Economia

Maior paralisação fabril desde Segunda Guerra afeta Europa e EUA

Paralisação industrial na China reverberou pelas cadeias de suprimentos no início do ano, contribuindo para uma possível recessão global

Fifth Avenue, em Nova York, EUA: gigantes do varejo fecham em meio a surto de coronavírus
 (Gabby Jones/Bloomberg)

Fifth Avenue, em Nova York, EUA: gigantes do varejo fecham em meio a surto de coronavírus (Gabby Jones/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 21 de março de 2020 às 09h00.

Última atualização em 21 de março de 2020 às 09h00.

O impacto econômico do crescente surto de coronavírus começa a desviar de segmentos em serviços, como hotéis e restaurantes, para o setor de manufatura em ambos os lados do Atlântico, o que leva ao fechamento sincronizado da indústria pesada. Para historiadores e especialistas, a paralisação é diferente de qualquer outra desde a década de 1940.

Montadoras dos Estados Unidos e Europa têm desativado fábricas em resposta à crise, em linha com a paralisação industrial na China que reverberou pelas cadeias de suprimentos globais no início deste ano e contribuiu para uma possível recessão global.

Também pode justificar a declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, na quarta-feira, de que agora é um “presidente de guerra” na luta contra um “inimigo invisível” no vírus.

Entre as medidas de Trump está sua autorização sob a Lei de Defesa da Produção, estabelecida na época da Guerra da Coreia, para permitir que o governo direcionasse a capacidade industrial. Larry Kudlow, seu principal assessor econômico, disse em entrevista à Fox News que o governo já discute com a General Motors e outras montadoras a produção de ventiladores vitais para o tratamento de pessoas afetadas pelo vírus.

Transformação industrial

Tal medida para reequipar e mudar a produção drasticamente ecoaria a transformação industrial vista na década de 1940, quando fábricas deixaram de produzir bens de consumo, como carros, para fabricar tanques e armas para a guerra nos dois lados do Atlântico.

Mas, desde então, especialistas não se lembram de uma paralisação sincronizada semelhante em uma parcela tão grande da indústria automobilística global. Os fechamentos na Europa e nos EUA anunciados nesta semana seguem os impactos registrados em outros grandes países produtores como China, Japão e Coreia do Sul.

“Não sei se existe um análogo na história recente. A Segunda Guerra Mundial pode ser a melhor analogia”, disse Kristin Dziczek, chefe de pesquisa do Centro de Pesquisa Automotiva em Ann Arbor, Michigan. “Todas montadoras? Todas as regiões do mundo? Acho que isso nunca aconteceu.”

Paralelo

Timothy Guinnane, historiador econômico da Universidade Yale, argumenta que o melhor paralelo pode ser o período depois do fim da guerra em 1945, especificamente na Alemanha pós-guerra, “onde o país inteiro parou por alguns meses”.

Guinnane argumenta que a paralisação já em andamento na Europa e nos EUA segue um exemplo encorajador da China, onde a vida começa a voltar ao normal após seis semanas de bloqueio. Além disso, disse, não está claro - ainda - que haverá danos mais duradouros à economia dos EUA.

“Se você fizer um aceno e se livrar do vírus amanhã, voltaremos ao normal em uma semana”, disse Guinnane. “Portanto, não é como uma guerra.”

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