Economia

Mercado considera insuficientes estímulos da China para impulsionar economia

O FMI chamou atenção para os riscos de deflação no país, que levaram o PBoC a cortar juros recentemente

China: ainda são necessários estímulos de crescimento para o país (Paul Yeung/Getty Images)

China: ainda são necessários estímulos de crescimento para o país (Paul Yeung/Getty Images)

Estadão Conteúdo
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 5 de agosto de 2023 às 08h21.

Os estímulos lançados pela China até agora para impulsionar o crescimento da economia ainda são insuficientes para impedir a desaceleração em andamento, avaliam analistas consultados pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado). Nos últimos meses, o governo chinês anunciou a ampliação de medidas de alívio de empréstimos para o setor imobiliário; flexibilização de restrições e novos investimentos no setor de tecnologia; melhor acesso ao crédito para consumo doméstico; diferentes pacotes de medidas para estimular o setor privado; e ações no mercado cambial para reduzir a desvalorização do yuan.

Contudo, o consenso de analistas é que mais medidas ainda são necessárias. Para o Rabobank, o governo deveria adotar principalmente medidas para enfrentar os problemas do mercado imobiliário e evitar maior deterioração fiscal. O banco aponta que a recente nomeação de Pan Gongsheng como presidente do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) sugere crescentes preocupações em Pequim sobre a "recuperação econômica morna e acomodação monetária modesta" nos próximos meses. Gongsheng foi educado no Ocidente e é conhecido por alertar sobre os riscos da bolha imobiliária na China desde 2014, lembra o Rabobank.

A Capital Economics analisa que o setor imobiliário é o "principal culpado" da desaceleração no crescimento econômico da China, mas que esta tendência não deve ser "revertida por estímulos públicos, ou pelo menos não de maneira sustentada". "A influência imobiliária é evidente ao analisar os dados oficiais do PIB, que mostram uma contração na atividade do setor desde o final de 2021, mesmo quando o resto da economia começou a ganhar força", aponta a consultoria.

Utilizando levantamento interno sobre a atividade chinesa, a Capital avalia que o Produto Interno Bruto (PIB) reduziu de 5,0% em 2019 para 3,0% agora e, segundo a consultoria, a queda é consistente também com os dados oficiais. Em suma, os analistas da Capital Economics creditam esta desaceleração no crescimento à "recuperação frustrante" da economia neste ano. "Há muito tempo estamos mais pessimistas do que a maioria nas perspectivas de médio prazo da China. Mas até nós ficamos surpresos com a velocidade com que a tendência diminuiu", ressaltaram.

Em seu relatório de Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês), o Fundo Monetário Internacional (FMI) reafirmou sua expectativa de que a China crescerá 5,3% em 2023, mas reduziu levemente a projeção para o próximo ano, de 5,1% a 5,0%. O órgão notou que a recuperação chinesa perde força, com o setor imobiliário pesando nos investimentos e também demanda fraca do exterior, enquanto a taxa de desemprego entre os jovens no país está em nível alto, de 20,8% em maio de 2023, menciona o Fundo.

Além disso, o FMI chamou atenção para os riscos de deflação no país, que levaram o PBoC a cortar juros recentemente. Em entrevista ao Broadcast, o coordenador de Pesquisas Macro do Banco Inter, André Valério, avalia que os novos estímulos ainda não eliminam o risco elevado de deflação na economia da China ou de uma recessão de balanço, hipótese previamente levantada por ele em julho ao destacar que o deflator do PIB chinês registrou neste ano variação negativa pela primeira vez desde 2009.

Valério analisa que as políticas de estímulo "parecem mais do mesmo", mantendo foco sobre consumo em um contexto onde empresas e famílias estão "reticentes em gastar" diante do elevado nível de endividamento - aproximadamente 280% do PIB - e priorizam o pagamento de dívidas às novas compras ou investimentos. As medidas são paliativas e eventuais impactos seriam concentrados, favorecendo setores ligados às commodities industriais, observa ele.

"A ferramenta mais eficiente para induzir o crescimento neste contexto de desalavancagem seria uma política fiscal expansionista. Entretanto, o governo chinês não se mostra inclinado a implementar tal política [até o momento]", acrescenta Valério, ressaltando os esforços do governo de conter a dívida chinesa em torno de 3%.

O Lombard Odier projeta que a China lançará pacotes de medidas expansionistas mais amplos, embora não esteja claro se o movimento vai ser suficiente para convencer os mercados de que Pequim conseguirá estimular a economia. "Um pacote combinando restrições de mercado imobiliário mais leves em cidades maiores, vouchers para consumo, apoio fiscal de governos locais e um corte de política monetária de pelo menos 25 pontos-base na taxa de compulsório bancário (RRR, na sigla em inglês) pode ser suficiente", comentou na nota.

As tentativas da China de alavancar a economia também enfrentam outro desafio: as crescentes tensões e fragmentação econômica com o Ocidente. "As tendências de investimento estrangeiro direto (IED) e pesquisas de empresas ocidentais com sede na China sugerem que a dissociação provavelmente será cada vez mais visível nos próximos anos", avalia a Oxford Economics.

Economista e Relações Internacionais da Esh Capital, Ariane Benedito afirma que, enquanto isso, o mercado aguarda "ansiosamente" para que os pacotes de estímulos ganhem tração e o aquecimento econômico se concretize. Benedito destaca que parceiros comerciais da China, em especial o Brasil, estão interessados no desenvolvimento dos estímulos no setor de infraestrutura.

Acompanhe tudo sobre:Chinaeconomia-internacional

Mais de Economia

Boletim Focus: mercado eleva estimativa de inflação para 2024 e 2025

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega