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Eventual vitória na Câmara não melhorará situação de Lula

Presidente passará o resto de seu mandato equilibrando-se sobre uma precária base parlamentar

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h33.

Mesmo que Aldo Rebelo (PC do B-SP), candidato oficial do Palácio do Planalto, vença as eleições para a presidência da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (28/9), a situação do governo não irá melhorar substancialmente. O que, em outras épocas, seria visto como uma demonstração de força do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tenderá a ser interpretado mais como resultado de negociações de cargos e distribuição de verbas, como os 500 milhões de reais liberados na semana passado para o pagamento de emendas parlamentares.

"A eleição de Aldo Rebelo pode dar um fôlego temporário para Lula, mas o governo seguirá precariamente até o final", afirma o cientista político Francisco Weffort, ex-ministro da Cultura do governo Fernando Henrique Cardoso e ex-ideólogo do PT. Segundo Weffort, a vitória de Rebelo seria apenas o primeiro passo da tentativa de Lula recompor sua base parlamentar, esfacelada pelas denúncias de compra de deputados e de financiamentos ilegais de campanha. As chances de êxito, porém, são limitadas. "Recompor a base aliada é muito difícil", diz.

Para o filósofo Roberto Romano, professor de Ética da Universidade de Campinas, o problema é que, simplesmente, não se sabe mais quem são os aliados do presidente. As eleições para a presidência nacional do PT que Lula ajudou a fundar culminaram na saída de líderes históricos da legenda, como Plínio de Arruda Sampaio e Hélio Bicudo, que arrastaram ainda vários parlamentares. Com isso, o PT perdeu seu status de maior bancada da Câmara para o PMDB e talvez se enfraqueça ainda mais nos próximos dias, com a possível desfiliação de outros deputados. Os dissidentes migraram para legendas mais à esquerda, como o PSOL. "O governo está se desmanchando a olhos vistos e não é fácil reverter o processo, pois o PT não é um terreno sólido", diz.

Aldo também receberia marcação cerrada dos partidos de oposição, como PSDB e PFL, que tentariam impedir que os processos de cassação e as investigações em curso nas CPIs fossem manobradas em prol do governo. No meio do caminho, o PMDB permaneceria rachado, com um grupo apoiando o Planalto, liderado pelo senador Renan Calheiros (AL) e outro, encabeçado pelo deputado Michel Temer (SP), na oposição. "Supondo que Aldo Rebelo seja eleito, a oposição de esquerda e de direita será redobrada", afirma Romano. "Rebelo não será tão capaz de garantir a posição do governo na Câmara, quanto se imagina", diz.

Saída negociada

No caso de Aldo Rebelo ser derrotado amanhã, a situação complica-se ainda mais. A eventual eleição de um candidato não alinhado a Lula representaria uma enorme perda de espaço político do presidente. "Para Lula, compor com a oposição seria ceder um espaço vital em sua estratégia de se reeleger em 2006", afirma Weffort.

Apesar de ser um duro golpe nos planos de conquistar mais um mandato, Lula não teria outra opção, já que a alternativa seria o agravamento da crise política. "Uma derrota de Lula na Câmara seria muito grave, pois poderia afetar mesmo a governabilidade do país", diz Weffort.

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