Economia

Mulheres como Yellen são exceção na chefia de bancos centrais

A proporção de mulheres na direção desses bancos centrais varia de 50,9% na Suécia a 3,4% no Japão

Janet Yellen, ex-presidente do Fed: um caso raro (Win McNamee/Getty Images)

Janet Yellen, ex-presidente do Fed: um caso raro (Win McNamee/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 11 de março de 2018 às 08h00.

Última atualização em 11 de março de 2018 às 08h00.

Mulheres que ocupam cargos de diretoria ainda são uma espécie rara em alguns dos principais bancos centrais.

Embora a ex-presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, tenha aberto novos caminhos como a primeira mulher a ocupar esse cargo, uma análise das instituições monetárias mais destacadas das economias desenvolvidas mostra a singularidade da passagem dela pelo Fed nessas instituições burocráticas dominadas pelos homens.

A proporção de mulheres na direção desses bancos centrais varia de 50,9 por cento na Suécia a 3,4 por cento no Japão - com proporções muitas vezes bastante inferiores à taxa nacional de emprego feminino.

O modo como as mulheres são tratadas e os obstáculos indevidos que elas podem enfrentar no trabalho ganharam destaque particular nos últimos tempos, mas até o momento os bancos centrais têm ficado longe do holofote lançado sobre o assédio sexual nos setores do entretenimento e da tecnologia.

Apesar de a economia, enquanto profissão, não receber muita atenção pública, a experiência enfrentada pelas mulheres nesse campo ganhou destaque com um artigo publicado no ano passado sobre uma investigação da linguagem sexista usada em um website de empregos.

Uma das razões da sub-representação das mulheres é o fato de poucas se tornarem economistas. Parte do motivo é a menor propensão para estudar o assunto e a probabilidade maior de abandonarem a faculdade, disse Donna Ginther, professora da Universidade do Kansas, em entrevista.

O desequilíbrio de gênero é relevante “porque as mulheres têm uma perspectiva diferente a respeito da economia”, disse Ginther, já que as economistas muitas vezes estudam “o lado humano das coisas” e os homens costumam se concentrar no lado teórico.

“Ou seja, se lidam com o abstrato, aqueles que tomam as decisões podem não entender o custo humano de algumas de suas escolhas, por exemplo.”

Os bancos centrais certamente formam um grupo heterogêneo. São o produto da cultura de seus respectivos países, têm estruturas de gestão diferentes e nem todos revelam os mesmos detalhes.

Alguns bancos centrais, como o da Nova Zelândia, informam apenas os gerentes seniores, outros também incluem escalões mais baixos. O material disponibilizado nos websites das instituições e outros dados divulgados publicamente, portanto, podem não representar o panorama completo.

O Banco do Japão, por exemplo, informa que as mulheres detêm 9,6 por cento dos cargos seniores e 18,9 por cento dos cargos de carreira, enquanto cerca de 30 por cento dos contratados para as vagas abertas mais recentemente são mulheres.

O banco preferiu não comentar a análise da Bloomberg sobre as listas de gestores disponibilizadas em seu website.

Existem também iniciativas para melhorar a diversidade. O Riksbank, da Suécia, exige que metade dos cargos de todos os níveis sejam ocupados por mulheres. Até o fim de 2019, o Banco Central Europeu quer que as mulheres ocupem 35 por cento dos cargos de gestão intermediários e seniores.

O Banco da Inglaterra pretende preencher 35 por cento dos cargos seniores com mulheres até 2020 -- contra 20 por cento em 2014 e 30 por cento em 2017.

No Canadá, o banco central tem 33 por cento de mulheres em cargos seniores, quando contabilizados profissionais transferidos temporariamente, segundo uma porta-voz.

A instituição quer ter uma equipe que represente a população em geral, em parte porque a diversidade de pensamento é crucial para tomar decisões corretas sobre política monetária, disse a porta-voz.

Fed, BCE e Banco da Inglaterra deverão realizar em maio uma conferência conjunta sobre cultura focada em gênero e plano de carreira.

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