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Mercado não vê Banco Central agindo para segurar dólar

Para analistas e operadores, isso não deve ocorrer nem mesmo no caso de uma baixa mais acentuada da moeda americana

Dólar: “Essa equipe do BC não é tão intervencionista quanto a anterior” (Stock.xchng)

Luísa Granato

Publicado em 27 de outubro de 2016 às 20h14.

Última atualização em 27 de outubro de 2016 às 22h38.

São Paulo - A possibilidade de o Banco Central frear a queda do dólar , que chegou a testar o patamar de R$ 3,10 nesta semana, é vista com ceticismo no mercado.

Para analistas e operadores, isso não deve ocorrer nem mesmo no caso de uma baixa mais acentuada da moeda americana.

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Para eles, uma ação forte para ditar os preços no câmbio não faz parte da cartilha da equipe do BC comandada por Ilan Goldfajn.

O mercado não espera um BC totalmente passivo no câmbio, mas considera que eventuais intervenções ocorrerão apenas para amenizar a volatilidade, sem interferir na tendência.

“As intervenções do BC nunca tiveram e não têm o poder de reverter a tendência do dólar”, diz Rodrigo Borges, chefe de renda fixa na Franklin Templeton Invest Brasil.

Para ele, a tendência continua sendo de valorização da moeda brasileira e o dólar pode cair a R$ 3,00 ou até menos com continuidade das reformas do governo Temer.

“Essa equipe do BC não é tão intervencionista quanto a anterior”, diz Nathan Blanche, sócio-diretor da Tendências Consultoria.

Para ele, além das reformas de Temer, o ajuste das contas externas, com melhora da balança e queda do déficit em conta corrente, visto desde o ano passado, também ajuda a fortalecer o real.

E Blanche não vê problema na possibilidade de a queda do dólar levar o déficit em conta corrente a aumentar em 2017. Para o consultor, um real mais valorizado ajuda a economia, ao contribuir para reduzir a inflação e abrir espaço para o BC cortar mais os juros.

Os investidores estrangeiros têm demonstrado crescente otimismo com as reformas no Brasil. Acreditam que a PEC que fixa teto para gastos será aprovada e que a reforma da Previdência acabará passando, ainda que num processo demorado e com mudanças em relação ao projeto do governo.

Apesar das turbulências políticas como as verificadas nesta semana, o “cenário básico” do mercado é de que as reformas vão continuar avançando, diz Matheus Gallina, da Quantitas Gestão de Recursos.

O risco de Temer ser atingido pela Lava Jato é monitorado, mas o mercado vê o tempo jogando a favor do presidente, diz Borges, da Templeton.

Além de sua habilidade política para a aprovação das reformas, Temer também pode ver um aumento em sua capacidade de defesa à medida que a economia confirme as expectativas de recuperação, o que deve resultar numa maior aprovação do governo.

O aumento das expectativas de alta dos juros americanos é outro potencial fator de risco para o real e outras moedas de países emergentes.

No entanto, este risco só vai se materializar se o Fed fizer algo inesperado, diz Borges. Uma alta de juros em dezembro, por exemplo, já está precificada e só afetará o mercado se o BC americano adotar um discurso muito duro, o que não é esperado.

Os juros baixos do Japão e Europa também jogam a favor da moeda brasileira. “O pano de fundo externo continua muito positivo.”

Nesta semana, além das reformas, a queda do dólar tem sido alimentada adicionalmente pela expectativa de fluxo com a repatriação de recursos.

A Receita disse nesta quinta-feira que impostos e multas pagos por brasileiros para legalizar dólares no exterior já somam R$ 40,1 bilhões, R$ 7 bilhões a mais do que o valor informado no começo da semana.

O prazo para adesão ao programa de repatriação termina em 31 de outubro.

O BC estendeu em quatro horas o prazo para o registro das operações, o que foi visto por alguns participantes do mercado como evidência de que o próprio BC está se preparando para um maior fluxo de entradas de dólares na reta final do programa.

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