Economia

Manter inflação estável é o melhor jeito de ajudar no crescimento, diz BC

Presidente do banco, Campos Neto ressaltou que a melhor forma de a instituição contribuir para a retomada da economia é manter índices da inflação estáveis

Banco Central: presidente da instituição falou sobre medidas para ajudar na retomada da economia brasileira (Gil Ferreira/ Agência CNJ/Divulgação)

Banco Central: presidente da instituição falou sobre medidas para ajudar na retomada da economia brasileira (Gil Ferreira/ Agência CNJ/Divulgação)

BC

Beatriz Correia

Publicado em 26 de setembro de 2019 às 15h55.

Última atualização em 26 de setembro de 2019 às 15h56.

Ao ser questionado sobre o ritmo ainda lento da economia brasileira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a responder que a melhor forma da instituição contribuir para a retomada da atividade é manter a inflação estável. "A credibilidade construída pelo Banco Central  permitiu que as curvas curtas e longas caíssem. Queremos preservar essa credibilidade e ampliar a transparência", afirmou. "Para BC, forma de contribuir para o crescimento é sempre manter o foco na inflação", completou.

Campos Neto disse ainda que momentos de crescimento do PIB anteriores impulsionados por recursos públicos se mostraram "voos de galinha". "O que temos tentado fazer agora é uma reinvenção com recursos privados. O setor privado está investindo, mas temos uma contribuição negativa do governo. Por isso, o crescimento agora tem um vento contra por esse efeito de substituição, mas será um crescimento de qualidade superior e mais sustentável", enfatizou.

O presidente do BC disse ainda que a tensão comercial global vem mudando de forma e apontou que o risco de crescimento disseminado de tarifas não se concretizou. Campos Neto preferiu não fazer comentários sobre eventuais turbulências políticas do cenário doméstico.

Exterior

Campos Neto avaliou que o cenário externo ainda é benigno para as economias emergentes, com excesso de liquidez que deve fluir para esses mercados. Ainda assim, ele lembrou que diversas economias centrais e emergentes têm revisado suas projeções de crescimento para baixo. "A Europa fez uma nova projeção de crescimento para baixo, a China está crescendo menos", citou. "O cenário central no exterior segue benigno, mas 'risco de cauda' aumentou", completou.

Para o presidente do BC, esse 'risco de cauda' eleva a possibilidade de risco global, mas não chegou a afetar o balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom) devido aos demais fatores desse balanço. "O risco de cauda maior não significou ajuste em nosso percurso, porque há dimensão hiato (do produto) e dimensão de reformas", detalhou.

Campos Neto reforçou ainda que o BC também não faz uma projeção sobre a taxa neutra de juros para a economia, mas lembrou que a comunicação da autoridade monetária aponta os fatores em curso que podem levar a taxa estrutural a cair como, por exemplo, o avanço das reformas.

"Temos um conjunto de reformas, não só a da Previdência", enfatizou. "Não é nosso papel fazer projeção sobre avanço das reformas. Tivemos avanços em algumas reformas micro", completou.

Transmissão do câmbio para inflação

O presidente do BC disse também que a autoridade monetária não faz comentários ou projeções sobre a transmissão do câmbio para a inflação. "A depreciação mais recente do câmbio não veio acompanhada de aumento no prêmio de risco. Pelo contrário, o CDS continua em patamar baixo. Houve um ajuste do câmbio que foi um pouco diferente que o ajuste visto no passado", afirmou.

Segundo Campos Neto, parte importante desse movimento do câmbio foi global. "Houve um movimento de emissores pagando dívidas fora e contraindo dívidas no Brasil, e estamos monitorando esse movimento. Trabalhamos o com câmbio flutuante", completou.

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana de Carvalho, apontou que o IC-Br de agosto mostrou que parte do efeito da alta do dólar sobre a inflação pode ser compensada pela redução dos preços de algumas commodities. "Estamos observando preços de commodities e do mercado internacional de modo geral", explicou.

Ele afirmou que o órgão regulador não tem nenhuma meta para a sua posição vendida de swaps cambiais. "Não temos nenhuma intenção de ter zero, US$ 10 bilhões, US$ 50 bilhões ou US$ 100 bilhões em swap. Nosso objetivo é fazer uma intervenção mais limpa possível, que atenda a demanda de forma mais direta possível e que gere o menor custo para o governo", explicou.

Depois que começou a fazer operações diárias, a posição vendida do BC em swap cambial se reduziu em US$ 13 bilhões, passando de US$ 68 bilhões para US$ 55 bilhões. Campos Neto destacou que não há nenhum "dogma" nem meta para a posição em swap. "Ao contrário podemos fazer movimento inverso se for necessário", acrescentou ele.

Campos Neto disse ainda que a disfuncionalidade no mercado melhorou após operações de venda de dólar à vista, mas que não é possível antecipar movimentos futuros. "É um tema que discutimos no dia a dia. Não dá para antecipar. Se percebemos, vamos atuar. Temos câmbio flutuante e nossa função é atender as disfunções", concluiu.

Campos Neto voltou a defender a criação de um sistema de assistência de liquidez entre as instituições financeiras, que possibilitaria a redução dos níveis de compulsório bancário no longo prazo. "Percebemos que o nosso sistema de assistência de liquidez pode ser aprimorado. Temos compulsório muito alto e temos estigma no mercado sobre demandar linhas em reais", afirmou. "Se pudéssemos precificar corretamente o crédito privado, poderíamos usar as linhas de crédito como colateral em momentos de crise de liquidez", completou.

Para ele, se esse instrumento se mostrar eficiente, o BC poderá trabalhar com um nível de depósitos compulsórios bem mais baixo.

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