Economia

Missão do FMI aprova contas brasileiras

Chefe da missão aconselha que governo ignore turbulências no mercado financeiro, não se pronuncia sobre dificuldades políticas e afirma que discussão sobre superávit primário está engatinhando

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h47.

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI), Phil Gerson, disse hoje, após o último encontro com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que recomendará a aprovação da revisão do acordo de quase 15 bilhões de dólares com o Brasil, segundo noticia a Agência Brasil. "O Brasil atingiu todas as metas estabelecidas no acordo, e o governo está progredindo com uma agenda de reformas estruturais muito importantes para promover o crescimento", afirmou Gerson.
A direção do Fundo deverá se reunir para analisar o relatório dos técnicos em meados de junho em Washington. Se o documento for aprovado o Brasil poderá sacar 1,3 bilhão de dólares. Phil Gerson afirmou que "sacar ou não é uma decisão de governo. A nosso ver, o governo brasileiro não tem a intenção de sacar". Essa foi a sétima revisão do acordo assinado com o Brasil em 29 de agosto de 2002. Renovado em dezembro do ano passado, passou por duas revisões e nenhuma das parcelas liberadas pelo Fundo foram sacadas.

O diretor de tesouraria do Banco Santos, Clive Botelho, ressalva que uma missão do FMI "é sempre coisa de retrovisor" e que os indicadores brasileiros não se comparam aos mexicanos e dos tigres asiáticos . Apesar disso, diz Botelho, o país está avançando em termos qualitativos  em razão das reformas. "Tudo foi cumprido, e temos superávit em contas correntes, o que há tempos não se via", afirma Botelho.

Investimentos
A meta mais importante do acordo diz respeito ao superávit primário - receitas menos despesas, sem contar o pagamento dos juros - de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB). No primeiro trimestre, o setor publico brasileiro (União e governos estaduais, municipais e empresas estatais) conseguiu economizar 20,5 bilhões de reais, 6 bilhões de reais acima do que foi compromissado com o Fundo.

A possibilidade de mudança no cálculo desta folga para pagamento de juros, a fim de excluir investimentos em infra-estrutura, voltou a ser postergada. "O FMI já disse que o que vai ser feito é um piloto, com muita calma", diz Botelho. "Só devem entrar investimentos que têm sentido, com modelagem, análise de retorno, como faz uma empresa. O medo é que a mudança saia do controle e estrague a relação dívida/PIB." Para Botelho, a inflexão da relação dívida/PIB - "que a ansiedade política pensa que dá para acelerar" -, por si só, vai representar a mais poderosa indução de investimentos.

Victoria Werneck, economista-chefe do UBS, concorda. "O Brasil está em situação frágil para ser laboratório. Quando se altera metodologia, você perde a noção do que vai acontecer." Segundo ela, qualquer alívio no superávit primário significa uma queda mais lenta na relação dívida/PIB, e por sua vez, na redução da Selic. "Se o governo realmente mantiver a paciência, a serenidade e os nervos de aço, chega no círculo virtuoso de crescimento, juro baixo e investimento alto em 2006, ano de eleições presidenciais. Mas chega pelo caminho certo."

Segundo o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, o que o Fundo fez foi abrir espaço para que se discuta a "racionalização" na gestão fiscal de alguns países, incluindo o Brasil. "É este espaço de racionalização, sem perder no momento o foco na consistência fiscal de longo prazo, que está sendo discutido agora com o Fundo. É uma discussão que apenas está começando ", afirmou Appy.

O chefe da missão do FMI reafirmou que o programa-piloto para retirar os investimentos do cálculo do superávit primário será melhor analisado por técnicos do Fundo e dos bancos Mundial e Interamericano de Desenvolvimento e pode até motivar outra missão ao Brasil.

Quanto à instabilidade do mercado financeiro, disse que a melhor reação é ignorá-la. Sobre a possibilidade de a política contaminar a economia, Phil Gerson respondeu apenas: "somos economistas".

Com informações da Agência Brasil

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