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Linha branca tem pior desempenho dos últimos 10 anos

Levantamento mostra que, entre abril e junho, as vendas industriais da linha branca caíram 20% na comparação anual

Linha branca: fabricantes fazem de tudo para adequar a produção ao menor ritmo no varejo (Leonardo Wen / VOCÊ S/A)
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Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2014 às 09h19.

São Paulo - Afetados pelo ritmo mais lento de crescimento da economia e pelo impacto negativo da Copa do Mundo que drenou a renda do brasileiro para a compra de TVs , os fabricantes de fogões, geladeiras e lavadoras fecharam o primeiro semestre com o pior desempenho de vendas dos últimos dez anos.

De janeiro a junho, o número de eletrodomésticos comercializados da indústria para o comércio caiu 12% na comparação com o mesmo período de 2013.

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O resultado do semestre foi influenciado especialmente pelo forte recuo no segundo trimestre. Levantamento da Eletros, associação que reúne a indústria do setor, mostra que, entre abril e junho, as vendas industriais da linha branca caíram 20% na comparação anual.

O baixo astral do setor prevalece, apesar da ajuda do governo para impulsionar as vendas. Os eletrodomésticos continuam com Imposto sobre Produtos Industrializados ( IPI ) reduzido, benefício que começou na crise de 2009.

Os itens também fazem parte do programa Minha Casa Melhor, que dá crédito facilitado de R$ 5 mil para equipar a casa a quem adquiriu imóvel no programa.

Preocupados com a queda nas vendas e o aumento dos estoques, os fabricantes fazem de tudo para adequar a produção ao menor ritmo de negócios no varejo.

Deram férias coletivas, não repuseram as vagas dos trabalhadores que pediram demissão e suspenderam temporariamente o contrato de trabalho (lay-off), seguindo o exemplo da indústria automobilística.

Mesmo assim, o número de empresas com produtos encalhados não para de crescer. Em julho, por exemplo, a fatia de indústrias do setor mecânico, onde se enquadram os fabricantes de eletrodomésticos e máquinas, com estoques excessivos foi de 16,7%, segundo a sondagem industrial da Fundação Getulio Vargas. Em junho, essa parcela tinha sido de 16,2%.

"Foi o pior primeiro semestre dos últimos dez anos", disse Armando Valle, vice-presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Whirlpool Latin America , maior fabricante do setor e dona das marcas Brastemp e Consul .

Para o presidente da Eletros, Lourival Kiçula, a queda no trimestre foi maior do que se esperava.

Segundo Valle, na crise de 2009 a queda nas vendas não foi tão forte quanto a atual porque a redução do IPI ajudou. Agora, observa, o corte da alíquota do imposto é menor em relação ao daquela época. No caso de lavadoras, o IPI hoje está em 10%, ante 5% em 2009. O IPI normal de lavadoras é de 20%.

Kiçula atribui o resultado ruim ao cenário econômico mais complicado, com o acesso ao crédito mais difícil e mais caro. Ele não arrisca fazer projeções para o ano.

Já Valle acredita numa recuperação a partir de agosto e num segundo semestre estável em relação ao mesmo período de 2013.

Se a projeção se confirmar, o ano fechará com queda entre 7% e 8% nas vendas industriais. "Esse resultado não seria um desastre, mas razoável", diz Valle. A linha branca encerrou 2013 com retração de 5% nas vendas.

Emprego

Com negócios em baixa no segundo trimestre, cenário que persistiu em julho, as indústrias pisaram no freio. O primeiro reflexo dessa decisão apareceu no emprego.

Entre abril e junho, o saldo de geração de postos formais de trabalho da indústria mecânica, que engloba a linha branca, foi negativo em 15,2 mil vagas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. No primeiro trimestre, o saldo de vagas foi positivo, com 13,5 mil vagas.

Além de demitir, as empresas do setor adotaram o lay-off. Erick Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos e Região (SP), conta que a Electrolux suspendeu temporariamente o contrato de trabalho de 120 trabalhadores, a partir de 7 de julho, onde está a fábrica de lavadoras e fogões.

"Foi a primeira vez que negociamos lay-off na linha branca", diz o sindicalista, destacando que foi uma medida para preservar empregos. Em junho, a empresa já tinha dado férias coletivas a 4,6 mil funcionários nas três fábricas. Procurada, a empresa não comentou o lay-off.

Também em junho, a Whirlpool deu férias coletivas a 5 mil trabalhadores. "Não descartamos a possibilidade de novas férias coletivas e de fazermos lay-off neste semestre", diz Vale, vice-presidente da empresa.

Ele conta que, nos últimos meses, a companhia não repôs as vagas dos que pediram demissão. Com isso, foram enxugadas entre 300 e 500 vagas.

"O cenário é preocupante. As empresas estão demitindo aos poucos", diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Itu e Região, Dorival Jesus do Nascimento. Depois que a mexicana Mabe, desde maio em recuperação judicial, fechou no ano passado a fábrica de Itu, restaram na cidade as indústrias de componentes.

Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, Jair dos Santos, que responde pela área onde estão as duas outras fábricas da Mabe , Hortolândia e Campinas, em São Paulo, a empresa diz que tem 200 funcionários excedentes, parte deles em casa em licença remunerada. "Recentemente, houve 80 demissões na empresa." Procurada, a Mabe não comenta a situação.

Santos atribui o corte ao ajuste pelo qual passa a empresa em razão da recuperação judicial. Ele acredita que a redução na linha branca é um movimento normal para o período por causa do inverno.

Para ele, a chiadeira dos empresários está ligada às negociações salariais, com data-base em 1.º de setembro.

Neste ano, o pleito é de aumento de 5,69%, descontada a inflação. Em 2013, os trabalhadores conseguiram reajuste real de 2%.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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