Economia

Levy se rende à realidade conforme recessão drena superávit

A proposta do ministro da Fazenda de reduzir a meta de superávit primário reflete a dura realidade de que a retração econômica forçou o governo a recuar

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante coletiva para falar da redução da meta de superávit primário (Marcello Casal Jr/ABr)

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante coletiva para falar da redução da meta de superávit primário (Marcello Casal Jr/ABr)

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Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2015 às 16h45.

A proposta do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de reduzir a meta de poupança do Brasil reflete a dura realidade de que a retração econômica forçou o governo a recuar em sua ambição de promover a austeridade fiscal.

Levy disse que está mirando um superávit primário, que exclui os pagamentos de juros, equivalente a 0,15 por cento do produto interno bruto deste ano, uma redução aguda em relação à meta original de 1,1 por cento.

Ele congelará mais R$ 8,6 bilhões (US$ 2,7 bilhões) em gastos para cumprir a nova meta.

“O objetivo é diminuir a incerteza da economia ao informarmos uma meta que nós consideramos alcançável, adequada, segura diante do cenário que vivemos”, disse a repórteres o ministro apelidado de Mãos de Tesoura por sua propensão a cortar gastos.

Levy está tendo dificuldades para reduzir os gastos e aumentar a receita do governo.

Os parlamentares estão se rebelando contra as medidas de austeridade fiscal em meio ao desemprego crescente e à queda na popularidade da presidente.

E com pouco mais de seis meses no cargo, o ministro corre o risco de perder o suado status de grau de investimento do Brasil sob sua supervisão.

“Se a tendência atual piorar, eles serão colocados abaixo do grau de investimento” em 2016, disse Kathryn Rooney Vera, estrategista macroeconômica na Bulltick Capital Markets, por telefone. “Por qualquer ângulo que você olhar essa é uma situação que está ficando cada vez mais feia”.

Desvalorização do real

O Ibovespa caiu e o real teve a maior desvalorização entre as moedas de mercados emergentes na última quarta-feira depois que reportagens na imprensa anteciparam o anúncio de Levy, feito após o fechamento do mercado.

Em março do ano passado, a Standard Poor’s reduziu o rating de crédito do Brasil para um nível acima de junk. A Moody’s Investors Service seguiu a tendência, seis meses depois, reduzindo a perspectiva do rating Baa2 para negativa.

Este é o segundo mais baixo grau de investimento.

Ambas as agências de classificação disseram que a piora das contas fiscais e o crescimento vacilante motivaram suas decisões. De lá para cá, a situação do Brasil piorou.

O déficit antes do pagamento de juros em 12 meses aumentou para 0,7 por cento do PIB em maio e o Ministério do Orçamento disse na quarta-feira que a economia terá uma retração de 1,49 por cento em 2015 -- maior do que a projeção anterior.

Baixa recorde

A crise empurrou o índice de aprovação da presidente Dilma Rousseff para uma mínima recorde, tornando cada vez mais difícil impor projetos de lei de austeridade no Congresso.

Os parlamentares entraram em recesso na semana passada sem votar uma lei que elevaria a receita criando incentivos para que os brasileiros paguem um imposto e repatriem dinheiro.

O Senado atrasou a votação de uma proposta para aumentar os impostos sobre as receitas corporativas.

O senador Aécio Neves, líder da oposição e candidato derrotado na eleição presidencial do ano passado, criticou o governo na quarta-feira, escrevendo em sua página no Facebook que as mudanças na meta fiscal refletem uma “incapacidade” para cumprir promessas.

Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora de Câmbio, em São Paulo, mostrou-se mais otimista em relação ao governo, dizendo que a promessa de quarta-feira de reduzir os gastos mostra um compromisso com a disciplina fiscal.

“Este é um ponto positivo”, disse ele.

Contudo, com o anúncio de quarta-feira, Levy está se dando pouco espaço para erros caso queira alcançar alguma economia orçamentária neste ano.

“A meta já é muito baixa e o esforço fiscal está avançando muito lentamente, mas o apoio político e institucional para o ajuste é oscilante”, disse Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs Group Inc. para a América Latina, por telefone. “O espaço de manobra é praticamente inexistente”.

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