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Mercosul inaugura órgão máximo de solução de disputas comerciais

Efetividade da instituição vai depender do conteúdo de suas decisões, diz João Grandino Rodas, juiz brasileiro no Tribunal Permanente de Revisão

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h23.

O Mercosul tem finalmente um órgão para resolver suas freqüentes disputas comerciais internas. Nesta sexta-feira (13/8) será instalado oficialmente o Tribunal Permanente de Revisão (TPR) do Mercosul. A sede acaba de ser reformada e localiza-se no palácio de Villa Rosalba, em Assunção, capital do Paraguai.

O objetivo do TPR é servir como última instância aos contenciosos entre países-membros ou agentes privados, evitando que medidas unilaterais, como as adotadas recentemente pela Argentina contra eletrodomésticos brasileiros, continuem sendo a praxe no bloco, o que contribui para que seja desacreditado internacionalmente (leia análise de EXAME sobre o equívoco da política externa do governo Lula ao priorizar o Mercosul).

O TPR tem cinco membros, um de cada sócio do Mercosul, mais um juiz-presidente, o paraguaio José Antonio Moreno Ruffinelli. O juiz brasileiro será o professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo João Grandino Rodas, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Para Rodas, a concepção institucional do novo órgão foi bem-sucedida ao evitar uma estrutura burocrática pesada. "O TPR nasceu com a preocupação de não ser um gerador de gastos. A idéia era evitar o modelo clássico de tribunais estruturadíssimos." Atualmente, as pendências comerciais são resolvidas por tribunais ad hoc (constituídos para um fim específico e depois dissolvidos); agora, os juízes têm mandato fixo. "Se for bem utilizado, o TPR vai permitir uma continuidade. Vamos superar a fase das soluções pontuais e lançar as bases para o aperfeiçoamento jurídico do Mercosul", afirma Rodas. O orçamento anual da instituição será de 200 mil dólares.

O jurista explica que o Protocolo de Olivos para Solução de Controvérsias, ratificado pelo Brasil em outubro do ano passado, prevê para o TPR três possibilidades simultâneas de atuação. Como a solução arbitral foi mantida, pode servir como segunda instância para as disputas que os árbitros não conseguirem pacificar. Mas também pode ser instância única e definitiva. "Os Estados-membros do Mercosul podem ir direto para o tribunal", afirma. Finalmente, o TPR será órgão consultivo para os tribunais superiores do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

O poder vinculante das decisões do TPR, no entanto, é relativo. "O Mercosul é intergovernamental, não supranacional", diz Rodas. Ou seja, o respeito a suas determinações é mais uma questão diplomática e política, visto que não há força coercitiva para aplicá-las como se fossem sentenças judiciais. "Vai depender do tribunal. Se suas decisões forem bem fundamentadas, coerentes, mais construtivas do que de penalização, o tribunal vai se consolidar."

Parlamento

O fortalecimento institucional do Mercosul é uma das medidas previstas em um programa de trabalho apresentado pelo Brasil em meados do ano passado e aprovado em Montevidéu pelos demais sócios no final de 2003. Mas o TPR, especificamente, nunca foi uma bandeira brasileira. "O Uruguai e o Paraguai sempre insistiram na criação de um tribunal permanente", diz Rodas. O Brasil foi o último país do bloco a ratificar o protocolo de Olivos.

O programa de trabalho vai de 2004 a 2006 e consiste na primeira tentativa do Mercosul, criado pelo Tratado de Assunção de 1991 e pelo Protocolo de Ouro Preto de 1994, de fixar metas de médio prazo, acompanhadas de um cronograma. O programa prevê também a criação de um Parlamento do bloco, com poderes legislativos efetivos.

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