Medidas não garantem crescimento de longo prazo, diz Scheinkman
O economista e professor da Universidade de Columbia avalia que as medidas do governo ajudam a economia, mas serão insuficientes
Reuters
Publicado em 15 de fevereiro de 2017 às 16h42.
Última atualização em 10 de outubro de 2019 às 16h45.
São Paulo - As medidas de ajuste fiscal ajudam a economia brasileira, mas serão insuficientes para garantir que o Brasil tenha crescimento de longo prazo, avaliou José Alexandre Scheinkman , um dos economistas brasileiros de maior destaque acadêmico no exterior.
"O lado fiscal é muito importante, mas não resolve o problemas de longo prazo do Brasil. O país tem um problema sério por não conseguir aumentar a produtividade, o que acaba sendo sinônimo, de uma certa maneira, da nossa falta de capacidade de crescer", disse Scheinkman, atualmente professor na Universidade de Columbia, em Nova York, e também professor emérito de Princeton.
O quadro brasileiro de baixa produtividade é dramático porque a distância para as economias avançadas tem aumentado com o passar dos anos.
Na década de 1980, de acordo com números compilados por Scheinkman, cada trabalhador brasileiro produzia cerca de 30 por cento do que um profissional norte-americano. Hoje, essa relação caiu a 25 por cento.
"O crescimento da produtividade não é um processo impossível. É um processo que várias economias bem sucedidas conseguiram fazer", disse Scheinkman em entrevista à Reuters.
Diversos países, sobretudo os asiáticos, conseguiram se aproximar das economias mais avançadas quando o assunto é produtividade.
O exemplo mais emblemático é o da Coreia do Sul, que produzia o mesmo que o Brasil na década de 1980 e, hoje, produz o equivalente a 60 por cento da economia dos EUA.
Na avaliação de Scheinkman, o discurso da atual equipe econômica mostra preocupação com a baixa produtividade do Brasil, mas "o que já foi feito ainda é muito pouco".
Solução
Para se tornar mais produtivo, segundo o economista, é preciso adotar mudanças que vão de alterações no sistema tributário à melhora da infraestrutura.
"O sistema tributário brasileiro tem vários problemas. É de uma complicação imensa. Temos um regime que privilegia as firmas de menor produtividade. Para as empresas, é muito melhor pagar imposto pelo Simples", argumentou.
Nos Estados Unidos, disse ele, o elevado grau de produtividade foi alcançado em parte porque as empresas menos eficientes fecharam as portas por não existir privilégio tributário e deram lugar para outras mais produtivas.
O Brasil também precisa melhorar a infraestrutura, afirmou o economista e, para isso, é preciso que o governo desenvolva regulação que consiga atrair capital privado.
Por isso, defendeu Scheinkman, o governo pode dar início à melhora da produtividade brasileira com avanços no sistema regulatório para a infraestrutura e pela simplificação do sistema tributário.
Na eleição presidencial de 2002, Scheinkman liderou um grupo de economistas na elaboração da Agenda Perdida, documento que foi entregue aos principais candidatos presidenciais daquele ano e que apontava os principais desafios e gargalos do País.
"Hoje, eu não acho que o Brasil precise de uma nova agenda como aquela. Os problemas estão bastante discutidos por uma grande parte da academia e pelo pessoal que pensa na economia do Brasil", afirmou.