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Multinacionais americanas erram ao terceirizar produção

Optando pelo outsourcing para evitar o investimento direto em países emergentes, as múltis americanas dão um tiro no pé, afirma consultoria

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.

As indústrias americanas adotaram uma estratégia de investimento arriscada. Estudo realizado pela consultoria Deloitte afirma que as multinacionais sediadas nos Estados Unidos podem estar simplesmente incubando seus futuros concorrentes. Em vez de montar operações próprias em países emergentes, as empresas dos EUA estariam optando por terceirizar (outsourcing, no jargão em inglês), aproveitando ainda mais os baixos custos. Porém, ao fazê-lo, distanciam-se dos novos focos mundiais de inovação e dão fôlego para seus fornecedores locais, iminentes competidores.

A pesquisa demonstra, com dados de 1999 a 2002, que o investimento direto das empresas industriais dos Estados Unidos foi decrescente em países de baixo custo e mão-de-obra barata (com remuneração por hora trabalhada de até 10 dólares), em favor de países desenvolvidos. "Isso é bastante contrário ao que a maioria das pessoas pensa, especialmente nos Estados Unidos, onde muitos elegem a transferência de empregos e produção para países emergentes como um grande tema, quando de fato os números do investimento não indicam que seja este o caso", afirma Doug Engel, consultor-chefe para o setor industrial da Deloitte Américas.

Enquanto os investimentos em países desenvolvidos mantiveram-se na casa dos 25 bilhões de dólares anuais entre 1999 e 2002, nos países emergentes houve uma queda de 83%, de 12 bilhões de dólares para 2 bilhões no mesmo período. "A questão é que o investimento em países de baixo custo, como Brasil, México e China, tendem a assumir a forma de alianças, parcerias e arranjos de produção terceirizada diferentes do investimento direto", diz Engel. O estudo da Deloitte não contabiliza o capital envolvido em alianças e terceirização.

A maioria das indústrias americanas, afirma a pesquisa, direcionou suas apostas, entre 1999 e 2002, para mercados maduros, como Europa Ocidental, Canadá, Austrália e Cingapura, enquanto alocaram limitados investimentos diretos em localidades emergentes, nas quais joint ventures e terceirização, que demandam menor envolvimento, foram a ordem do dia.

O Brasil, por exemplo, chegou a compor o ranking dos dez destinos prediletos do dinheiro produtivo americano em 1999, ocasião em que ocupava a sexta posição, com cerca de 2,5 bilhões de dólares. Já em 2002, registrou a saída de 224 milhões de dólares.

Perigo

Engel adverte que a opção de não-envolvimento e maior flexibilidade, com seus inegáveis ganhos de curto prazo, cria na verdade um ambiente de maior competição no longo prazo. Isso porque, à medida que os países emergentes se tornam centros industriais globalizados, pela vantagem dos baixos salários, é para lá também que acaba se deslocando a inovação em processos, produtos e tecnologias.

"Sem um controle e influência mais direta sobre parcela maior de suas capacidades industriais em nações de baixo custo, as empresas americanas estão efetivamente criando competidores em escala massiva", conclui a pesquisa. "As indústrias americanas podem estar pavimentando o caminho para o acirramento da competição contra si mesmas", afirma Engel.

Virada

Engel ressalva que desde o terceiro trimestre de 2003, está percebendo, embora ainda sem números em mãos, um incremento em investimento direto industrial dos Estados Unidos. "A economia americana começou a aquecer, visivelmente, há cerca de seis ou nove meses. Acho que uma parte do que registramos na pesquisa vem da incerteza da economia americana e da relutância de muitos industriais, pressionados por resultados, em fazer aportes diretos de capital no estrangeiro."

Para o consultor, como a economia americana vem mostrando um rumo mais positivo, os hesitantes de outrora começam a atiçar o apetite por crescimento, entrada em novos mercados, desenvolvimento de novos produtos e aquisições. "Tudo isso tem mais a ver com a virada na economia americana do que com qualquer outra coisa", diz Engel.

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