Economia

Copom enfrenta decisão mais polêmica dos últimos meses

Para alguns analistas, se o BC acelerar o ritmo dos cortes, poderá se acusado de populismo econômico às vésperas de um ano eleitoral

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h12.

Qualquer que seja o corte da taxa básica de juros anunciado nesta quarta-feira (14/12), o Comitê de Política Monetária (Copom) terá tomado a decisão mais polêmica dos últimos meses. À primeira vista, os investidores parecem conformados com o conservadorismo da instituição e projetam um corte de 0,5 ponto percentual da Selic, de acordo com o último Relatório de Mercado o que a levaria a 18% ao ano. Mas diversos economistas apontam espaço para uma redução de 0,75 ponto, já que o Banco Central não tem muitos argumentos para defender o atual ritmo de queda.

A pressão sobre o BC explodiu desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma retração de 1,2% do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre. O resultado, que superou as previsões mais pessimistas, levou economistas, políticos e empresários a criticar a rigidez do BC, que teria exagerado na dose dos juros. Em resposta, a equipe econômica chegou inclusive a questionar a metodologia do IBGE. A estratégia do governo foi afirmar que o resultado foi um ponto "fora da curva" e que a economia voltaria aos trilhos nos meses seguintes.

Dados posteriores contribuíram para a polêmica. Em outubro, a produção industrial apresentou ligeira alta de 0,1% sobre setembro. Em relação ao mesmo mês de 2004, houve pequena alta de 0,4%. Já a produção e vendas de automóveis cresceram, respectivamente, 12% e 15,1% de outubro para novembro. Os que defendem o corte de 0,75 argumentam que a decisão iria acelerar a economia sem riscos de pressão inflacionária, já que, nos últimos meses, o nível de utilização da capacidade instalada recuou.

Mesmo as projeções de inflação para 2006 continuam em queda. O último relatório de mercado indica que os bancos projetam um IPCA índice oficial de preços de 4,50% no próximo ano, exatamente o centro da meta. Sem o câmbio para pressionar insumos e bens importados, sem risco de a oferta não suprir a demanda, e com expectativa de um crescimento moderado da demanda interna, não haveria argumentos fortes para justificar um novo corte de 0,50 ponto amanhã e nas reuniões posteriores. "A leitura da última ata do Copom indica uma queda de 0,50 ponto, mas há espaço para mais", diz a economista Ana Paula Rocha, do ABN Amro Real. O ABN é uma das instituições que apostam em 0,75 ponto percentual.

Eduardo Galasini, gestor de renda fixa do Banco Banif, concorda com Ana Paula que as condições permitem maior ousadia do BC, mas lembra que a instituição costuma frustrar as expectativas. "Acredito que o Copom manterá o ritmo de 0,50 ponto", diz. Segundo Galasini, isso seria um sinal de que o BC continua cauteloso sobre 2006. O ano eleitoral também pode contaminar a decisão de amanhã. "Se o BC iniciar um ciclo mais agressivo de cortes, pode ser acusado de fazer populismo com a economia, em um ano de eleições", diz. "E a economia, até agora, é o maior trunfo de Lula".

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