Mercado vê motivação comercial em embargos à carne do Brasil
Risco sanitário do Brasil não teria sido mantido em insignificante se, de fato, o gado corresse perigo, afirmou especialista
Da Redação
Publicado em 18 de dezembro de 2012 às 17h45.
São Paulo - O Brasil, maior exportador global de carne bovina, é vítima atualmente de uma campanha de importadores com motivações mais comerciais do que técnicas, afirmam especialistas e fontes da indústria.
Alguns compradores da carne brasileira estão usando um caso não-clássico de mal da vaca louca, registrado em 2010 e que não oferece riscos à saúde humana ou ao rebanho, como argumento para renegociar preços num momento em que o mercado global vive uma situação de aperto e alta nas cotações, dizem analistas.
Desde que o governo brasileiro anunciou o caso atípico EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina, como é conhecida formalmente a doença), seis importadores de carne bovina brasileira anunciaram embargos totais ou parciais ao produto do país, gerando preocupações sobre os impactos para as vendas externas do país.
Apenas um embargo, o da Arábia Saudita, pode ter algum impacto mais relevante --já que o do Egito (outro importante importador) é parcial, restringindo-se ao Paraná. Mas ainda assim essas barreiras não deverão se alongar por muito tempo, uma vez que não têm embasamento técnico, dizem os especialistas.
"Acredito que isso acaba tendo um viés que parece ser mais comercial, é um mecanismo de você negociar com o seu fornecedor, muito mais do que um problema de ordem sanitária", disse Nadia Alcantara, gerente técnica da Informa Economics FNP.
Segundo a especialista, se houvesse algum risco, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) não teria mantido o status sanitário do Brasil em risco insignificante para EEB.
"Se trouxesse algum risco para a saúde humana, com certeza a OIE não manteria o risco do Brasil", completou Nadia.
"Considerando que um dos maiores fornecedores de carne para a Arábia Saudita e Egito é a Índia, que quase não tem qualquer precaução ou regulação sanitária, eu entendo que a motivação é comercial", o analista da Safras & Mercado Paulo Molinari.
"Eles estão tentando enfraquecer os preços", acrescentou.
MOVIMENTOS PONTUAIS
Para a analista da FNP, entretanto, o apertado mercado mundial, com Estados Unidos e Austrália atravessando um período de baixa oferta bovina, não permitirá que os embargos à carne do Brasil continuem --os brasileiros, ao contrário, têm recuperado competitividade no mercado internacional pelo câmbio e por uma oferta relativamente mais folgada de animais para abate.
"À medida que isso vai ficando mais claro, os movimentos vão ser pontuais. Pode ser que algum país tenha mais força, mas acho que isso vai ser temporário (o embargo). Não acredito em prejuízo de médio e longo prazos, acredito que o impacto vai ser mínimo", concluiu a analista da FNP.
Entretanto, no curto prazo, enquanto embargos como o da Arábia Saudita continuarem, algum impacto nas exportações brasileiras poderá ser registrado.
Ela avaliou ainda que maiores perdas poderão ser registradas se outros países continuarem seguindo os anúncios de barreiras. "O problema é se isso começa dominar outros países. Uma preocupação é o Chile, o Irã... o risco disso é contaminar outros importadores.", disse Nadia.
O principal motivo para os questionamentos de compradores é a descoberta do príon--proteína causadora da doença--, ponderou um outro analista de mercado, acrescentando, no entanto, que a questão comercial também é uma das razões para embargos.
"Deve ter algum interesse econômico, político, talvez para tentar renegociar algum tipo de carga daqui para lá... Tudo o que abra brecha, no momento em que a gente está, de crise econômica, não tem nada de concreto", disse o analista que pediu para não ser identificado.
Neste caso, disse ele, a pressão por preços mais baixos viria sobretudo durante a retomada das compras pelos países importadores.
SETOR PRIVADO
O presidente da União Nacional da Indústria e Empresas da Carne (Uniec), Fernando Victer, considera que a mobilização do governo e o status do país no que se refere à questão sanitária devem "produzir o rápido restabelecimento da posição do Brasil".
Ele descarta razões comerciais para as medidas recentes e afirma que tal medida seria um "tiro no pé".
"O Brasil é um grande fornecedor do mercado. Quando o Brasil sai, a oferta de carne cai e a tendência é elevar preço... Não vejo como razoável que os demais países estejam em uma orquestração para prejudicar a oferta de carne brasileira", afirmou Victer.
Para o presidente da Associação das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Camardelli, é preciso considerar o perfil histórico destes países.
"O Japão não é novidade tomar uma medida destas. Ele nunca seguiu as regras da OIE, nunca nos autorizou para carne in natura... um país que levou quase 14 anos para liberar a manga", disse Camardelli.
Ele lembra que quando houve aquele problema grave de tsunami, as autoridades japonesas foram rápidas em pedir que os países não fossem muito drásticos em solicitar análises de radiação. "E o Brasil deu sua demonstração. Então a regra vale para eles, mas não para nós?", questionou.
Sobre a África do Sul, ele não descarta uma medida protecionista, a exemplo do que aconteceu durante o episódio da aftosa no Brasil.
"O processo (de embargos) é prejudicial. Este tipo de litígio só perturba o consumidor", observou.
São Paulo - O Brasil, maior exportador global de carne bovina, é vítima atualmente de uma campanha de importadores com motivações mais comerciais do que técnicas, afirmam especialistas e fontes da indústria.
Alguns compradores da carne brasileira estão usando um caso não-clássico de mal da vaca louca, registrado em 2010 e que não oferece riscos à saúde humana ou ao rebanho, como argumento para renegociar preços num momento em que o mercado global vive uma situação de aperto e alta nas cotações, dizem analistas.
Desde que o governo brasileiro anunciou o caso atípico EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina, como é conhecida formalmente a doença), seis importadores de carne bovina brasileira anunciaram embargos totais ou parciais ao produto do país, gerando preocupações sobre os impactos para as vendas externas do país.
Apenas um embargo, o da Arábia Saudita, pode ter algum impacto mais relevante --já que o do Egito (outro importante importador) é parcial, restringindo-se ao Paraná. Mas ainda assim essas barreiras não deverão se alongar por muito tempo, uma vez que não têm embasamento técnico, dizem os especialistas.
"Acredito que isso acaba tendo um viés que parece ser mais comercial, é um mecanismo de você negociar com o seu fornecedor, muito mais do que um problema de ordem sanitária", disse Nadia Alcantara, gerente técnica da Informa Economics FNP.
Segundo a especialista, se houvesse algum risco, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) não teria mantido o status sanitário do Brasil em risco insignificante para EEB.
"Se trouxesse algum risco para a saúde humana, com certeza a OIE não manteria o risco do Brasil", completou Nadia.
"Considerando que um dos maiores fornecedores de carne para a Arábia Saudita e Egito é a Índia, que quase não tem qualquer precaução ou regulação sanitária, eu entendo que a motivação é comercial", o analista da Safras & Mercado Paulo Molinari.
"Eles estão tentando enfraquecer os preços", acrescentou.
MOVIMENTOS PONTUAIS
Para a analista da FNP, entretanto, o apertado mercado mundial, com Estados Unidos e Austrália atravessando um período de baixa oferta bovina, não permitirá que os embargos à carne do Brasil continuem --os brasileiros, ao contrário, têm recuperado competitividade no mercado internacional pelo câmbio e por uma oferta relativamente mais folgada de animais para abate.
"À medida que isso vai ficando mais claro, os movimentos vão ser pontuais. Pode ser que algum país tenha mais força, mas acho que isso vai ser temporário (o embargo). Não acredito em prejuízo de médio e longo prazos, acredito que o impacto vai ser mínimo", concluiu a analista da FNP.
Entretanto, no curto prazo, enquanto embargos como o da Arábia Saudita continuarem, algum impacto nas exportações brasileiras poderá ser registrado.
Ela avaliou ainda que maiores perdas poderão ser registradas se outros países continuarem seguindo os anúncios de barreiras. "O problema é se isso começa dominar outros países. Uma preocupação é o Chile, o Irã... o risco disso é contaminar outros importadores.", disse Nadia.
O principal motivo para os questionamentos de compradores é a descoberta do príon--proteína causadora da doença--, ponderou um outro analista de mercado, acrescentando, no entanto, que a questão comercial também é uma das razões para embargos.
"Deve ter algum interesse econômico, político, talvez para tentar renegociar algum tipo de carga daqui para lá... Tudo o que abra brecha, no momento em que a gente está, de crise econômica, não tem nada de concreto", disse o analista que pediu para não ser identificado.
Neste caso, disse ele, a pressão por preços mais baixos viria sobretudo durante a retomada das compras pelos países importadores.
SETOR PRIVADO
O presidente da União Nacional da Indústria e Empresas da Carne (Uniec), Fernando Victer, considera que a mobilização do governo e o status do país no que se refere à questão sanitária devem "produzir o rápido restabelecimento da posição do Brasil".
Ele descarta razões comerciais para as medidas recentes e afirma que tal medida seria um "tiro no pé".
"O Brasil é um grande fornecedor do mercado. Quando o Brasil sai, a oferta de carne cai e a tendência é elevar preço... Não vejo como razoável que os demais países estejam em uma orquestração para prejudicar a oferta de carne brasileira", afirmou Victer.
Para o presidente da Associação das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Camardelli, é preciso considerar o perfil histórico destes países.
"O Japão não é novidade tomar uma medida destas. Ele nunca seguiu as regras da OIE, nunca nos autorizou para carne in natura... um país que levou quase 14 anos para liberar a manga", disse Camardelli.
Ele lembra que quando houve aquele problema grave de tsunami, as autoridades japonesas foram rápidas em pedir que os países não fossem muito drásticos em solicitar análises de radiação. "E o Brasil deu sua demonstração. Então a regra vale para eles, mas não para nós?", questionou.
Sobre a África do Sul, ele não descarta uma medida protecionista, a exemplo do que aconteceu durante o episódio da aftosa no Brasil.
"O processo (de embargos) é prejudicial. Este tipo de litígio só perturba o consumidor", observou.