Economia

Medidas para a indústria são insuficientes, dizem especialistas

Para empresários e economistas, é importante o governo continuar reduzindo juros e aumentar investimentos em infraestrutura

O ministro Guido Mantega disse que os emergentes vão crescer mais do que os países desenvolvidos. Para André Sacconato, é melhor que o Brasil dependa da China do que da Europa (Ueslei Marcelino/Reuters)

O ministro Guido Mantega disse que os emergentes vão crescer mais do que os países desenvolvidos. Para André Sacconato, é melhor que o Brasil dependa da China do que da Europa (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de março de 2012 às 19h52.

São Paulo/Brasília - As novas medidas de apoio para a indústria anunciadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, não são suficientes para fazer o setor voltar a crescer com mais força, avaliaram empresários e economistas ouvidos pela Reuters nesta terça-feira.

Para eles, é importante o governo continuar reduzindo juros e aumentar investimentos em infraestrutura, entre outras coisas. Nesta segunda-feira, Mantega anunciou a prorrogação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) menor para produtos de linha branca, além de incluir outros. Também prometeu mais redução de custos de financiamento à indústria.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou nesta terça-feira que toda a redução de impostos é positiva e que o governo mostrou sensibilidade com o que o empresário classificou como "desindustrialização em curso no país". Mas o dirigente ponderou que ainda é possível avançar mais.

"As medidas anunciadas não chegam a ser novidade. Incluem a prorrogação de decisões tomadas no passado e a ampliação dos setores beneficiados", afirmou Skaf, acrescentando que que seria importante o governo também trabalhar para a redução dos preços de energia elétrica, o combate aos benefícios fiscais para a importação e a redução de burocracia.

O presidente da Fiesp diz ainda aguardar o anúncio de mais medidas após a volta da presidente Dilma Rousseff, que se encontra na Índia para encontro de líderes do grupo BRICS - formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.


Outro líder do setor a defender iniciativas mais amplas e concretas por parte do governo nesta terça-feira foi o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, que elogiou a prorrogação e ampliação do IPI a novos setores, mas defendeu a extensão da medida a toda a cadeia produtiva dos segmentos beneficiados.

"A medida dá um fôlego aos setores, reduz custos e torna os produtos da linha branca mais competitivos diante dos similares importados, mas são necessárias iniciativas mais concretas. Gostaríamos que essas desonerações atingissem toda a cadeia produtiva da linha branca, como aço e plásticos, que não estão sendo beneficiados", afirmou Andrade.

Medida velha - Para o economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) Fernando de Holanda Barbosa Filho, a prorrogação do IPI para itens da linha branca não deverá gerar o mesmo efeito positivo nas linhas de produção que o verificado na primeira vez em que a medida foi adotada.

Isso porque, segundo ele, a redução do imposto incide sobre bens duráveis que não são adquiridos de forma frequente. "O consumidor que adquire uma geladeira vai levar anos para trocá-la e muitos consumidores compraram esses bens recentemente", observa.

No último ano, a indústria da transformação cresceu apenas 0,1 por cento em 2011, o que representou um dos principais motivos para a expansão considerada baixo de 2,7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Caso a indústria não reaja neste ano, dificilmente a previsão de expansão de 4,5 por cento feita pelo Ministério da Fazenda se concretizará.

Em janeiro, a produção industrial continou patinando, com recuo de 2,1 por cento sobre dezembro, a maior queda mensal desde dezembro de 2008, no auge da crise internacional.


Barbosa Filho classifica essa previsão do governo para 2012 como reflexo de "excesso de otimismo", mesmo com os últimos benefícios anunciados e outros estímulos que o governo sinaliza -como a desoneração da folha de pagamento das empresas- e a redução da taxa Selic, hoje em 0,75 por cento ao ano.

Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, haverá "uma grande luz amarela no cenário econômico", com dados do PIB em um patamar preocupante e o governo avaliando a atividade industrial e analisando que segue muito abaixo do esperado.

Segundo Perfeito, as últimas iniciativas para a indústria revertem apenas em parte o baixo desenvolvimento do setor. "Tal qual as ações no câmbio tentam evitar piora maior, as medidas para a atual situação dessa atividade industrial só vão evitar um afundamento ainda maior", definiu.

Para o governo, o cenário é de recuperação no futuro. Nesta segunda-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que a demanda doméstica e o ajuste das condições monetárias devem favorecer a retomada do crescimento da produção industrial nos próximos meses.

Durante apresentação em evento da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos da Flórida, em Miami, Tombini ilustrou que a indústria estaria bem posicionada para retomar sua produção, após reequilibrar estoques nos últimos meses.

Citando o acúmulo de estoques em decorrência da maior concorrência com os produtos importados entre os fatores que prejudicaram o setor neste início de ano, o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Júlio Gomes de Almeida considera ainda o primeiro trimestre perdido para a indústria.

"A indústria vai crescer em 2012, mas não acredito que será uma recuperação reluzente", afirmou.

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