Empresários estão mais otimistas com cenário econômico
Se em 2016 eles procuravam uma luz no fim do túnel, hoje a impressão é que a tão esperada saída da fase negra está mais próxima
EXAME Hoje
Publicado em 4 de agosto de 2017 às 12h18.
Última atualização em 7 de agosto de 2017 às 13h39.
No ano passado,após Michel Temer assumir a Presidência da República, empresários e executivos estavam esperançosos com as promessas feitas por sua festejada equipe econômica. Os dirigentes de empresas haviam recuperado o ânimo com o futuro do Brasil após o impeachment de Dilma Rousseff, mas mostravam-se ainda pessimistas com o desempenho da economia em 2016 — em plena recessão, o ano era dado como sem salvação. Esse foi o cenário detectado por uma sondagem da consultoria de gestão Betania Tanure Associados, feita para MELHORES E MAIORES . Agora, a BTA renovou a pesquisa com 331 empresários e executivos. De um ano para o outro, um número maior deles está otimista com a caminhada do Brasil no médio prazo. No horizonte mais próximo, se em 2016 eles procuravam uma luz no fim do túnel, hoje a impressão é que a tão esperada saída da fase negra está mais próxima.
Não é para menos que uma sensação de alívio — restrita ao campo econômico, é bom que se diga — já esteja se disseminando. Nos primeiros meses de 2017, a economia brasileira parou de encolher após oito trimestres consecutivos — nada menos do que dois anos completos — de baque sobre baque. Algum indicadores começaram a apresentar crescimento, e até no mercado de trabalho a sangria estancou. “O pior ficou para trás. Em 2015 e 2016, a demanda simplesmente sumiu. Neste ano, voltou a crescer”, afirma Rafael Guimarães, presidente da operação local da empresa de telecomunicações americana Hughes. Para os próximos dois anos, a proporção de otimistas subiu de 38% para 50%. Quando questionada sobre o período de quatro anos à frente, a maioria (78%) revela um alto grau de otimismo. Na política, a instabilidade tornou-se parte da paisagem, em 2018 vem uma eleição para a Presidência em 2018 que ainda está nebulosa. Por isso, muitos executivos admitem que precisam se envolver mais nas questões de governo para resolver os desafios do país.
A pesquisa também detectou uma mudança de perspectiva na gestão das empresas. Apesar de ainda apontarem a crise como um fator preponderante para os resultados dos negócios, os gestores passaram a indicar mais as próprias questões domésticas como causas de desempenho fraco. “Aumentou a consciência de que os problemas têm também um fator interno. Isso reduziu a reclamação em relação às crises política e econômica, que são reais”, diz a consultora Betania Tanure. “E as empresas voltaram a estudar como podem melhorar a performance.” O momento, então, é de melhorar a eficiência e deixar as operações no ponto para ser mais produtivas na próxima etapa de crescimento dos negócios. “As boas empresas usaram a crise para fazer a lição de casa”, diz Antonio Joaquim de Oliveira, presidente da fabricante de material de construção Duratex. “Apostamos num projeto de transformação cultural dentro da empresa para nos preparar e ser mais competitivos quando a economia voltar a crescer.”
Naturalmente, medidas convencionais para reduzir o efeito da recessão continuam sendo utilizadas. Nos últimos seis meses, fechamento de unidades, adiamento de investimentos e corte de empregos representaram 53% das ações das empresas, ante 60% em 2016. Agora alguma luz já surge quanto à retomada de projetos. “Em 2017, o orçamento para investimento foi muito conservador. Para o ano que vem, pretendemos aumentá-lo”, diz Arlindo Moura, presidente da V-Agro, uma das maiores produtoras de grãos do país. Para o futuro ser realmente melhor, é vital que essa intenção se materialize. Afinal, a taxa geral de investimento no Brasil caiu de 21% do produto interno bruto, em 2013, para 16,4% do PIB (e um PIB menor), em 2016. Quando perguntados sobre as ações para os próximos seis meses, houve um aumento de 39% para 47% na proporção de executivos que afirmam querer ampliar investimentos, diversificar negócios ou tentar fusões e aquisições. Um exemplo é o da MAN, fabricante alemã de caminhões, um setor que nos últimos anos experimentou no Brasil a sensação de uma montanha-russa — subiu ao seu mais alto nível na história há quatro anos, com 154 000 unidades vendidas, e depois rolou abaixo com velocidade, para um terço desse volume no ano passado. E, no entanto, a MAN está lançando um novo plano de investimento de 1,5 bilhão de reais até 2023. “Aumentamos em 50% os investimentos para os próximos cinco anos”, diz Roberto Côrtes, presidente da MAN. “O Brasil tem muito potencial.”
O ânimo com o médio prazo é reflexo da melhoria na gestão da economia. Desde o ano passado, o governo Temer tocou — ainda que com dificuldade — um ajuste fiscal e uma agenda de reformas estruturais. Foram aprovadas uma emenda constitucional que limita o gasto público à inflação do ano anterior e a reforma trabalhista — avaliada como positiva por 85% dos empresários e executivos consultados. Uma reforma da Previdência ainda pode sair, mesmo que aquém do projeto original. A inflação cedeu notavelmente e permitiu ao Banco Central baixar mais depressa a taxa básica de juro. Com isso, as preocupações dos executivos com a estabilidade macroeconômica arrefeceram. Quando questionados sobre os principais problemas que deveriam ser tratados como prioridade pelo governo, os entrevistados deixaram de apontar temas básicos, como a dívida pública e o crescimento do PIB. Questões como a redução da carga tributária, o combate à corrupção e a reforma política ganharam apoio.
Para os empresários, é consenso que as eleições presidenciais de 2018 são uma chance de varrer de vez a instabilidade política e econômica. Enquanto nomes fortes na pesquisa passada, como o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, perderam intenção de votos, o prefeito de São Paulo, João Doria — a grande novidade na cena política — foi escolhido o candidato de 35% dos entrevistados. Mas boa parte dos executivos ainda detecta um vácuo de liderança: quatro em cada dez declararam não ter uma opção para presidir o Brasil. A ausência de alguém que guie o processo político se reflete na forma como eles avaliam seu papel de exercer influência no governo para superar os desafios do país. Mais de 60% dos gestores de negócios afirmam não ser protagonistas nesse quesito. “É hora de os empresários assumirem esse papel de auxiliar na política”, diz Alexandre Colombo, sócio da fabricante de biscoitos Piraquê. “Ou fazemos algo em 2018, ou não podemos reclamar dos rumos do Brasil.”