Banco Central: “o BC está trabalhando para recuperar a credibilidade”, diz especialista (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 20 de abril de 2015 às 20h54.
O mercado aumenta as apostas em um aperto monetário mais forte após Banco Central reiterar a promessa de vigilância contra a inflação, que se mantém acima de 8% este ano e é estimada mais de 1 ponto percentual acima do centro da meta em 2016.
Taxas embutidas nos contratos de juros futuros passaram a mostrar nesta manhã quase 100% de probabilidade de uma alta de 0,50 ponto percentual da Selic, para 13,25%, no Copom de 29 de abril.
Menos de duas semanas atrás, o mercado estava dividido entre alta de 0,25 pp ou 0,50 pp.
Para alguns analistas, o que mudou neste período foi o discurso do BC, que teria passado a mostrar maior preocupação em restaurar a credibilidade da política monetária, questionada no mercado após o Copom comandado por Alexandre Tombini ter baixado os juros para nível recorde em 2012, mesmo com a inflação rodando acima do centro da meta.
Tanto Tombini quanto o diretor Awazu Pereira disseram semana passada que o BC “foi, está e continuará vigilante” com a alta dos preços. O tom aparentemente mais duro de Awazu chama mais atenção, por ser ele identificado entre os diretores com posição mais dovish, ou seja, mais branda quanto ao uso dos juros para conter a inflação.
“Estamos com o mesmo BC do primeiro mandato, mas agora em um ambiente diferente”, diz Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim CTVM. “O cenário atual exige maior comprometimento com a meta de inflação”.
Para Padovani, mesmo considerando nos documentos oficiais que a inflação vai convergir em 2016, o BC não deve reduzir os juros enquanto as projeções do mercado não mostrarem a inflação abaixo de 5%, mais perto da meta.
Pela pesquisa Focus divulgada hoje, a projeção ainda está mais de 1 ponto acima do centro da meta, em 5,60%.
“Foi um recado mais hawkish”, diz Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do Credit Agricole.
“O BC está trabalhando para recuperar a credibilidade”. Para iniciar o corte dos juros, BC vai esperar a inflação em 12 meses declinar e também que as projeções do mercado de logo prazo, inclusive para além de 2016, passem a convergir para o centro da meta.
Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank Brasil, está entre os analistas ainda céticos com o discurso do BC e considera mais provável uma desaceleração da alta da Selic para 0,25 pp no próximo Copom, mesmo após Tombini e Awazu reiterarem a vigilância. “O BC repetiu o que já vem dizendo há algum tempo”.
Santos considera que a combinação entre um câmbio mais estável, retração do PIB e juros mais altos pode levar o BC a reduzir sua projeção de IPCA de 4,9% para 4,6% em 2016, aproximando ainda mais o número da meta de 4,5%.
Quanto ao fato de as expectativas do mercado para o ano que vem ainda não estarem ancoradas, Jankiel relembra o histórico da ação do BC nos quatro anos anteriores. “Se fosse depender das expectativas do mercado, o BC não teria cortado os juros como cortou”.