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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h30.
Nesta semana, o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, mostrará efetivamente o rumo da política econômica do governo Lula: se haverá ou não crescimento. Analistas do mercado financeiro, em sua maioria, estimam que o BC corte mais uma vez a taxa de juros nesta reunião de agosto em pelo menos 1,5 ponto percentual.
"Nosso gradualismo não configura rigidez nem falta de flexibilidade", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante a posse de Alfredo Egydio Setúbal como novo presidente da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Meirelles afirmou que os problemas do Brasil continuarão a ser enfrentados sem piruetas. Há quem acredite que o BC fará um corte significativo, mas sem exageros.
O ex-diretor de política econômica do BC, Sérgio Werlang, atual diretor do Itaú e um dos criadores do sistema de metas de inflação, também acredita que o gradualismo seja a melhor saída. Para esta reunião do BC, Werlang aposta numa queda de 1,5 ponto percentual na taxa básica de juros. "Acredito que a taxa Selic fechará o ano em 19%", disse ele durante o evento da Anbid. Também estavam presentes alguns dos maiores banqueiros do Brasil: Olavo e Roberto Setúbal (Itaú), Márcio Cypriano (Bradesco), Fábio Barbosa (ABN Amro Bank) e Gabriel Jaramillo (Santander).
"Lula iniciou seu governo com uma taxa de inflação de 25%. Parece pouco para um país que já teve taxas de até 3000%", disse no evento Edmar Bacha, um dos criadores do Plano Real e professor da PUC-RJ. Bacha também não vê outra saída para conter a inflação. "Infelizmente, não encontraram outra maneira de conter a inflação sem o juro alto afetar a produção", diz ele.
Mercado financeiro
"Esperamos queda na taxa de juros básica de 2 pontos percentuais, de 24,5% ao ano para 22,5% ao ano", afirma o CSFB. Como principais fatores que podem forçar esta queda, o banco aponta a relativa estabilidade do dólar, a queda da inflação mensal nos dois últimos meses e a fraca atividade econômica. Este último fator, por sinal, levou o banco a prever um crescimento de 1,4% do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano. "O cenário doméstico e externo sancionam uma flexibilização monetária da mesma magnitude da ocorrida em julho", afirma o CSFB.
A redução nos compulsórios sobre depósitos à vista de 60% para 45% (com impacto financeiro da ordem de R$ 7,3 bilhões) também é apresentada pelo Lloyds TSB como outro fator que pode favorecer a queda dos juros. "A redução é coerente e necessária porque, ao menos em tese, aumenta a disponibilidade de recursos para crédito e isso, potencialmente, tende a reduzir as taxas de juros para o tomador de crédito, o que ajuda a estimular as vendas a prazo", afirma o economista-chefe do banco, Odair Abate. "A redução do compulsório não deve impedir que se mantenha a inflação sob controle e deve ser vista como uma condição necessária, ainda que muito longe de suficiente, para ajudar a reaquecer a economia."
A previsão de queda de 1,5 ponto percentual também é vista pelo departamento de análises econômicas do Bradesco como o cenário mais provável. "Os maiores riscos para esse quadro benigno, que poderiam restringir o espaço para expansão monetária, são uma eventual depreciação acelerada do real ou uma errática retomada do nível de atividade", afirma o banco. "E, como a tendência cadente das expectativas de inflação futura deve permanecer, a depreciação cambial dos últimos dias não é limitadora para corte da taxa Selic. Logo, a repetição do corte de 1,5 ponto percentual na taxa parece o mais provável para esta reunião."
O Citibank também acredita que o corte de 1,5 ponto percentual seja a decisão mais provável do BC. "Antigos diretores do Banco Central, como Afonso Celso Pastore ou Gustavo Loyola, defendem uma postura mais agressiva por parte do BC, que, no entanto, tem expressado cautela. Assim como o consenso, esperamos um corte de 150 pontos-base", afirma o relatório diário do banco.
Na sexta-feira passada (15/8), as taxas de juro futuro também estão em movimento de queda. "As taxas referenciadas no DI (depósito interbancário) de abril/2004 fecharam cotadas a 21,08%, uma queda em relação ao fechamento do dia anterior", afirma a corretora GAP.
PIB
Mas o sucesso da política monetária restritiva, que conseguiu manter a inflação, promete ter um reflexo negativo sobre o crescimento do país. "Já que a performance do setor externo continuou favorável nos primeiros sete meses do ano, imediatamente se constata que a má performance da economia reflete o mau desempenho do mercado interno, fruto do superávit fiscal e, principalmente, da política monetária agressiva implementada pelo BC para conter a ameaça inflacionária", afirma Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB. "Decidimos fazer uma revisão da nossa estimativa de crescimento do PIB neste ano, que passa de 1,6% para 1,3%."
Para o banco, a queda dos juros pode ajudar a fazer o PIB crescer. "Mas é difícil que o mercado interno cresça o suficiente para gerar fortes impactos no PIB em 2003. Em 2004, a economia deve crescer mais", diz Abate.