Xisto: estudo da AIE estima reservas de gás não convencional da ordem de 7 trilhões de m³ no Brasil (Matthew Lloyd/ Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 9 de janeiro de 2014 às 19h14.
São Paulo – Um processo feito sem grande publicidade deve colocar o Brasil rumo a uma nova e polêmica fronteira energética, vetada em países como Fraça e Bulgária: a exploração do chamado gás de xisto. Sem ter ainda regulações definidas para extração dessa nova fonte, o país vai licitar áreas com potencial para o gás não convencional em um leilão específico de reservas de gás natural em terra, marcado para os dias 28 e 29 de novembro.
Na 12ª Rodada de Licitações da ANP, serão ofertados 240 blocos exploratórios terrestres com potencial para gás natural em sete bacias sedimentares, localizados nos estados do Amazonas, Acre, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Piauí, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Maranhão, Paraná, São Paulo, totalizando 168.348,42 Km². Além do gás convencional, o país espera desenvolver o potencial do gás de xisto.
Diferentemente do convencional, que como o petróleo localiza-se em estruturas geológicas e nichos específicos das bacias sedimentares, o gás de xisto encontra-se dentro de rochas, que precisam ser quebradas para garantir a exploração. A técnica de extração do gás não convencional, chamada de faturação hidráulica, consiste na injeção de toneladas de água misturadas a produtos químicos para gerar fraturas na rocha.
Toda a água usada no processo de extração retorna à superfície, poluída por hidrocarbonetos e por outros compostos e metais presentes na rocha e pelo próprios aditivos químicos. Por comprometer um recurso ambiental tão precioso, a água, cuja purificação exige técnicas caríssimas, esta técnica é alvo constante de criticas de ambientalistas, que argumentam ainda que o “fracking” pode ocasionar vazamentos e contaminação de aquíferos de água doce que ocorrem acima do xisto.
Nos Estados Unidos, onde a fonte vem gerando uma verdadeira revolução energética (um processo que começou há dez anos), há relatos de que a extração de gás xisto pode ainda influenciar a ocorrência de tremores de terra.
Além da falta de regulação, estudos sobre riscos são escassos
O leilão que ocorre nesta quinta-feira se desenrola num contexto também nada convencional. A busca pelo gás de xisto no território brasileiro vai ser inaugurada sem que existam ainda uma legislação ou marco regulatório claro sobre como as explorações devem ocorrer.
Além disso, para a comunidade científica, o país ainda carece de estudos aprofundados sobre os riscos socioambientais da extração de gás não convencional. Ontem, organizações técnicas e profissionais ligadas às áreas de meio ambiente e de serviços de água e saneamento protocolaram, na Presidência da República, uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff solicitando a retirada da exploração de gás não convencional do edital da 12ª Rodada de Licitações.
Com o certame, o governo espera aumentar a oferta de gás no país e, consequentemente, a redução do preço dessa energia. Segundo a ANP, as empresas que vencerem a 12ª rodada de exploração de petróleo deverão cumprir exigências de pesquisas do gás não convencional, com o objetivo de disponibilizar as informações para que o governo possa mapear o potencial do reservatório.
Um estudo feito Agência Internacional de Energia estima que o Brasil tenha reservas de gás de xisto da ordem de 7 trilhões de m³ de em bacias geológicas do Parnaíba, Solimões e Amazonas, do Recôncavo, São Francisco e no Paraná.