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Mercado de trabalho permanece aquecido e eleva desafios à frente

OPINIÃO | Para 2025, a expectativa é de desaceleração no crescimento da ocupação, considerando o menor avanço dos setores sensíveis ao ciclo

Para o restante deste ano, espera-se continuidade na alta da população ocupada, tanto na PNAD Contínua quanto no Novo Caged, com base no forte desempenho do PIB, argumentam analistas da Tendências Consultoria (Jorge Rosenberg/Reuters)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 27 de setembro de 2024 às 18h09.

Por Lucas Assis e Thiago Xavier*

O mercado de trabalho brasileiro tem apresentado forte dinamismo neste ano, com quedas sucessivas na desocupação e alta dos rendimentos reais. Com a expansão da demanda por trabalhadores, a taxa de desocupação atingiu 6,6% no trimestre de junho a agosto de 2024,a menor para o período desde o início da série histórica, iniciada em 2012. Desde meados de 2023, a queda da desocupação decorre, em grande parte, da expansão da população ocupada, especialmente formal, tanto na margem sem efeitos sazonais quanto na variação interanual. Em linha com a atividade econômica favorável, o nível da ocupação (percentual de ocupados na População em Idade Ativa — PIA) atingiu o maior patamar para o período desde 2013.

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Por sua vez, os dados do Novo Caged confirmam o cenário de maior dinamismo na criação de empregos formais no Brasil. Após a criação de 190,6 mil vagas em julho (dado revisado de 188,0 mil), houve abertura líquida de 232,5 mil postos de trabalho em agosto. No acumulado de janeiro a agosto de 2024 houve abertura líquida de 1,73 milhão de vagas formais, representando aumento de 24,0% em relação ao observado no mesmo período de 2023. No último mês, o estoque atingiu 47,2 milhões de vínculos celetistas ativos (+3,9% YoY), dos quais 5,5 milhões (ou 11,6% do total) foram considerados “não típicos”, i.e., trabalhadores aprendizes, intermitentes, temporários, contratados por CAEPF e com carga horária até 30 horas.

Para o restante deste ano, espera-se continuidade na alta da população ocupada, tanto na PNAD Contínua quanto no Novo Caged, com base no forte desempenho do PIB.

Para 2025, a expectativa é de desaceleração no crescimento da ocupação, considerando o menor avanço dos setores sensíveis ao ciclo.

Mudanças estruturais no mercado de trabalho?

Ainda que existam poucos estudos capazes de mensurar os impactos macroeconômicos de mudanças estruturais no mercado de trabalho, como Reforma Trabalhista, aumento da escolaridade da PEA, e efeito de novas tecnologias na intermediação e criação de vagas, sinais recentes indicam que tais transformações têm contribuído para o quadro favorável observado.

Além de refletir o crescimento em curso da economia, o desempenho positivo do mercado formal está associado aos efeitos da Reforma Trabalhista de 2017, a qual reduziu potenciais custos pós-demissões, de tempo e recursos com ações trabalhistas, elevando a segurança jurídica das empresas para contratar empregados formais. Embora novas modalidades de trabalho tenham sido criadas na época, como o intermitente, o dinamismo do mercado formal atual não se deve predominantemente a esses novos tipos de contratação. Em agosto, apenas 15,4% do saldo líquido total eram considerados “não típicos” (ou 35,7 mil novas vagas).

No que diz respeito à busca efetivo por ocupação, o avanço mais modesto da força de trabalho também contribui para a manutenção da desocupação em patamar reduzido. No trimestre até agosto, a taxa de participação atingiu 62,3%, situando-se 0,5 p.p. acima do mesmo período de 2023 (61,8%). A expectativa é de manutenção da taxa de desocupação em patamares baixos no curto prazo, podendo resultar em escassez de mão de obra em setores específicos, com impactos nos custos e, eventualmente, nos preços.

Por fim, o rendimento real habitual de todos os trabalhos (R$ 3.228) cresceu tanto na margem ajustada sazonalmente quanto na variação interanual, no trimestre até agosto. Além da conjuntura de aquecimento do mercado de trabalho e da política de alta do salário mínimo, a melhora no perfil educacional dos trabalhadores explica parte da alta dos rendimentos. Para o restante deste ano, o ritmo de avanço do rendimento real habitual deve desacelerar, uma vez que, além do menor PIB, o cenário contempla baixa produtividade do trabalho e efeito adverso da “sobre-educação”. Para 2025, também se espera manutenção de crescimento moderado, porém, em ritmo superior à alta da população ocupada.

A alta dos rendimentos, combinada ao avanço da ocupação, manteve a trajetória de expansão da massa de rendimento real habitual. O indicador avançou na comparação mensal e na variação interanual, sendo um importante fator de apoio ao consumo das famílias. Considerando a baixa ociosidade do mercado de trabalho, a massa de rendimento deve avançar ao longo de 2024 e 2025. Embora positivo para a demanda, este quadro eleva os desafios à frente, como as dificuldades na obtenção de mão de obra e os riscos inflacionários.

Não por acaso, o aquecimento do mercado de trabalho é um dos fatores que embasam o recém-iniciado ciclo de aperto monetário.

*Lucas Assis e Thiago Xavier são analistas da Tendências Consultoria.

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