Economia

Mesmo com FMI, crise deve se estender até 2003

Que o acordo entre o governo e o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi melhor do que era esperado, nem a oposição parece duvidar. Há uma semana -- quando o dólar chegou a valer 3,47 reais --, metade dos 30 milhões de dólares acordados pareciam já valer a pena. Veio a ajuda, mas não o bálsamo. […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h30.

Que o acordo entre o governo e o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi melhor do que era esperado, nem a oposição parece duvidar. Há uma semana -- quando o dólar chegou a valer 3,47 reais --, metade dos 30 milhões de dólares acordados pareciam já valer a pena. Veio a ajuda, mas não o bálsamo. Por que o mercado segue ansioso?

Alguns analistas acreditam que o clima pessimista -- que poderia ser muito pior sem o FMI -- não deverá mudar pelo menos até os primeiros meses de governo do próximo presidente da República. Em seu relatório semanal, o Lloyds Bank aponta pelo menos três etapas a serem superadas até lá. O primeiro, as eleições de outubro. Depois de conhecido o novo presidente, o mercado deverá dar atenção ao discurso oficial (será o mesmo que o do candidato?) e, principalmente, na escolha da equipe econômica. Essa etapa deve durar até o final do ano. Por fim, nos primeiros meses do novo governo, serão conhecidos seu estilo e prioridades -- que serão ou não assimilados.

"Em outras palavras, na melhor das hipóteses a volatilidade do mercado ainda vai durar dois meses, até as eleições. Não somos pessimistas, pelo contrário, mas é um exercício interessante notar que o acordo com o FMI, apesar de necessário, está longe de ser condição suficiente para acalmar totalmente os mercados", diz o Lloyds.

Grande parte dos analistas de mercado dizia, até agora, que o candidato José Serra (PSDB/PMBD) ainda teria chances de recuperar posições nas pesquisas de intenção de votos. O motivo: o horário de propaganda na TV e no rádio ainda não começou e Serra dispõe de mais tempo de exposição do que seus concorrentes. Entretanto, o discurso otimista começou a mudar. Virou alguma coisa entre "apesar da propaganda na TV, a situação de Serra é complicada" e "não temos como garantir que Serra não reverterá o quadro atual, mas...".

De qualquer forma, o fato é que cada vez mais parece inevitável um segundo turno disputado pelos candidatos da oposição Luiz Inácio Lula da Silva (PT/Partido Liberal) e Ciro Gomes (Frente Trabalhista). "A sensação que se tem é que as primeiras pesquisas de setembro serão decisivas para mostrar se o rádio e a TV podem mudar alguma coisa", diz o Lloyds. No último final de semana, a divulgação da pesquisa do instituto Vox Populi confirmou o que o IBOPE havia mostrado dias antes: Lula segue à frente com 34% das intenções de voto e Ciro com 29%. Serra aparece com 12% e Anthony Garotinho (PSB) com 9%.

Levando em consideração que o cenário econômico internacional -- fragilizado pela situação econômica dos Estados Unidos -- poderá influenciar negativamente o desempenho do mercado brasileiro durante e depois do processo eleitoral, resta saber se o Brasil agüentará até lá.

Não há dúvida que o país tem o voto de confiança da principal instituição financeira do mundo -- e que, graças a isso, está capitalizado o suficiente para disputar braços-de-ferro com o mercado de câmbio. Mas os efeitos da crise político-econômica começam a ser sentidos, por exemplo, em metas inflacionárias ou estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

O Banco Central, em seu relatório Focus (que relata as projeções do mercado com base em consulta de cerca de 100 instituições financeiras), mostrou que o mercado aposta na elevação das taxas de inflação. Em agosto, a expectativa é que o IGP-DI atinja 0,89% e acumule variação positiva de 8,5% em 2002, valores superiores aos 0,8% e 8,24%, respectivamente, previstos anteriormente.

Quanto ao IGP-M, as expectativas são de 1% no mês de agosto, contra 0,9% previsto no relatório anterior. O IPCA subiu de 0,5% para 0,51% (em agosto) e de 6% para 6,07% para o ano.

O Focus, área de análises do Banco Central, também trouxe a terceira queda consecutiva na projeção de crescimento do PIB. Passou de de 1,85% para 1,83% em 2002. Houve ainda a redução das expectativas para 2003, que passam de 3,45% para 3,40%.

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