aumento da renda na região e a diminuição da desigualdade contribuíram para a redução da pobreza e a expansão da classe média, mas o crescimento econômico (aumento da renda média per capita) desempenhou um papel muito maior. O crescimento econômico foi responsável por 66% da redução da pobreza e por 74% do crescimento da classe média nos anos 2000. O Banco Mundial cita que, na Argentina e no Brasil a queda na desigualdade de renda contribuiu “de forma substancial” para a expansão da classe média.

Quem é a classe média

A classe média latino-americana tem algumas características comuns, mas poucas semelhanças em seus valores subjetivos e crenças. Quando se trata de características socioeconômicas e demográficas, uma pessoa de classe média no Peru tem mais em comum com um indivíduo de classe média no México do que com um cidadão mais pobre no Peru, segundo o relatório. Já quanto aos valores e aspirações, a mesma pessoa de classe média no Peru teria mais em comum com um cidadão pobre no Peru do que com um indivíduo de classe média no México.

Em comum na região há a escolaridade, o emprego e a urbanização. Os chefes de família da classe média têm muito mais anos de escolaridade do que os dos segmentos pobres ou vulneráveis, mas menos anos de aprendizado do que os ricos. As famílias de classe média são mais urbanizadas e o trabalhador de classe média está normalmente empregado no setor formal – em serviços como saúde, educação e os serviços públicos. Os empregos industriais são mais frequentes entre a classe média (e os vulneráveis) do que entre os pobres ou os ricos. Já o emprego no setor público foi mais frequente entre os ricos do que entre a classe média.

Entre 1992 e 2009, o tamanho médio de uma família de classe média na América Latina caiu de 3,3 para 2,9 pessoas. De modo geral, as famílias de classe média têm menos filhos e as mulheres participam com mais frequência da força de trabalho.

RendaClassificação% população da região em 2009
0 a 4 dólares por pessoa por diaPobre30,5
4 a 10 dólares por diaVulneráveis (segmento da população que está em risco de cair na pobreza, com uma probabilidade estimada em 10%)37,5
10 dólares por dia a 50 dólares por diaClasse média30
Mais de 50 dólares por diaRicos2%
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