Lula adia nova âncora para discutir alta de gastos com saúde e educação
Presidente disse ontem que governo não vai ter "pressa" e que anúncio só deve acontecer depois do seu retorno da China
Agência de notícias
Publicado em 22 de março de 2023 às 07h38.
Última atualização em 22 de março de 2023 às 07h45.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou a divulgação da âncora fiscal que vai substituir o atual teto de gastos para definir, antes, o tamanho do aumento nos gastos com saúde e educação. Os técnicos do governo estão fazendo as contas com base na vinculação de recursos prevista na Constituição para as duas áreas e o reforço que pode ser feito a partir da nova regra.
Lula disse ontem queo governo não vai ter "pressa" para apresentar a nova regra, e que um anúncio só deve acontecer depois do seu retorno da China - contrariando a expectativa inicial da equipe econômica. A viagem presidencial ocorre de 26 a 31 de março.
- Luisa Stefani cai na chave de duplas do Masters 1000 de Indian Wells
- Assista ao vivo: acompanhe a entrevista do Lula na TV 247
- Entenda a PEC que irá limitar os militares da ativa política
- Lula participa de reunião sobre aumento da mistura de biodiesel no diesel nesta sexta-feira
- China impulsiona desenvolvimento em zonas fronteiriças e transfronteiriças
- Inundações em região atingida por terremoto na Turquia deixam ao menos 14 mortos
Depois da declaração de Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou em apresentar a proposta "por ocasião da remessa" do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 para o Congresso. O prazo legal para o envio do PLDO é até 15 de abril.
Entenda o histórico
Após a entrada em vigor do teto de gastos, em 2017, os pisos da saúde e da educação previstos na Constituição foram, na prática, congelados e passaram a ser corrigidos anualmente pela variação da inflação.
Como o teto vai acabar com o novo regime fiscal, os pisos - que representam a aplicação mínima em investimentos nas duas áreas - voltam a valer. O piso de saúde está estabelecido em 15% da chamada receita corrente líquida (RCL), enquanto o da educação chega a 18% da receita de impostos.
Integrantes do governo Lula consideram que a regra do teto prejudicou as áreas de saúde e educação. O que se discute agora, segundo um técnico da área econômica, é como repor esses recursos para fazer a transição entre os dois regimes de controle de gastos públicos.
Os pisos só podem ser alterados por meio de aprovação de uma nova Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Já o teto de gastos será revogado por meio de uma lei complementar porque a PEC da Transição, aprovada no fim do ano passado, deu um comando constitucional para fazer a mudança por legislação infraconstitucional.
Senha
Nos últimos dias, o presidente Lula tem dado a senha para essa discussão no governo. Ontem, ele disse que é preciso ter cuidado para não faltar recursos para saúde e educação ao falar sobre o novo arcabouço fiscal . Um dia antes, havia afirmado que os recursos destinados à saúde não podem ser classificados como "gastos" e que é preciso mudar a compreensão sobre os conceitos de custos, gastos e investimentos.
"Nós precisamos arejar nossa cabeça. Os cursos de Economia daqui para frente precisam mudar o que é custo, o que é gasto e o que é investimento. Porque não tem nada mais precioso do que investir para que uma pessoa pobre possa comer três vezes ao dia", disse Lula, durante o evento de lançamento do novo Mais Médicos, na segunda-feira.
Há uma discussão no governo sobre se esses pisos deveriam migrar depois para um modelo de vinculação a indicadores per capita para não ficarem sujeitos à flutuação de receitas do ciclo econômico (ou seja, ter muito recurso quando a economia vai bem, mas enfrentar problemas em momentos de crise). O entendimento é de que não faria sentido, por exemplo, diminuir o tamanho do SUS num momento de dificuldade econômica, quando a receita cai.
Haddad chegou a cogitar desistir de viajar para China na comitiva do presidente Lula para anunciar o novo arcabouço e explicar os seus detalhes. Mas o presidente disse que a presença de Haddad na viagem seria importante.
"Eu falei para o Haddad: 'Olha, nós não temos de indicar o nosso modelo de marco fiscal agora. Nós vamos viajar para China, quando a gente voltar, Haddad, você reúne, sabe", disse Lula. "O Haddad não pode comunicar e sair. Haddad tem de anunciar e ficar aqui para debater, defender, dar entrevista, conversar. O que não dá é a gente avisar e ir embora", continuou.
Aprovação
Integrantes da área econômica afirmam queo desenho das novas regras está aprovado "por todo mundo", faltando a definição do tratamento dos recursos para saúde e educação. Também existe debate se o novo arcabouço fiscal deve sair junto com o marco legal das Parcerias Público-Privadas (PPPs).
Como antecipou o Estadão, o projeto das PPPs está pronto. A avaliação da equipe econômica é de que esse é um marco regulatório que pode destravar investimentos. No cronograma inicial do Ministério da Fazenda, o projeto das PPPs seria anunciado só depois do novo arcabouço fiscal, mas há a possibilidade de ser antecipado. A razão é que há uma preocupação no governo em alavancar a economia.
PP ficará com relatório do arcabouço na Câmara
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), confirmou nesta terça-feira, 21, que a relatoria do arcabouço fiscal ficará com um deputado de seu partido, como adiantou o Broadcast Político na última quinta-feira, 16.
Lira disse que pensou em dar a relatoria ao União Brasil, mas que o fracasso das negociações entre os dois partidos para formar uma federação eliminou essa possibilidade. O presidente da Câmara afirmou que o nome do parlamentar do PP que vai relatar a proposta ainda não foi decidido.